Era uma vez dois irmãos chamados William e Jacob Grimm, eles são os responsáveis pelas maiores fábulas e contos de fadas que o mundo já ouviu. Aliás, quem nunca se encantou, ouvindo ou lendo, as histórias fantasiosas da Chapeuzinho Vermelho, de João e Maria e a casa de doces ou da Rapunzel e seus cabelos muito compridos? Exatamente por tratar de um tema mundial, a premissa de Os Irmãos Grimm é interessantíssima: A história acompanha os irmãos Grimm que, antes de serem ‘contadores’ de contos de fadas eram farsantes que forjavam assombrações em diversos vilarejos, apenas para mais tarde livrar o povo da maldição e receber uma boa quantia em dinheiro. Assim, as coisas ficam complicadas quando os dois acabam se deparando com uma maldição de verdade, que envolve uma rainha/bruxa, um lobisomem, crianças desaparecidas, e claro, todos aqueles elementos fantasiosos dos contos dos irmãos.
O primeiro grande acerto de Os Irmãos Grimm se reside na forma em que o roteiro, escrito pelo ora ótimo (A Chave Mestra) ora ruim (Pânico 3) Ehren Kruger, faz um apanhado geral das clássicas histórias que passam de geração em geração e nunca envelhecem: Temos uma menina que usa um capuz vermelho que some por causa de um lobo, dois irmãos perdidos na floresta que usam uma trilha de migalhas de pão para marcarem o caminho para casa, e uma mulher presa numa torre apenas com uma entrada – a janela no topo – com longuíssimos cabelos. E é excelente conseguir identificar todas as referências – até mesmo as mais sutis delas – e ainda ficar interessado na história principal. Em contrapartida a esta forte característica no roteiro, somos obrigados a acompanhar uma trama central completamente desinteressante: É claro que quando os Irmãos Grimm dão pequenas dicas sobre seu futuro o longa é muito bem sucedido e divertidíssimo, por outro lado, quando o script tenta seguir um caminho próprio usando uma história original ele falha terrivelmente. Não que a história em si seja ruim, muito pelo contrário, ela é inteligente ao montar o mistério e aos poucos encaixar os personagens já apresentados dentro dela, porém, a forma com que ela é contada não é nada convincente ou divertida.
A culpa disto acontecer é do diretor Terry Gilliam, que jamais dá qualquer sinal de grandiosidade ao longa, o que era necessário afinal estamos falando sobre os mundialmente conhecidos irmãos Grimm. Felizmente, a direção não causa mais problemas por causa da direção de arte interessante – não é grandiosa como deveria, mas encaixa no filme -, os figurinos convincentes e os cenários realistas, e por isso, Gilliam consegue criar e desenvolver um mundo de fábulas interessante e realmente intrigante, portanto, é uma pena que a história não faça jus ao universo criado pelo cineasta.
Por outro lado os efeitos especiais presentes no filme são péssimos – em alguns momentos até ultrapassam disso -, falhando em todas as tarefas estabelecidas pela ambição do filme, desde momentos menores - como quando um lenço começa a voar pela floresta, ou quando os irmãos, já dentro da torre, começam a flutuar no ar, e até mesmo durante um ataque da floresta aos franceses – até em tarefas que exigiam um pouco mais de cuidado e dedicação da equipe de computação gráfica – o lobo que surge diversas vezes é patético, assim como o momento em que uma espécie de lama saí de dentro de um poço, se transforma em um boneco sorridente e captura uma menina da vila -, e consequentemente todos essas tomas que incluem alguma espécie de efeito visual acabam falhando em seu objetivo. É lamentável, portanto, que o filme apresente um gravíssimo problema de tom (mais uma vez causado pela direção estranha): Mesmo apostando em universo fantasioso e repleto de seres mágicos, o filme jamais se entrega completamente ao seu lado mágico, já que a fotografia é crua e os cenários realísticos demais, assim, quando assistimos alguns segundos dentro do espelho da bruxa sentimos algo estranho e ótimo: a fotografia aposta em cores quentes e que ornam muito mais com o roteiro, infelizmente essa cena dura poucos instantes. E como se isso não bastasse, o diretor tenta dar um clima mais sinistro ao filme, algo que é completamente frustrado já que sua direção de arte nunca aposta em algo mais assustador.
Inteligente e interessante quando se preocupa com o desenvolvimento dos personagens, o roteiro consegue apresentar uma galeria de figuras das mais instigantes, não só os próprios irmãos principais, como também de Angelika que se torna uma mocinha da mais incríveis: Nunca cedendo para a clássica mocinha em perigo, a personagem tem um retrato bem resolvido pelo script, é uma pena que Lena Headey não seja uma atriz tão interessante assim. É uma pena, que o resto dos coadjuvantes sejam tão bobos e sem espírito, isso incluí a atuação de Jonathan Pryce e Peter Stormare. Por outro lado, a forma com que Matt Damon e Heath Ledger encarnam os irmãos Grimm é simplesmente espetacular, aprofundando o relacionamento dos dois e ainda dando uma personalidade complexa para cada um deles.
Mesmo cometendo vários pecados imperdoáveis, Os Irmãos Grimm passa longe de ser um filme insuportável, ele é apenas uma ideia que não foi tão bem executada, mas se você esquecer os defeitos e relaxar aposto que terá uma experiência divertida, sem compromisso e inofensiva ao seu cérebro.
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