O REENCONTRO DA TURMA DE 80
Mesmo com todas as críticas possíveis sofridas pelo primeiro Os Mercenários, Sylvester Stallone demonstrou o quão inteligente é ao perceber a real importância e o real objetivo daquele projeto: ser um grande laboratório para uma das mais ousadas experiências cinematográficas de todos os tempos. Um tubo de ensaio para a maior concentração de testosterona já vista na história. Mesmo tratando-se de um filme experimental (sim, experimental) a semente já havia sido lançada e em Os Mercenários 2, era chegada a hora de colher os frutos.
E a inteligência demonstrada por Sly a qual eu me referi logo acima já se dá no fato de, ao compreender que estrelar, roteirizar e comandar uma obra desse porte poderia ser demais para um homem só (mesmo tratando-se do mentor da coisa), entregou a direção para o se não brilhante, competente e já relativamente experiente Simon West (A Filha do General; Con Air), que sabe muito bem o que o público alvo quer: ação desenfreada, violência em doses oitentistas, muitas referências aos astros envolvidos e, principalmente e acima de tudo, matar a saudade dos heróis à moda antiga.
E West não perde tempo. O filme já abre com uma cena de resgate explosiva de tirar o fôlego e em pouquíssimos minutos já é lançada a primeira referência a O Exterminador do Futuro. Ali, naquele momento exato, West e Stallone nos mandam o seguinte recado: “não leve nada disso à serio, apenas relaxe e divirta-se como há 30 anos”. E de uma maneira incrível, compramos essa idéia e embarcamos nessa viagem de pouco mais de 90 minutos e nos deliciamos com ótimas piadas sobre a formação em Física Nuclear e Engenharia Química de Dolph Lundgren (que também é faixa preta em Karate Kyokushin, considerada a arte marcial mais brutal de todas), sobre a baixa estatura de Jason Statham, as orelhas de Randy Couture (3 vezes campeão do UFC), sobre o característico e estiloso chute de Jean Claude Van-Damme, a clássica frase “I’ll be back” de Arnold Schwarzenegger e um momento “Chuck Norris Facts” em uma das entradas mais épicas e engraçadas que eu já vi em sei lá quantos anos (com direito ao magistral tema de “The Good, The Bad and The Ugly”, clássico de Sergio Leone, composto por Ennio Morricone) entre tantas outras que me fogem à memória neste momento, mas que funcionam perfeitamente quase que em sua totalidade – se não em sua totalidade.
Com tantos amigos medalhões reunidos referendado uns aos outros, alguns aspirantes que ainda buscam seu lugar ao sol dentro do gênero, como Liam Hemsworth (o irmão menos famoso e menos carismático do Thor) e Scott Adkins (de Soldado Universal 4) têm uma oportunidade de ouro para pegar carona no apelo popular dessa turma e desempenhar seus papéis – importantes, embora pequenos – com naturalidade e sem muita responsabilidade e buscar algo mais consistente em suas carreiras (já que Soldado Universal será sempre da dupla Van-Damme/Lundgren e filmes como Jogos Vorazes não levarão Hemsworth a lugar algum). Mas este não é um filme para promover ninguém. É uma celebração aos maiores astros que o cinema de ação já conheceu. Portanto, por mais que Terry Crews e Jet Li tenham lá seus momentos e, os fãs de Van-Damme e Chuck Norris que me desculpem, mas é quando a câmera enquadra Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis que nós, pertencentes a uma geração representada por uma letra qualquer entre o X e o Y, quase temos um orgasmo de tanta euforia. É como se assistíssemos um concerto com Elvis, Beatles e Rolling Stones no mesmo palco. Ou uma partida de futebol com Pelé, Maradona e Cruyjff no mesmo time. Ou Ali, Tyson e Suggar Ray no mesmo ringue.
Os Mercenários 2 é muito mais do que apenas um filme. É o reencontro de uma turma composta pelos maiores ícones do gênero na história do cinema. É uma bandeira fincada no topo de uma montanha erguida e sustentada a duras penas pelos pilares que o estrelam. Os Mercenários sabem rir deles mesmos, pois os astros incorporam e divertem-se com suas personas folclóricas. Panela velha ainda é aquela que faz a melhor comida e Simon West carrega no tempero, sabendo dosar na medida certa o tempo de cada figura e a hora certa de cada uma entrar e/ou sair de cera. E nesse prato recheado de easter eggs, sejam eles menos ou mais evidentes, só prova que não importa o quanto estes astros deixaram de se reciclar ou de se reinventar, tampouco como eles fizeram para chegar a tal forma no auge de seus sessenta e tantos anos e muito menos se seu status corresponde a um merecimento por talento dramático ou não, há de se respeitar o currículo dos caras e sua bagagem. Não foi fácil para eles chegarem até ali e eles sabem disso e agora só querem comemorar.
Também por isso, mas não só por isso, Brian Tyler foi perfeito ao encerrar o filme com o clássico do Rock “I Just Want To Celebrate”. Afinal eles merecem. E como diz o personagem de Jason Statham, em mais de uma oportunidade: “Nada como um clássico!”.
Muito bom o filme, assisti no cinema, e a cena de Sly, Willys e Schwarzenegger juntos já é antológica!!!
Esse é tipo de filme que falta hoje em dia, Marcos, que respeita seus envolvidos - e nós também - sem se levar a serio demais!