Kidman é uma atriz rara, daquelas que conseguem brilhantemente emplacar um trabalho notório atrás do outro, sendo com grande merecimento apontado como uma das maiores estrelas deste cinema moderno, mesmo que de uns anos pra cá, não tenha tido o sucesso que sempre conquistou outrora. Em Os Outros surpreende mais uma vez com uma atuação iluminada, respaldada em um talento que impressiona pelo detalhamento maravilhoso de cada olhar, gesto ou diálogo em que apresenta ao longo da película. Sua atuação é profunda, não se estagnando em apenas superficialidades, avançado mais fundo a cada frame da produção, sendo acompanhada lado a lado por um suspense de roer as unhas do telespectador, que se mostra completamente imóvel e capturado por uma trama deliciosamente interessante e envolvente. O belíssimo trabalho de montagem contribui para conferir ao filme uma alma cada vez mais rara de se encontrar em filmes do gênero, sem contar a personalidade digna de parabéns em muitas passagens, vindas de um diretor que não brinca em serviço quando o assunto é surpreender e sufocar.
A história de Os Outros pode ser considerada pouco inovadora, pois basta ler a sinopse do filme para notarmos que tais tramas puderam ser conferidas em dezenas de outros modelos do gênero. Porém o que muitos ficarão surpresos é com a quantidade de gratas qualidades que se ascendem a cada tomada, fazendo que a cada instante em que o suspense aumente, as dúvidas do público entram em conflitam com fatos apresentados anteriormente, em uma jogada brilhante orquestrada pelo diretor. A história se desenrola sem pressa, apresentando alguns sustos aqui e ali, até a chegada de um momento em que o telespectador não se agüentará de tantas perguntas, pois o que vemos em tela, é o oposto que todos imaginariam presenciar, em muitas reviravoltas sensacionais que irá deixar a projeção pegando fogo, bem como quem está assistindo, sem fôlego para tantas surpresas. Quando se é jogado em nossas caras as revelações mais improváveis em torno do mistério que ronda a velha casa e seus moradores, atônitos acompanhamos um encerramento não muito comum, onde valores e perspectivas são invertidos e com isso, o entretenimento genuíno de um suspense acima da média, ganha contornos ainda maiores e mais fortes.
Quando a personagem de Kidman se pega proibida de sair das redondezas do local, encontrando em seguida seu esposo, o público rapidamente sugere um importante fato que mudaria os rumos da história, o que de fato se mostra inevitável após passagens tão evidentes, só que o que pega todos de surpresa é o acréscimo de mais um trio de personagens de suma importância para compreendermos ao final, momentos antes deixados em lacunas. Temos Grace e seus filhos, além do trio de serviçais, mas não se reservando apenas isto, o diretor ainda insere muitas surpresas que com certeza balançarão o público. Assim que se realiza uma já esperada revelação dentro do filme, acreditava que o filme se tornaria o velho clichê do gênero, um joguinho de esconde e esconde que não leva a lugar algum, deixando frustrados aqueles que desejavam uma continuação das belíssimas montagens de antes (vide Amigo Oculto, que consegue se perder após uma excelente metade de projeção), mas o que ocorre é o inverso, apresentando não apenas estas revelações, mas como outras ainda mais essenciais para o entendimento pleno da trama.
Não se engane pelo título ou sinopse, pois o conteúdo de os Outros realmente é surpreendente dentro dos padrões do gênero, em um trabalho acima da média de um diretor que conseguiu reunir grandes idéias, e juntá-las com perfeição ao final, sem deixar que o ritmo ou desmembramento dos fatos caíssem em clichês baratos e rotineiros. Kidman é uma das grandes responsáveis pela empatia que construímos ao longo da projeção, em relação aos personagens, que a cada minuto, as perspectivas vão se alterando formando um magnífico jogo hipnótico que deixará todos grudados na poltrona, aflitos. Os elementos técnicos do filme também devem receber os créditos pela qualidade alcançada aqui, como a bela e complicada fotografia, levando em consideração que se têm pouquíssimas cenas externas. Edição e trilha caminham ladeados na intenção de surpreender o público, o que culmina em bons sustos através de grandes trabalhos executados pelos astros, e acima de tudo, pela personalidade do diretor em compor e desenvolver cada cena. Recomendado para quem deseja assistir um ótimo filme que a respira mistério, estando mergulhado em muito suspense e arrepios de primeira linha.
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