Primeira ação do filme é deixar um recado ao espectador. Recado direto, verbal. Aquela é uma região sem regras, não se vence pela moral e pelo respeito, não há salvação ali, homens bons tem curto prazo de validade. A primeira imagem acompanha o tom pessimista e niilista dos primeiros argumentos, uma cidade suja, desorganizada, fotografada com intenção de deixar tudo meio imperceptível. Mas a primeira impressão que a obra passa não permanecerá, com o desenrolar dos acontecimentos veremos que a intenção é contraria a tudo aquilo, Fulci deseja encontrar a raiz do verdadeira mal e lançar aqueles personagens imorais e marginais numa jornada de redenção e aprendizado onde buscaram o lugar perfeito para viver.
Esses personagens são quatro das figuras errantes daquele lugar, que por uma desculpa qualquer do roteiro se encontram no mesmo lugar. Um jogador desonesto, uma prostituta grávida, um coveiro alucinado e um bêbado melancólico. Os quatro se encontram presos na delegacia local de um xerife aparentemente justo, mas que depois revela sua ganância. Mas numa revolta na cidade, acabam sendo libertados e fogem pelo deserto, o que se tornará uma intensa cavalgada para eles, que envolverá auto-conhecimento e aceitação das diferenças, se revelarão então as facetas humanas daqueles que eram taxados com o pior que a sociedade poderia oferecer.
É nesse cenário de reconstrução e reavaliação que surge então a raiz da maldade em questão, Chaco, personificado na pele daquele que pode não ser um dos melhores atores do cinema italiano, mas com certeza é um dos mais marcantes, Thomas Milian encarna o viés diabólico que cruza grupo principal. Ele surge insinuante e amigável, e se estabelece dentre o grupo, envenenando as entranhas, até que, manipulativo, explode as suas reais intenções, e fica claro então que aquele grupo deslocado é apenas a linha tênue entre a maldade e a situação a que são expostos, devido a crueldade inigualável de Chaco.
O extremo oposto a o que representa Chaco, é apresentado por Fulci na forma de uma caravana de imigrantes, que lhes mostram o lado bom que o mundo pode oferecer, baseada em conceitos sociais preestabelecidos, que redime parcialmente os personagens de seus erros. É uma espécie de cavalgada com deus e diabo. Mas no mundo de Fulci a maldade esta enraizada, ao longo da caminhada, o grupo, ao reencontrar a caravana a vê completamente devastada, se deparam então com o mal revelado, que os chocam e instigam seus sentimentos mais malignos. Mas nada que já tinham feito durante a vida perto de toda aquele crueldade.
Após isso passam pelo momento de transição mais simbólico e importante do filme, inclusive da própria filmografia de Fulci, se equiparando as grandes sequências de horror do diretor. O grupo percorre o deserto que os queima com o sol ardente, e em seguida lhes lavam a alma e os pecados com a chuva e por fim encontram um humilde abrigo que se torna o lugar perfeito, logo então estão desnudos, como se tivessem livrado-se de toda a podridão que o mundo lhes dera e realizam um casamento que só Fulci poderia ter filmado.
A inquietação do jogador, no final, retira as possibilidades de um desfecho previsível. Ele revestido por uma nova áurea, resolve duelar com o mal, num clássico e verdadeiro combate entre os dois lados opostos. Que finaliza brilhantemente mais uma instigante obra do mestre italiano, que provara de vez que caminha firme além das fronteiras do terror.
Todo esse (quase) genial cenário metafórico sobre a raiz da maldade dentro dos personagens que Fulci faz, eu considero algo que fica quase anulado pelo estilo simplório e preguiçoso de Fulci com a câmera, considero um erro grande abrir mão de olhar o que os grandes mestres do gênero fizeram... Ainda assim, é um filme que não é despresivel por completo, e nem uma obra prima do gênero.