"Os Sete Samurais" é um filme perfeito. Fotografia, elenco, direção, roteiro e ritmo impecáveis. Um épico que trata tão bem de temas bem variados. Vai de combates a cenas intimistas de forma coesa. Em outras palavras, é um filme profundo, que mistura ação com profundos sentimentos humanos. O tom é sério, mas as cenas engraçadas não deixam o filme pesado. Ele não tem um caráter denunciativo, de cunho moral. Os muito personagens são carismáticos e cativantes, bem delineados. Trilha sonora, por fim, perfeita.
O sucesso de "Os Sete Samurais" aumentou o reconhecimento do cinema japonês no Ocidente e tornou Akira Kurosawa (1910-1998) o mais conhecido diretor japonês, além de elevá-lo ao primeiro time de cineastas, junto com Yasujiro Ozu e Kenji Mizoguchi. A eles juntaram-se, talvez e posteriormente, Masaki Kobayashi e Hayao Miyazaki.
"Os Sete Samurais" gerou, em 1960, uma releitura americana, estilo faroeste, chamada "Sete Homens e um Destino" (The Magnificent Seven), dirigida por John Sturges, com Yul Brynner, Eli Wallach e Steve McQueen no elenco.
Vamos à estória: no Japão feudal, camponeses cuja aldeia foi saqueada por bandidos recorrem a velho samurai para pedir ajuda, implorando proteção para quando os bandidos voltarem. Porém, pobres, não podem oferecer como pagamento mais que comida.
O Japão feudal lembra em vários aspectos o continente europeu feudal. Mas na realidade japonesa, separada por milhares de quilômetros e por uma cultura milenar, havia os xogunatos e os samurais, inexistentes no ocidente.
Se no ocidente primavam relações de vassalagem e servidão, no Japão a situação, apesar de comparável, era diferente, como dito. Os samurais, com quem podemos grosseiramente comparar com os cavaleiros medievais europeus, tinham um código de honra diferente daqueles.
Assim, por mais que a base histórica tenha diferenças comparada à ocidental, ambas possuem valores em comum, parecidos, quase universais. Companheirismo, sacrifício, amor, desapego, amizade, bravura, bravata, covardia, desespero, estão todos no filme. A direção precisa e desraigada de Akira Kurosawa confere alternância a tudo isso, entre momentos idílicos e impactantes, descontraídos e tensos. Seus 208 minutos dividem-se em cenas de batalhas, cenas que relatam o cotidiano, cenas intimistas. Mas nunca sem perder de vista o todo, o conjunto do filme, que é o mais importante e uma qualidade a se ressaltar. O ritmo é tão bom e fluido que as mais de três horas voam.
Assim é a sociedade. Camponeses, samurais (e bandidos) não são tão diferentes um dos outros, exceto pelas crenças e valores que defendem. São todos humanos. E o filme trata magnificamente deles, abordando toda a complexidade da vida e da morte.
Um dos destaques é sem dúvida Toshirô Mifune, que faz o sétimo samurai, o mais descontraído e engraçado deles, e que, na verdade, não é bem um samurai. Seu personagem, chamado Kikuchyio, resume muito da complexidade do filme. E, também, o carinho e respeito que o espectador vai criando por cada um dos samurais. Eles são a alma do filme.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário