“Eu só quero dizer que eu acho que matar é errado, não importando quem faz, eu, vocês ou o governo.”
A frase acima é dita pelo protagonista de Os Últimos Passos de um Homem, Matthew Poncelet (Sean Penn), pouco antes de ser executado pela morte de um jovem casal (e estupro da garota, vale dizer). Ora, como ousa um assassino brutal dizer que matar é errado?
Mas não é? O que nos leva a aceitar a morte (e em certos casos, desejar, afinal, no Brasil não existe a pena capital) como reparação para um crime? Isso não iguala o Estado ao assassino? Esse desejo pelo sangue do estuprador do noticiário da noite, não nos iguala, guardadas as devidas proporções, ao seu desejo ao matar a vitima? Sim, é confortável fazer esses questionamentos sem viver a dor dos familiares que perderam as pessoas amadas – o próprio Matthew diz a certa altura que também desejaria a morte de alguém que fizesse o que ele fez -, mas, querendo/gostando ou não, o criminoso também é um ser humano e aqueles à sua volta também sentem, como a dolorosa despedida do personagem de Penn e sua família nos faz lembrar.
Dito isso, o grande mérito da espetacular obra de Tim Robbins, adaptada do livro da própria Elen Prejean, que protagoniza o filme ao lado de Matthew, é não se tornar panfletário em nenhum momento, retratando os dois lados de uma delicada e séria questão e, mesmo quando a visão do diretor acerca do tema transparece, o filme ainda se mantém firme, sem forçar julgamentos ou conclusões ao espectador. Você pode até mudar (ou adquirir uma) sua visão sobre o tema, mas jamais se sentirá compelido a isso pelo diretor ou pelos personagens da história.
Os Últimos Passos de um Homem narra a história da freira Elen (Susan Sarandon, esposa do diretor, em atuação discreta e muito boa) e sua aproximação de Matthew, após receber uma carta do rapaz, que aguarda a execução de sua pena de morte em uma cela. Tornando-se amiga e conselheira do prisioneiro, a freira logo começa a atuar também como uma espécie de advogada de defesa e defensora da abolição da pena capital, buscando no processo, através de conversas com o rapaz, entender o que o levou a cometer os atos que o levaram a sua atual situação.
E por mais que durante uma parte do tempo possamos ter alguma dúvida do tamanho da culpa de Matthew – ele estaria apenas acompanhando seu parceiro, o verdadeiro criminoso? -, logo o filme traz o próprio condenado admitindo seus atos, fazendo com que o filme não precise se esconder atrás de um personagem inocentemente no corredor da morte para abordar seu tema espinhoso. Assim, Robbins e Penn (em uma atuação formidável) ilustram a conturbada personalidade de Matthew sem preocuparem-se se aquela figura acabar causando o repúdio do espectador – afinal, o personagem está em constante estado de raiva e negação, afirmando até mesmo se identificar com Hitler e suas ideias. Assim, quando Robbins e Penn nos lembram que aquela figura pode até ser desprezível sob alguma ótica moral, mas que ainda é um ser humano que chora ao telefone ao falar com a mãe pela última vez; aconselha o irmão mais novo a não cometer seus erros; e sente medo quando sua execução se aproxima, chorando como, vejam só, um ser humano, pouco antes da injeção que lhe tiraria a vida.
Assim, não é difícil categorizar Os Últimos Passos de um Homem como um filme essencialmente humanista. E ainda que Tim Robbins preze um trabalho de direção discreto durante boa parte da projeção, é interessante como no terceiro e derradeiro ato da história o diretor alie sua técnica à montagem do filme com brilhantismo para evidenciar sua postura, alternando flashbacks da noite dos assassinatos e planos da execução de Matthew, aproximando todas as mortes e lembrando que matar é matar, não importa quem faça, como bem diz o protagonista poucos minutos antes. Da mesma forma, ainda que a cena contribua também para mais uma vez nos relembrar o horror do crime cometido pelo personagem de Penn, ao filmar em planos similares os corpos mortos de Matthew e os jovens que matou, Robbins mais uma vez confronta a semelhança entre a morte provocada pelas mãos de quem quer que seja.
Encerrando com a marcante voz de Bruce Springsteen durante créditos finais, Os Últimos Passos de um Homem é uma experiência emocionalmente exaustiva, mas nem por isso menos excelente.
O Pedrão uma das poucas vezes que discordo de você cara... Acho essa fita bem mediana🙁
Tim Robbins como diretor é um excelente ator. As duas horas do filme são bem arrastadas, a história muito melo-dramática e o elenco de apoio é bem irrelevante... Quem salva mesmo o filme é a atuação soberba de Sarandon(que eu comia fácil por sinal naquela época) agraciada com justiça com o Oscar de melhor atriz...
Grande comentário😁 Esse filme é muito bom. Tim Robbins mereceu muito a indicação ao oscar de diretor. E mais, ele arrancou duas atuações soberbas, dirigindo a esposa Susan Sarandon (ganhou o oscar mais que merecido), e Sean Penn (era quem deveria ter ganho aquele oscar, mas ele foi apenas indicado). A gente sente na pele o que a dupla passa no filme. Por esse filme eu diria que Tim Robbins é melhor como diretor do que ator😋
Valeu pelo elogio Reginaldo. Concordo com você sobre a indicação do Robbins e sobre o prêmio ser por merecimento do Penn. Por mais que o Nicolas Cage detone em Despedida em Las Vegas o Penn aqui ficou em outro nível.
Agora me divido entre achar o Robbins melhor diretor ou ator, por que adoro ele em Sobre Meninos e Lobos e Um Sonho de Liberdade 😕
Poxa Lucas, pena discordarmos bastante dessa vez 😢, mas faz parte hahaha