Vampiros, conspirações envolvendo o clero, muita ação, fantasia, e claro, Padres, entrando em combates violentos e repletos de adrenalina, muito sangue e energia. Todas essas características constituem esta produção realizada para impressionar o público com sua mistura explosiva e certa inovação em elementos já utilizados à exaustão em outros trabalhos. Realmente ao acompanhar este longa, é possível notar a reutilização de vários traços empregados em filmes anteriores, como o clima, personagens e o próprio estilo de construção da história e seu desenvolvimento, mas o diferencial aqui é uma constante tentativa de deixar os telespectadores impressionados com sua movimentação frenética, o andamento ininterrupto de uma trama que não para em momento algum, trazendo um fôlego saudável para este tipo de produção.
Desde sua abertura didática, apresentando ao público todo o universo fantasioso que será trabalhado adiante, Padre segue uma linha direta e sem obstáculos, deixando de se envolver em sub-tramas desnecessárias e que deixem a projeção maçante e cansativa. Isso é um grandioso ponto positivo, principalmente quando se trata de filmes assim, onde os roteiristas exageram em sentimentalismos e passagens que tentam se mostrar fortes e importantes dentro do contexto do filme, mas que ao final, se mostram justamente o contrário. Rapidamente a missão a ser realizada pelo Padre e seus companheiros é posta em prova, e não há mais tempo a perder, partindo com fôlego de sobra para uma intensa correria atrás de Shannon (Mädchen Amick), que foi raptada por Black Hat (Karl Urban), objetivando atrair justamente estes guerreiros, para assim, dar um fim na única ameaça que pode destruir seus planos maléficos.
A direção de Scott Stewart é de certa forma realizada de maneira confortável e sem riscos, onde não se experimenta avançar muito quando se envolve o destino dos personagens. Contudo, a direção burocrática contagia o elenco em geral, excetuando o sempre acima da média Paul Bettany. Os demais desempenham o possível para a realização do filme, onde não buscam extrair de seus personagens toda a força dramática que alguns pedem. Aliás, a falta de um personagem divertido prejudicou substancialmente o resultado, já que o clima pesado e sério nunca sai de foco. A fotografia é continuamente escura e construída em tons pastéis de cinza, que formam um misto de escuridão e desespero, tal qual define as relações entre os habitantes das cidades, que temem o retorno dos ataques violentos dos vampiros. A edição é rápida e não perde tempo com exageros, muito menos se descuida dos objetivos centrais do roteiro, bem como a missão dos protagonistas.
Como dito anteriormente, são inseridos arcos completos de perseguições, combates a distância, corpo-a-corpo, paisagens deslumbrantes e ao mesmo tempo sombrias, além de toda uma densidade quase ininterrupta durante a projeção. A alta utilização de efeitos especiais se mostra essencial para estilizar o máximo possível as lutas frenéticas, bem como aproveitar os recursos em 3D, que embora soe gratuito em vários momentos, são procedimentos que parecem terem chegado para ficar em produções como esta. Alguns filmes possuem grande semelhança com as características e o estilo aqui trabalhado, como por exemplo, O Livro de Eli (2010), explorando os mesmos elementos áridos e destrutivos de sociedades organizadas para combater o mal, além da animação Rango (2011), que se passa nos desertos que circundam Las Vegas, e buscam trabalhar com a exploração e submissão por parte dos líderes do local.
Uma das mensagens que Padre busca transmitir é: “Ir contra a Igreja é ir contra Deus!” Nunca vi besteira maior que esta. Cada indivíduo busca, a sua própria maneira, se aproximar de Deus ou pelo menos o que acha correto seguir e acreditar, sendo que esta prática pode ser realizada sozinha ou com o auxilio de outras pessoas, bem como o apoio de uma instituição própria para tais fins. O que poucos conhecem, é que a Igreja sempre foi uma instituição política constituída por homens, e não por santidades, onde foi constatado por vários séculos seu poder de conquista, alienação de seus seguidores, além de todo um terror psicológico que resulta em valores positivos aos seus cofres. Todas essas características se encaixam em seu carisma institucional, capaz de cegar pessoas e fazê-las operar da maneira que a mesma desejar (como qualquer outra instituição possessiva).
Esse conflito delicado (aqui sendo estilizado, padronizado e reajustado para os fins do roteiro), é trabalhado de maneira superficial, embora contenha uma enorme força em suas entrelinhas, influenciando diretamente na vida de todos os personagens do longa. São jogados na tela alguns temas religiosos, a maneira como o povo é submisso às ordens da Igreja e tudo mais, porém não se resolve em momento algum as pendências levantadas outrora pelo protagonista, muito menos se justifica as constantes mensagens que são transmitidas na cidade (artifício até mesmo infantil do diretor, em tornar seu trabalho mais fácil, não deixando que o público faça a sua própria construção de certo ou errado). Todas essas características já exploradas em produções como Anjos e Demônios (2008) e V de Vingança (2005), (no caso de V, a alienação do povo diante de seus líderes), são válidas, embora careçam do mesmo impacto das produções citadas.
Contando com um visual chamativo e trazendo vampiros como os grandes vilões do filme (de visual grotesco, diga-se de passagem), Padre se mostra um filme em potencial para arrecadar bastante e se sagrar positivamente no mercado comercial, levando ainda em consideração que seu desfecho lhe garanta uma continuação certa, que deve chegar aos cinemas em breve. Nota-se a curta projeção, característica incomum destas produções que visam lucrar através de temas chamativos e interessantes. A sua trama enérgica, a curta duração que não perde tempo com exageros e sub-tramas, proporciona ao público um aproveitamento maior do espetáculo, uma sensação de dever cumprido por parte do diretor, que construiu uma história rápida, interessante e intensa, suficiente para captar a atenção do público em geral.
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