Falar sobre o impacto e a qualidade de Pânico, a essa altura do campeonato, é desnecessário. Sua sequência foi quase igualmente aceita, por fazer parte do mesmo embrião que o original, fazendo jus à louvável fórmula. Com tamanho sucesso, sobretudo de público, era de se esperar que Pânico 3 fosse recebido com boas expectativas.
Com a ausência de Kevin Williamson no roteiro, toda a metalinguagem que marcou a saga de Ghostface se enfraqueceu muito. Daí fica fácil entender os detratores desta terceira parte. Toda a continuidade de eventos e as ligações entre as tramas que compõem o trio de filmes são por conta da riqueza deixada pelos anteriores, e não por méritos deste aqui.
Ao menos a pegada pop continua a mesma, ainda que não seja necessariamente uma virtude. Depende do gosto do freguês, que pode gostar ou desprezar a aparição de Jay e Silent Bob (duas das principais criações do grande Kevin Smith) ou uma sacada envolvendo Psicose/Um Corpo que Cai.
O fenômeno ‘Facada” (o filme dentro do filme) ainda está vigorando, e uma terceira versão está sendo filmada, e é neste cenário que o assassino mascarado ataca novamente: os membros do elenco estão morrendo um a um. O policial Dewey, sempre atrapalhado, é um dos responsáveis pela investigação, e não demora muito para que Gale Weathers apareça para ver o que está havendo. Fechando o trio principal de remanescentes das duas chacinas passadas, vemos Sidney, nossa eterna heroína, num lugar mais distante, tentando levar uma vida normal, longe de exposição, trabalhando com um pseudônimo. Mas é só uma questão de tempo para que o vilão ressurja em sua vida.
A história certamente vai prender quem se propuser a ver. Sidney, a vítima principal, retorna à cidade grande, fica mais próxima da polícia, de seus conhecidos, da equipe do filme. Afinal, pra que ficar sozinha quando o assassino já te localizou? Então os atrativos são jogados como isca para os espectadores: descobrimos que Maureen Prescott, a mãe de Sid, não era realmente o que aparentava. E com certeza vamos assistir até ao último minuto para saber: o que realmente houve com ela? Quem é o malfeitor mascarado desta vez?
Tirando a triste e infeliz escolha por inserir sonhos, algo que nunca foi preciso nos antecessores, para nos dar certos sustos, não podemos culpar o roteirista (alguém lembra seu nome?) de não ter se esforçado para manter certo equilíbrio para que esse filho bastardo da trilogia não destoasse muito de seus irmãos. Ora, se o primeiro era um terror falando de terrores, e o segundo uma sequência falando sobre sequências, aqui temos o fechamento de uma trilogia, e numa trilogia as regras são bem diferentes. É aí que aparece Randy. O personagem que melhor representa os jovens aficionados por filmes de terror, a grande alma do recurso autorreferencial desde o começo de tudo, volta, mesmo que por poucos minutos, para ditar o que podemos esperar agora. Uma saída covarde do roteiro? Talvez sim. Mas não creio que os fãs acharam ruim.
A pergunta é: Pânico 3 é um filme realmente terrível? Pessoalmente falando, acredito que não. Não sei, talvez a idolatria pelo universo criado por Craven-Williamson, a inserção pelo cinema de horror proporcionada por Ghostface (muitos mais começaram a se interessar por terror depois de Pânico) tudo isso tenha me cegado.
Com isso, caio na mesma questão dos fãs: não vamos renegar, de forma alguma, esse terceiro filme. Numa análise individual de cada um dos três, ou até dos quatro, sim, é gritante que este pareça diferente. Mas não, nós vamos analisar a franquia como um todo. Vamos lembrar dos quatro filmes em geral.
Por que vamos? Porque até chegar o terceiro filme, evoluímos, tal como Sidney também evoluiu. Suas experiências enquanto jovem a deixaram mais segura, mais confiante, menos inocente, mais madura, como todos nós ficamos com relação ao gênero de terror após os Pânicos, que foi desconstruído com muito humor e ainda assim sem perdermos o mínimo de interesse nele. Ao presenciarmos a simulação da antiga casa de Sidney em Woodsboro, ou ao vermos as fantasias do assassino nos estúdios, estamos totalmente imersos no mundo ficcional e não queremos que ele acabe. Queremos mais mortes, mais filmes, mais tiros errados de Dewey, mais malandragens de Gale, mais referências. Imagine você ficar órfão durante mais de uma década de algo que você tanto admirou?
É por isso que quem cresceu amando Pânico e aprendendo com as histórias perdoa os erros de Pânico 3, e perdoariam com ainda mais prazer a quarta parte, com sua fórmula previsível, ainda que atualizada, e com algumas tosquices. Essa quarta parte sim viria fechar com chave de ouro a maior franquia do terror no cinema até os dias de hoje.
Belíssima crítica. Meus parabéns, mesmo!
Eu, particularmente, não me envergonho em dizer que o capítulo III é o meu favorito da série.
Acho um capítulo mais adulto, sem aquele ar estudantil dos seus antecessores e, inclusive, do quarto.
Tenho que admitir que fiquei emocionado ao ler a parte em que você escreve:
[..] Porque até chegar o terceiro filme, evoluímos, tal como Sidney também evoluiu. Suas experiências enquanto jovem a deixaram mais segura, mais confiante, menos inocente, mais madura, como todos nós ficamos com relação ao gênero de terror após os Pânicos.
Realmente, o público cresce, e, da mesma forma como os personagens evoluem, eu penso que seria tosquice que o terceiro filme tivesse a pegada colegial que os demais. A História de Maureen nos prende do início ao fim, e, quando sabemos dos motivos de ghost, ficamos todos de boca-aberta.
A última cena até hoje me inspira sentimentos de redenção, recomeço e, acima de tudo, renovação.
Obrigado, Samuel.
Bom saber que não estou sozinho nessa 😉