Nova década, novas regras.
Em 1996, o consagrado diretor Wes Craven (A Hora do Pesadelo) presenteou os fãs do terror, junto com o roteirista Kevin Williamson, com Pânico. O longa apresentava um inusitado humor ao satirizar o próprio gênero, principalmente apontando os clichês e se entregando a eles em seguida. Não demorou muito para cair nas graças do público, e de alguns críticos, e transformar Ghostface (o assassino com sua máscara) num símbolo pop. Com o sucesso, duas continuações foram feitas, e embora perderam a originalidade do primeiro filme, são bem divertidas e ajudaram a tornar a franquia uma das favoritas entre alguns cinéfilos (e não cinéfilos também).
Querendo ou não, o fato é que Pânico foi um dos filmes mais importantes da década de 90, já que ressuscitou o mercado dos filmes de suspense. Seu legado é enorme e pode ser visto até hoje: Eu sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, Lenda Urbana e Premonição são alguns dos principais exemplos de sucessores da onda “terror teen”. Além, é claro, de Todo Mundo em Pânico, que parodia a trilogia, além de outros terrores atuais. E Até mesmo o “Pânico de comédia” (uma pena ter gente que chama assim) tem seus filhotes: 3 continuações e uma avalanche de porcarias como Deu a Louca em Hollywood e Uma Comédia Nada Romântica.
Dez anos se passaram desde Pânico 3, e Wes Craven resolve retornar com a história, novamente com o Williamson no roteiro (ele não escreveu o script do terceiro, o mais criticado). Assim como no primeiro, a trama se passa em Woodsboro, cidade natal dos assassinatos, e a eterna vítima Sidney Prescott (Neve Campbell) retorna às suas origens para o lançamento de seu novo livro. Dewey (David Arquette), agora xerife, e Gale (Courtney Cox) estão casados. Quis o destino que, com a volta de Sidney, o assassino voltasse a atacar. E desta vez, a prima de Sidney, Jill, é o principal alvo.
Foi dito que Pânico 4 foi feito principalmente para os fãs, além de ser apresentado para uma nova geração. Bom, ambas as propostas são cumpridas. Os principais elementos da fórmula estão presentes, principalmente na introdução: com certeza até os mais espertos não adivinharam (ou vão adivinhar) o que acontece nos primeiros 5, 10 minutos.
A metalinguagem presente continua deliciosa. Temos personagens criticando a falta de criatividade dos terrores modernos, o sucesso do ‘torture porn’, o excesso de continuações de Jogos Mortais, mas não para por aí: as referências vão desde uma sessão com todos os filmes “Facada” (o filme dentro do filme) até a citação de praticamente todos os remakes possíveis (e não os citarei, mas são muitos!). E quanto a questão da nova geração, Craven acerta ao usar e abusar tanto da linguagem quanto dos veículos de comunicação. Aqui temos gírias, facebook, twitter, a rápida propagação de notícias pela Internet, etc. Não tem como não rir quando Gale diz “Animal” e Dewey pergunta “O que é isso?” e a resposta é “Não sei, só ouvi eles falando”.
Uma pena que, apesar de continuar muito bem com a autoparódia, Pânico 4 seja inferior aos seus antecessores. Em meio a tantas modernidades, tantos personagens jovens que servirão como vítimas e tantas brincadeiras, o espaço para a história é menor. Eu, pelo menos, não tive o mesmo impacto com as aparições do assassino, tampouco com as mortes. É lamentável ver, por exemplo, que as últimas palavras de certa pessoa foram: “Fuck, Bruce Willis”.
Mas minha maior decepção foi o final. Quando é revelado quem está por trás de Ghostface, num primeiro momento pode haver surpresa. Infelizmente, os motivos são os mais pueris de toda a serie, pra não dizer que são constrangedores.
Outra preocupação são os rumores de um possível recomeço de uma nova trilogia. Será que haverá algo a mais para explorar? Será que não vai ficar algo cansativo demais?
No geral, o quarto capítulo de Pânico é satisfatório. Para fãs como eu, a saudade certamente foi “Matada!”. Os defeitos estão lá, mas pra quem aprendeu a seguir a proposta, ignorá-los faz parte. Para quem não conhecia, vale como diversão passageira (bem como um incentivo para conhecer os capítulos anteriores). Agora, para quem quer um filme de suspense com muitos sustos e bem elaborado, pode não ser a melhor escolha.
“A tragédia de uma geração é a piada da geração seguinte”.
Boa crítica. Mas considero este superior ao terceiro e no mesmo nível do segundo. 😎
Concordo Luiz. E que conste: o segundo é bom demais!!!