A FALTA DE SERIEDADE SALVOU O FILME
Filmes sobre "predadores da natureza" sempre incorrem no mesmo erro. Na tentativa de estabelecer e deixar claro o poder e o respeito que deve ser atribuidos ao ser em questão, a narrativa acaba ficando em segundo plano para fazer do filme uma espécie de documentário auto-explicativo. Se no clássico absoluto Tubarão este artifício foi empregado com maestria por Steven Spielberg, quase todos os demais filmes dessa leva acabam exagerando e deixando expositivo o que deveria ser subjetivo e implícito. Ao contrário da maioria dos filmes deste sub-gênero, Pânico no Lago escancara sua falta de compromisso com a realidade e assume-se como legítimo filme de aventura e não como filme de terror - o que sempre acaba resultando no fracasso deste tipo de produção.
A conduta de não levar-se a sério geralmente é adotada como desculpa para um filme fracassado, assumindo-se incompreendido. Na esmagadora maioria das vezes, o filme é ruim mesmo. Não que Pânico no Lago seja lá grandes coisas, mas desde o divertidíssimo Alligator, de Lewis Teague, que eu não me interessava por algo que envolvesse uma criatura deste tipo. E pode-se notar esta falta de seriedade no filme de Steve Miner (Meu Pai Herói) na forma como coloca seus personagens em situações que deveriam ser tensas, mas são observadas sob uma ótica quase cômica, como quando Hector (Oliver Platt) toma a estúpida atitude de pular na água ficando cara a cara com o crocodilo gigante e assumindo sentir-se muito estúpido naquele momento. Aliás, se alguém esperava maior seriedade em Pânico no Lago teve suas expectativas frustradas já na escalação do elenco. Bill Pullman (Independence Day) - a quem considero uma decepção como ator, pois enxergava nele um bom potencial - e Bridget Fonda (Jackie Brown) nunca levaram suas carreiras muito à sério. O já citado Oliver Platt já tem seu nome vinculado a filmes de teor mais leve e cômicos, como Ano 1 e O Homem Bicentenário, onde sempre se mostrou competente. Brendan Gleeson (A Vila) é um competente ator, mas é ignorado e renegado a papéis sem destaque. Portanto, o elenco sente-se confortável ao atuar em cenas que beiram o ridículo, como ter um crocodilo gigante pendurado em um helicóptero, discutir com uma velhinha após presenciar esta alimentando o animal com uma vaca ou ver um biólogo e um xerife brigando feito marido e mulher enquanto urinam no mesmo arbusto.
Este tom leviano e sem a menor responsabilidade com a verossimilhança salva o filme de ser um fracasso tremendo e o faz render uma boa dose de diversão e até mesmo alguns risos.
Para o seu nível, Pânico no Lago possui uma produção bastante decente e conta com efeitos especiais bons o suficiente para não decepcionar - coisa que faz diferença neste tipo de filme. Sem falar que a direção não tenta esconder o monstro e até parece gostar de filmá-lo.
Pânico no Lago pode não ser um filme que agrade a todos, mas com certeza pode ser encarado como um bom passatempo. Visto como comédia e aventura, Pânico no Lago agrega pontos consideráveis.
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