É difícil escrever sobre algo do qual você tanto gosta. Não é a mesma coisa que dizer que ama sua mãe ou seu cachorro. Fica aquele receio de não conseguir expressar totalmente o que se quer, de ficar algo mal escrito, vago. Ainda mais quando parece que tudo já foi dito sobre aquilo. Experimente, você sendo fã de Laranja Mecânica, tentar falar sobre o filme sem ser repetitivo, quando já escreveram e disseram tudo que havia para ser decifrado ou interpretado da Obra-Prima de Stanley Kubrick (redundância isso). Não dá.
Você pode não gostar de Wes Craven, bem como não gostar de Pânico. Mas ignorar sua importância e influência é ignorar um fato. Quem gosta de assistir a filmes de terror ou suspense depara-se com diversos exemplares insatisfatórios, pois tal gênero é o que mais facilmente se desgasta. Basta meia dúzia de filmes apresentando uma fórmula parecida e boom: virou clichê, ultrapassado e todos estamos saturados de ver sempre a mesma coisa.
Voltando a Craven: não satisfeito de ter ajudado a propagar o gênero slasher criando um vilão icônico e, dez anos depois, retornando a esta mesma franquia para pô-la em ordem com um brilhante exercício metalinguístico, acabou fazendo ambos os itens novamente e de uma vez só. Claro, isso não seria possível sem o roteiro brilhante de Kevin Williamson. Mas não é qualquer um que executa tão bem uma boa ideia (vide o desperdício que é O Segredo da Cabana).
Um assassino que ameaça suas vítimas por telefone... Hm, já foi visto antes (vejam Mensageiro da Morte, 1979, de Fred Walton, e aprendam como se cria uma atmosfera). Uma protagonista virginal e seus amigos jovens que gostam de festas e sexo como principais vítimas... ok, já vimos também. Mas quem iria imaginar que tais situações tão lugar-comum seriam o grande triunfo do filme? As personagens e o assassino são fanáticos por filmes de horror, conversando sobre os principais clássicos e os principais clichês, e se entregando a estes clichês minutos depois. A vida (dentro da arte, claro) imitando a arte. A partir daí, pronto, é só se deliciar com as diversas autorreferências. O mais interessante é que não assusta, não dá medo, faz dar risada e ainda assim é o principal e mais importante do gênero na década de 90 (não necessariamente o melhor [e sim, mais importante que o Sexto Sentido {até porque este do indiano é outro departamento e causou um impacto totalmente diferente, mal dando, assim, para compará-los}]).
Talvez tenha sido a primeira vez em que o cult e o popular uniram-se tão perfeitamente. O assassino mascarado logo se tornou um símbolo da cultura pop. Merecidamente, Pânico é até hoje um sucesso de público e crítica (não que esta seja muito importante), e deu um novo gás ao gênero e ao subgênero do terror teen. E gerou fãs. Milhões de fãs, com muitos deles começando a partir daí a se interessar por mais filmes com sangue e assassinos em série. Tenho orgulho em fazer parte destes.
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