TERROR EM WOODSBORO
A pequena e pacata cidade de Woodsboro, no Texas, é palco dos acontecimentos aterrorizantes da obra satírica e uma das mais bem executadas do diretor Wes Craven, mestre do terror, que soube em Pânico brincar com os elementos característicos desse gênero. Tudo de uma forma leve e descontraída sem abdicar de momentos de arrepiar os cabelos. Tudo começa quando a jovem Sidney Prescott (Neve Campbell) passa a ser perseguida por um misterioso serial killer, dono de uma máscara icônica de fantasma, que possui um tom de voz grave e ameaçador. Ela e outros jovens da cidadezinha passam a receber ligações cujo conteúdo é apenas um, ameaçar e fazer jogos de pergunta e resposta. Quem erra, ou mesmo quem acerta, morre no passo em falso. Esse pano de fundo do horror é terreno fértil para inúmeras referências, desde A Hora do Pesadelo até It - A Coisa de Stephen King. Não faltam também citações a John Carpenter, mestre conhecido pela obra-prima Halloween. São inúmeras as homenagens e todas elas merecidas aos cineastas do filão terror.
O enfoque na história é todo em cima da comunidade jovem, mostrando diálogos na escola, nas festas de formatura e nas rodinhas de intervalo. Cada personagem é um estereótipo de filmes clássicos. A mocinha indefesa, o gigante valentão ou o garoto nerd. Todos reagem de uma maneira diante da ameaça que ronda o bairro, uns riem, outros saem atrás de pistas. No filme, isso é papel da polícia, mais precisamente do xerife Dwight (David Arquette), responsável por descobrir quem está por trás da popular fantasia de Ghostface. Como em uma grande brincadeira, Craven aproveita para zombar de si mesmo e de suas obras. Os diálogos afiados não passam batido sem uma alfinetada que escancare o absurdo de determinados motivos. O que leva um vilão em série a querer perseguir sua namorada? Qual o motivo da chacina? Perguntas que só são respondidas ao fim do filme.
No desenrolar de todo esse verdadeiro pânico, sobra espaço para criticar a mídia, que faz papel de bobo não só nas histórias de medo, como também na própria vida real, parasitando a vida de tudo e todos em busca de um furo de reportagem. A jovem Sidney passa o tempo em tela sendo perseguida pela sua algoz, repórter e tudo mais. A história é como um jogo de tabuleiro para Sidney e seus colegas, pois, em todo o lugar, ouve uma voz sussurrar em seu delicado ouvido, cuja percepção é capaz de filtrar pouco do que é necessário. Ela ouve desaforos da morte de sua mãe até do próprio serial, que com o passar da trama vai revelando os segredos que guardam e os motivos dessa omissão.
O que dificulta o trabalho da polícia é que todos na cidade podem ter acesso à fantasia do matador, sem distinção, uma vez que ela é vendida em cada esquina, ou seja, seu uso banalizado torna-se empecilho na resolução do caso. Mas quem liga pra isso num filme onde cada cena é magistralmente filmada, com ângulos em primeira pessoa, cenas noturnas de gelar a espinha. A primeira cena é um exemplo vivo disso, quando a mocinha Casey Becker (Drew Barrymore), ouve o telefone tocar num rompimento abrupto de silêncio. Tem-se um certeza, é ele! Casey atende, conversa, enrola um pouco. Diz que foi engano, ambos concordam, e a linha é encerrada. Novamente toca o telefone, cujo som é como o de uma campainha numa tempestade que parece anunciar o pior que está por vir, e novamente a loira inocente atende. E fica nisso, atende, desliga, atende, desliga e eis que. O mal se consuma, ela descobre que está dialogando com o diabo, ou seria, com quem quer seja. O fim disso tudo, o filme nos mostra.
A banalização de sangue no filme é uma risada do próprio diretor como quem diz, olha o que nós fazemos para libertar o terror no nosso espectador. De uma maneiro ou de outra, Pânico revolucionou o modo de se fazer cinema, seja no âmbito da paródia ou de se criar o próprio medo mesmo, ele revolucionou uma onda teen. O imaginário dos anos 80 e 90 levou (?) muitos jovens a buscar a própria identidade por intermédio de virarem serial killers do dia pra noite. Talvez Craven tenha essa resposta, ou simplesmente queria nos fazer pensar que sim.
Esse filme não precisa de 10 pra ser perfeito.
Pânico eternamente em nossos coraçoes. rsrsrsrs
Filme que referencia toda uma geração. Caiu no lugar comum, mas é muito divertido.
Cristian, obrigado por comentar. Discordo que tenha caído no lugar comum, mas a palavra que você usou se encaixa bem aqui. Divertido. Grande trunfo do filme, o humor cativa o espectador do início ao fim.