Para Roma Com Amor narra pequenas histórias ambientadas na cidade italiana de Roma: Um casal de italianos chega do interior, ela se perde em Roma e conhece um ator famoso, ele se envolve por acidente com uma prostituta; Um casal de americanos vai visitar a família do noivo de sua filha e o pai americano, um aposentado diretor de ópera interpretado pelo próprio Woody, vê no sogro de sua filha um grande talento musical; Um italiano vira uma celebridade da noite para o dia; Dois arquitetos americanos de gerações diferentes se encontram por acidente e o mais velho passa a interferir na vida do outro, que ameaça seu estável relacionamento envolvendo-se com uma amiga de sua companheira. Cada uma dessas histórias contêm várias sequências que se articulam de forma não necessariamente simétrica ou paralela, entretanto compostas internamente de forma a sempre chamar atenção para si e para sua graça.
Como em praticamente todos os filmes de Woody Allen, os diálogos são inspiradíssimos, encontrando sempre voz em intérpretes precisos. Os diálogos em Para Roma Com Amor tem sua vitalidade legitimada ao observar-se que os mesmos mantêm uma unidade em meio aos numerosos segmentos contendo diálogos ligados a situações e atuações distintas (mesmo que abordando assuntos em comum como o adultério).
Interessante como a narrativa se articula em torno da fluência do próprio filme e não de um paralelismo no espaço tempo – a história do casal italiano dura um dia, enquanto a história dos arquitetos dura vários. Contudo, a presença quase sobrenatural de Alec Baldwin como o arquiteto mais velho permite que essas noções de tempo e espaço sejam relativizadas. Os personagens de Baldwin e Jesse Eisenberg, o arquiteto mais novo, encontram-se e separam-se no mesmo lugar, como se não houvesse passado muito tempo entre uma cena e outra. Da mesma forma, pode-se observar que é o personagem de Baldwin que é apresentado pelo narrador, podendo-se colocar a existência de Eisenberg como algo mais próximo de um espelho.
Sejam quais foram as intenções de Allen, foi o personagem de Einsberg quem mais ganhou vida em sua relação com a amiga da namorada, vivida por Ellen Page. Juntas, as atuações maneiristas e cerebrais, nas quais ambos já se mostraram craques em trabalhos anteriores, entram em sincronia e transformam personagens que poderiam ser intragáveis, em catalizadores de boa parte dos melhores momentos do filme.
No campo das já citadas atuações, predominam os abusos gesticulares e certos exageros de entonação, tornando difícil não associar com as atuações dos próprios italianos. Quem também enaltece e o espírito italiano é a trilha sonora, que começa irritante e assimila-se aos poucos a narrativa tornando-se parte do conjunto. Talvez se possa dizer que esses estilos de atuação e o acompanhamento da música evidenciam mais a presença da Itália na feitura do filme do que as locações propriamente ditas.
Em Para Roma Com Amor, nota-se novamente a tentativa de Allen em encontram uma linguagem com planos mais elaborados. Ainda assim, é a narrativa que alicerça o filme e que acaba por caracterizá-lo. Da turnê europeia de Allen, excetuando os filmes de Londres, esse é o que mais absorve organicamente o espaço – os pontos turísticos raramente de forma que não esteja ligados a natureza diegética do filme ou da sequência em questão.
De forte coerência com a inquieta fase atual de Allen, Para Roma Com Amor trás um roteiro forte e a buscar por uma linguagem cinematográfica que fuja do roteiro filmado. No entanto, o filme remete também as suas primeiras comédias, no modo mais escrachado com que as sequências se apresentam. Dessa maneira, Allen trabalha com aquilo com o qual raramente falha, unindo a isso a um elenco carregado. Talvez por isso soe como uma das obras mais humildes que ele realizou nos últimos anos, exalando certa dose de autoconsciência quanto ao próprio trabalho. Com isso, outros elementos do filme (como a arte, a fotografia e o som) mostram-se corretos, passando a servir quase o tempo inteiro à narrativa, mas sem chamarem muito atenção para si.
Um ano depois de Meia Noite em Paris e Woody Allen repete o principal erro de seu trabalho anterior: A montagem. Os planos ou são longos demais ou são interrompidos antes da hora por outros. O corte parece ser feito quase sempre no momento errado e se não fosse pela destreza com que a narrativa foi articulada, provavelmente geraria grandes danos ao filme. De qualquer maneira, Para Roma Com Amor não é uma obra prima, mas diverte de forma como nenhum outro filme conseguiria se não fosse pelas mãos de Woody Allen.
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