Assistir a um filme do realizador francês Eric Rohmer é a certeza de sensações sui generis. Sua obra tem o dom do diálogo bem construído, dotado de impressionante humanidade e sentimento. Sua filmografia, no entanto, não é a das mais fáceis para o público de hoje, acostumado a moderníssimos recursos audiovisuais, enredos simplórios e respostas prontas para todos os conflitos, que, afinal, não exigem muito raciocínio e análise. Aliás, já era assim na época que Rohmer produziu a maioria dos seus filmes, sendo então considerado por Georges Saudoul como um realizador “elitista”.
É frequente nos depararmos com personagens seus construídos sob uma moralidade tesa, que os repele ou influencia a certos tipos de comportamento. No entanto, como acontece em Pauline na Praia, o propósito do diretor não é a realização de qualquer julgamento que seja. Rohmer não busca a condenação ou a absolvição dos seus personagens, mas a revelação de individualidades tipicamente humanas e banais, desnudando o comportamento habitual das pessoas em diálogos ricos.
Na trama, Pauline (Amanda Langlet) e sua prima Marion (Arielle Dombasle) vão à casa de praia, na costa francesa do atlântico, nas férias de outono. Lá, Marion reencontra Pierre (Pascal Greggory), um velho amigo, e conhece o etnólogo Henry (Féodor Atkine), com quem se envolve. Pierre é apaixonado por Marion e se frustra de forma infantil com o envolvimento dela com Henry.
A primeira frase do filme, “quem muito falar prejudica a si mesmo”, é um provérbio que vem à cabeça hora ou outra, seja quando Marion, num encontro na casa de Henry, revela certa ingenuidade e idealismo acerca do amor ou seja quando Pierre, na medida em que busca desconstruir a imagem que Marion tem de Henry, acaba provocando nela – o que ela confirma – uma maior atração por ele.
A obra de Rohmer também explora a singularidade do indivíduo, na medida em que invoca a paixão e seu efeito particular sobre cada um. É assim quando Pauline elogia as qualidades de Pierre e critica as de Henry para a sua prima, sugerindo que esta estaria melhor com seu antigo admirador. Marion, por sua vez, devolve lhe sugerindo as qualidades de Henry, que rejeita prontamente pela diferença de idade entre ambos. Pauline, que é ainda uma adolescente, se sente atraída por garotos com a idade dela e não por homens mais velhos. Cada um é melhor juiz acerca das suas expectativas.
O encontro na casa de Henry, aliás, acaba sendo o mais edificante no filme. Lá, os quatro falam sobre amor, relações, frustrações e expectativas. Marion e Pierre vivem sozinhos, mas à espera de que algo surpreendente aconteça. O último casamento de Marion fracassou e ela analisa que o que havia era fidelidade, mas não amor e que este é a crença do eterno. Henry, personagem mais sofisticado e existencialista, busca se apegar ao presente, pois o apego ao futuro é a negação da vida.
É possível decifrar, pela maneira com que agem e pensam os personagens, o desfecho de Pauline na Praia. Rohmer não busca reviravoltas e situações imprevisíveis e isso é o que, em grande medida, faz dos seus filmes verdadeiros reflexos do comportamento típico da nossa sociedade.
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