"Apesar do tom patriótico exarcebado, um blockbuster divertido e bem produzido".
Quando Michael Bay se propôs a levar para as telas a trágica história do massivo ataque japonês à Pearl Harbor em 07 de dezembro de 1941 que vitimou mais de 2.000 soldados norte-americanos e civis, em um dos eventos mais famosos e tristes da 2ª guerra mundial, tinha por objetivo realizar sua grande obra-prima.
Pearl Harbor era o seu filme mais ambicioso até então, uma superprodução de US$ 140 milhões que recria o fato em seus mínimos detalhes, com uma equipe talentosa e tudo que o dinheiro pode comprar. A influência de outras obras de grande sucesso entre a crítica e o público é bastante perceptível, passando de Titanic (Titanic, 1997), à O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998) e até mesmo por Top Gun: Ases Indomáveis (Top Gun, 1986), seja na estética, narrativa, trilha ou nas suntuosas cenas de ação. Porém se Spielberg e Cameron são famosos por realizarem obras de apelo popular, mas que agradam a crítica também, devido a sutileza e apuro técnico característicos, falta a Bay o mesmo talento. Embora este seja o filme mais coeso do diretor, faltou foco e bom senso ao realizador para que a obra não se perdesse em sua ambição. Mesmo assim, este talvez seja a última realização de Michael Bay em que as cenas de ação e a pirotecnia são bem filmadas e ainda faziam sentido.
A parte técnica da obra é primorosa e recria o evento com precisão, seja na direção de arte, no figurino ou na recriação do ataque em si, com efeitos especiais realistas e um trabalho de som magnífico. Podemos sentir o desespero das vítimas naquela situação caótica, com a câmera de Bay vagando precisamente por ângulos dramáticos e desconcertantes que demonstram a escala de toda a situação de forma competente. A trilha sonora de Hans Zimmer é ótima, com notas belas e sensoriais, que tocam o espectador de forma precisa. Assim como a sua tocante canção-tema "There Yoll Be" que rola nos créditos.
O elenco principal comandado por Ben Afleck (o nome mais conhecido do elenco), Josh Hartnett e Kate Beckinsale compõem o triângulo amoroso da trama, responsáveis pelos momentos românticos da projeção, mas que por culpa do talento limitado do trio deixa bastante a desejar. Entre os coadjuvantes temos grandes nomes como: Cuba Gooding Jr., Tom Sizemore, Alec Baldwyn, Dan Akroyd, Colm Feore, Michael Shannon, Mako e Jon Voight. Os dois últimos, ainda que com participações pequenas, são responsáveis pelos momentos mais inspirados da projeção. O primeiro como Isoroku Yamamoto, o almirante japonês responsável pelo ataque (num papel digno e honesto, acredito) e o segundo como o Presidente Franklin Roosevelt, que quase me fez acreditar em suas boas intenções, dado o talento do ator (vale destacar também a ótima maquiagem que lembra muito a figura retratada, tornando irreconhecível a figura de Voight). Muito se falou sobre a deturpação histórica e o ufanismo da abordagem de Bay na representação dos fatos que levaram ao conflito (que de fato aconteceu), mas de uma forma geral, o filme não demoniza os japoneses, apresentando seus medos, anseios e motivações (ainda que de forma rápida e superficial, é claro).
O roteiro de Randall Wallace (Coração Valente) foi acusado de ufanista e superficial, com o mesmo defendendo-se das acusações alegando diferenças criativas com o diretor, que acabaram por prejudicar o resultado final do seu trabalho. Momentos como quando o General Doolitle (Baldwyn) diz que vencerão a guerra por causa de "heróis voluntários como eles" chega a ser constrangedor, e nem o carisma do ator compensa isto. Sem falar no utópico discurso final, que choca pela falta de compromisso com a realidade dos fatos e resume a "vitória" norte-americana na 2ª guerra mundial ao sucesso de um pequeno grupo de fuzileiros navais em uma missão suicida que realizou um ataque surpresa a uma base militar em Tóquio, que pouco ou nada influenciou neste cenário todo (e fatos como o covarde ataque nuclear norte-americano a Iroshima e Nagasaki sejam totalmente ignorados). Deixando a ideologia ufanista da produção de lado, Pearl Harbor se apresenta como um eficiente exemplar do cinema pipoca (segue sendo o melhor trabalho de Bay na direção), com momentos marcantes, cenas de ação grandiosas e um visual de encher os olhos.
Provavelmente por esse patriotismo estilo "foda-se a história e a verdade. É assim que eu quero que seja", ou pelos constrangedores momentos de Baldwin ou ainda pelo namorico de colégio do trio principal, mas esse aí não funcionou comigo. Comparo ele com Fomos Heróis, de Mel Gibson, onde as cenas de ação são boas, mas o resto é de dar pena. Uma bela produção, sem dúvidas.
Acho ele apenas divertido e bem produzido, mas tem um filme que retrata o evento meticulosamente e imparcialmente, que é o pouco conhecido e subestimado Tora! Tora! Tora! esse sim um registro histórico sobre o evento.