Peixe Grande e suas Maravilhosas Histórias é o filme que menos se encaixa dentro do currículo de Tim Burton. O motivo fica claro após ver este e outros longas do diretor: Burton é um especialista em criar universos acertadamente sombrios e visualmente espetaculares, com um tom que oscila entre o irônico (A Fantástica Fábrica de Chocolates) e o aterrorizante (Sweeney Todd), e até mesmo aqueles filmes mais “infantis” tinham um lado negro assustador que era a marca registrada do cineasta. Portanto, ver Peixe Grande acaba sendo mais satisfatório e recompensador quando você descobre o nome por trás daquele espetáculo cinematográfico.
Como sempre, Burton constrói um universo simplesmente espetacular. A direção de arte é bem mais sutil do que em seus outros projetos, porém não deixa de ser apaixonante: A tomada que mostra os sapatos pendurados em um fio é belíssima e transmite a mensagem de maneira muito eficiente; o mesmo pode ser dito do momento em que o protagonista enche o quintal da amada de flores; e com um pouco menos de sutileza, a casa absolutamente torta que a bruxa da história habita faz um contraste ótimo com o restante do universo. E essa é, talvez, a maior das qualidades de Peixe Grande:
Deixando de lado aquele ar assustador e tenebroso, Burton conduz o filme como se ele fosse uma das histórias fantasiosas descritas por Ed Bloom, ou seja: Os cenários, os figurinos, os personagens em si e a história se unem para dar ao filme uma cara de fábula, que encaixa perfeitamente no longa. E é bom variar um pouco: Apesar de termos Helena Bonham Carter em poucas porém deliciosas cenas, não vemos o rosto sempre mudado de Johnny Depp (ah, e como é bom ver o cineasta trabalhando por conta própria). A montagem também é bem sucedida em todas as tentativas de se alternar entre o rel e o imaginário dos contos, assim como a trilha sonora de contos de fadas e a fotografia exata que realça as diferenças nos cenários e nos personagem que habitam cada passagem da trama.
Levando Ed á vida como uma figura com uma alegria contagiante, Ewan McGregor não só carrega o filme nas costas (por mais incrível que possa parecer ele é o mais carismático dos personagens, em um filme atolado de figuras inesquecíveis) como também mantém o traço principal de Ed até nos momentos em que o roteiro deixa isso um pouco escondido. É uma pena, que os momentos em que o protagonista é retratado já no fim de sua vida não chega nem perto do que podia emocionar (principalmente as sequências finais), o motivo é uma incógnita já que Albert Finney continua transmitindo o carisma do personagem e o roteiro continua ótimo.
Peixe Grande e suas Maravilhosas Histórias é um filme caótico e apaixonante, é praticamente impossível não se deslumbrar com a qualidade daquele universo criado por Tim Burton e CIA e não se sentir incompleto ao notar que o filme chegou ao fim e ser obrigado a voltar á esse mundo ‘sem graça’, mas é bom saber que o gigante, o dono de circo lobisomem, as gêmeas asiáticas e a bruxa com um olho de vidro sinistro está ali sempre que agente precisar.
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