Tim Burton sempre teve uma queda pelo gênero de fantasia. Mas não aquele tipo de fantasia que idealiza um mundo totalmente novo, e sim aquele que mescla alguns elementos fantásticos no mundo real, para parecer que aquilo nada mais é do que a sua visão da realidade. No final da década de 1980 e início da de 1990, o tom sombrio e uma extravagante bizarrice marcou os filmes de Burton. Porém a fórmula, que vinha dando certo desde “Edward Mãos de Tesoura”, saturou. Era necessário criar algo novo, mas ainda com a cara do cineasta. Baseado em um livro do escritor americano Daniel Wallace, “Peixe Grande e suas Maravilhosas Histórias” apareceu com essa proposta, de mostrar uma visão fantasiosa do mundo de maneira na qual Tim Burton jamais havia feito antes.
Todo mundo conhece aquele tiozão que todos gostam. Sempre falastrão, em todas as reuniões familiares ele passa a maior parte do tempo contando histórias, de veracidade discutível, sobre sua vida. Algumas vezes, os mais próximos dele, como os filhos, ficam realmente incomodados com ele. Edward Bloom, (interpretado por Ewan McGregor) é um tiozão desses. Sempre muito eloqüente, ele cativa a todos com as fantásticas histórias sobre sua vida. Apenas Will (Billy Crupud), seu filho, não gosta. Isso porque ele ouve essas histórias desde criança, ao mesmo tempo em que via seu pai sempre como alguém ausente. Na sua cabeça, o seu pai inventava aquelas histórias inicialmente para justificar a sua ausência. Quando Edward fica doente ao ponto de quase estar em estado terminal, Will vai encontrá-lo para saber qual o fundo de verdade que existe em suas histórias.
Esse é um dos filmes mais singulares da carreira de Tim Burton. O ponto de partida é o mesmo de sempre: algo estranho. Mas o modo como isso se manifesta na tela á algo excepcional. A fotografia do filme é ótima, em especial nos momento em que Edward está no circo e viajando, fazendo a simples vila de Spectre, por exemplo, ganhar um tom totalmente surreal. Os efeitos visuais também se destacam. Mas o que realmente chama a atenção é a direção de arte. Aliada à já citada excelente fotografia, faz qualquer cenário do filme parecer algo vindo de um sonho ou de um livro de fábulas. (destaque aqui para a cena na qual o tempo literalmente para quando Edward conhece o amor da sua vida). A maquiagem, que trabalhou perfeitamente na transformação de Helen Bonhan Carter na bruxa do olho de vidro, também chama a atenção. Em termos de repercussão, o atributo técnico que mais se destacou foi a trilha sonora, composta pelo velho companheiro de Tim Burton Danny Elfman, que recebeu mais uma indicação ao Oscar.
O elenco todo está muito bem. Vale destacar aqui a boa escolha das atrizes. Alison Lohman, que interpretou Sandra, o grande amor da vida de Edward, é extremamente parecida com Jessica Langue, que atou como Sandra mais velha. Isso mostra uma boa atuação do diretor antes mesmo das filmagens. Ewan McGregor consegue passar bem todo o carisma de seu personagem. O modo descontraído com que ele consegue tudo dentro de suas histórias, transpirando autoconfiança, o que é natural se ele está dentro de uma fantasia na qual ele já sabe o seu futuro. Daí saem situações engraçadas, como a passagem dele pela estrada mal-assombrada onde ele é atacado pelas árvores que só param quando o próprio Edward se lembra que não iria morrer ali. Ali está o porquê da alegria contínua de Edward. Enquanto os seus colegas ficaram desesperados quando descobriram quando iam morrer, Edward ficou aliviado, pois assim poderia curtir a vida sem maiores preocupações.
“Peixe Grande...” é ponto máximo da carreira de Tim Burton, que se deu sem dois de suas principais características: a presença de Johnny Depp e o clima sombrio contínuo. Mas alguns de seus elementos mais marcantes estão lá, provando que dá para um diretor se reinventar sem perder o seu estilo característico.
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