Como ocorreu, ocorre e ainda irá ocorrer na história da Academy Awards, inúmeras injustiças foram marcadas em premiações de vários anos, como Peter O'Toole, Charles Chaplin, Stanley Kubrick e alguns filmes como "O Exorcista" "A Cor Púrpura" só pra citar e dar uma ideia. E parecia que Al Pacino iria tomar esse mesmo rumo porem um dos fatos raríssimos em que um remake é melhor que o original, o roteiro de "Perfume de Mulher" aparece em suas mãos. Pacino já tinha que ter levado a estatueta de melhor ator por vários outros trabalhos de sua carreira, mas como acontece com os dinossauros que votam no Oscar, eles as vezes são possuídos por algum espirito maligno da demência e as injustiças são cometidas aos montes. Talvez Pacino nem merecesse o Oscar daquele ano, pois tinha concorres árduos no páreo como Eastwood em "Os Imperdoáveis", Stephen Rea em "Traídos pelo Desejo", Denzel Washington por "Malcolm X" e Downey Jr por "Chaplin", mas de qualquer forma sua atuação é magnifica...
O enredo conta a história de um militar reformado depressivo (tenente coronel Frank Slade) e um estudante (Charlie Simms) que é contratado pela família de Frank para “tomar conta” dele no feriado de ação de graças. Em meio ao encontro desses personagens, Charlie enfrenta problemas disciplinares no colégio e Frank alimenta planos de suicídio após desfrutar de uma última viagem a Nova York, onde pretende desfrutar de todos os prazeres que todo o dinheiro pode dar. Dai por diante, muita comédia, poesia e diálogos rápidos e inteligentes, vão preenchendo o filme...
O filme possui vários qualidades na parte técnica e de atuações, mas também possui várias cenas que viraram clássicas e as vezes até quem nunca assistiu a fita as reconhece quando exibidas na TV, internet ou outras mídias. como a bela cena em que Frank dirige uma Ferrari e realiza seu sonho, fazendo com que ele diga para o policial que Charlie era “seu garoto”. De fato, ele poderia dizer isto, já que naquele momento a relação dos dois já era próxima da relação entre pai e filho, até porque Frank não tinha proximidade com ninguém da família e Charlie não se relacionava bem com o pai adotivo. Mas pra mim é para muita gente a melhor sequencia do filme, dos anos 90 e até mesmo do cinema é a "cena da dança de tango" em que Frank dança com Donna a deliciosa Gabrielle Anwar. Essa parte é um momento sublime onde as imagens e a música se complementam. A dança romântica mostra como Frank sabe lidar com as mulheres, conquistando a moça com seu jeito simpático e fazendo com que ela 'alfinete' o namorado quando ele chega, saindo do local sem conseguir deixar de olhar para Frank e Charlie. Ainda existia algo de muito bom dentro daquele homem amargurado.
Nos quesitos técnicos o roteiro de Bo Goldman baseado no filme italiano de 74, nos brinda com diálogos ácidos e marcantes como o primeiro encontro extremamente tenso entre Charlie e Frank como também no mais estonteante na faculdade o embate final contra os diretores. A fotografia de Donald E. Thorin também é soberba mostrando um contraste nas cenas na casa de Frank apresentando cores frias e acidentadas e imagens mais vivas quando eles viajam para Nova York. O figurino de Aude Bronson-Howard também é um ponto positivo a mais mostrando todo o requinte e elegância onde a história é ambientada auxiliado também pela ótima direção de arte de Ronald L. Schwary. A temática de Frank e Charlie é bastante triste e esta tristeza é realçada também pela melancólica trilha sonora do bom Thomas Newman, que utiliza toques suaves de piano na maior parte do tempo.
Mas apesar do bom trabalho técnico, é na condução dos atores que Brest se destaca, extraindo grandes atuações de todo o elenco. A começar por Phillip Seymour Hoffman, que já mostrava talento aqui como o mimado George Willis Jr. e nos dando uma ideia do que viria a seguir. Até mesmo o mediano Chris O’Donnell consegue um bom desempenho, pois, felizmente sua inexpressividade se encaixa bem no papel de Charlie, um jovem igualmente contido. Seu grande momento é no tenso diálogo em que Frank está com uma arma na mão quando, ofegante, demonstra bem o desespero do personagem enquanto desafia o tenente. Após a tensão, o choro convincente de O’Donnell e a voz tranqüila de Pacino mostram as formas diferentes de cada um extravasar. Finalmente, a boa dinâmica entre Pacino e O’Donnell é vital para o sucesso da narrativa e ambos conseguem sucesso.
E o que dizer do monstro sagrado Alfredo James Pacino? Desde sua perfeita introdução, que cria uma atmosfera tensa através das palavras de sua filha, dos gritos para não entrar com o gato e da própria casa em que vive, com ares de abandonada (assim como ele é abandonado na vida), Frank se mostra um personagem fascinante. Durante sua preparação para interpretar Frank Slade, Al Pacino recebeu a ajuda de uma escola para cegos. O próprio ator afirmou que buscou realmente "tornar-se cego" durante as filmagens, utilizando o truque de não focar seus olhos em nada que estivesse em cena. Porém, não é apenas na demonstração de cegueira que este grande ator compõe este complexo personagem, mostrando uma amargura profunda através de suas palavras, da forma como ele as pronuncia e de seu jeito durão, um claro resquício dos tempos de exército. Sob aquela couraça de tristeza e amargura existia um homem bom, que ameaça aparecer no tocante momento em que Charlie cita as muitas qualidades de Frank e ele, sem querer demonstrar, fica claramente lisonjeado.
Definir “Perfume de Mulher” é difícil. O longa metragem é feito para ser sentido, vivido, cheirado. O perfume de um clássico do cinema fica no ar após sermos seduzidos por essa obra prima de filme...
Obrigado caro Reginaldo! Mas coloquei a palavra TALVEZ antes da frase, porque o Pacino tinha muita pedreira daquele ano...
A atuação de Pacino é fantástica neste filme. E Reginaldo, não acho que um filme precise de uma nota maior do que 8,5 para ser uma considerado uma obra-prima (neste caso uma O.P menor).
Oi Lucas, desculpe. Ok? Obrigado pelo comentário do filme. Gostei!
Este filme é espetacular, assim como a atuação de Pacino, um dos maiores injustiçados da Academia. Mais uma vez, parabéns, Lucas!!!