RECHEADO DE REFERÊNCIAS DE SOLUÇÕES JÁ VISTAS EM OUTROS FILMES BEM MELHORES, JOY RIDE CONSEGUE SER BASTANTE ORIGINAL
Apesar do esdrúxulo título em português e de ter sido absurdamente sub-julgado por Velozes e Furiosos, Perseguição – Estrada Para a Morte (Joy Ride, 2001) é um dos filmes mais interessantes do início daquela década, reunindo um time que viria a brilhar posteriormente (Paul Walker e J.J. Abrams, mais precisamente) e numa série de referências à grandes filmes de ambos os gêneros ao qual pertence: roadmovie e suspense.
Lewis Thomas (Paul Walker) parte de Berkley para o Colorado em seu charmoso Playmouth 1971 para encontrar-se com Venna (Leelee Sobieski), a garota dos seus sonhos, para aproveitarem as férias de verão. No caminho, porém, precisa alterar seu curso para tirar seu irmão mais velho Fuller (Steve Zahn) da cadeia – lugar que costuma freqüentar -, preso por vandalismo. Na estrada, Fuller convence Lewis à retomarem uma antiga brincadeira da época de adolescentes: o trote. Com um grande talento para imitar vozes femininas, Lewis se passa por uma mulher solitária e ‘’carente’’ à procura de um companheiro de estrada, com a ajuda de um velho rádio da policia roubado por Fuller. Um misterioso caminhoneiro chamado Rusty Nail (Ted Levine) responde ao chamado e logo desperta o interesse dos irmãos em levarem o trote adiante. Ao fazerem uma parada em um motel de beira de estrada, os irmãos Thomas entram em atrito com outro hospede na recepção e decidem dar-lhe o troco chamando Rusty para o quarto onde o cidadão havia se hospedado, fazendo-o acreditar que a falsa mulher estaria esperando-o. Porém, o que antes era apenas uma brincadeira de mau gosto dos irmãos Thomas transforma-se em pesadelo quando Rusty, ao perceber o que havia acontecido, mata o hospede do quarto ao lado e parte para a perseguição dos dois rapazes com uma sede de vingança sádica e incontrolável, fazendo da auto-estrada um verdadeiro inferno.
A quantidade reduzida de personagens (apenas três, se levarmos em conta que Venna participa apenas da segunda metade e Rusty Nail se faz mais presente como a voz do outro lado do rádio) e a curtíssima duração do filme (apenas 97 minutos) ajudam na construção de uma atmosfera muito boa em torno da situação dos personagens. A boa direção de John Dahl (Morte Por Encomenda) e o prático roteiro de J.J. Abrams (Star Trek e do seriado Lost) e Clay Traver, dão um bom dinamismo ao filme que não precisa parar toda hora para apresentar novos personagens e não possui tramas paralelas ou reviravoltas mirabolantes. Basicamente, Joy Ride se resume a um ótimo e muito bem construído jogo de gato-e-rato objetivo e direto, onde a tensão aumenta constantemente, sem quedas bruscas de ritmo ou situações forçadas - mesmo a perseguição no milharal gera alguns calafrios.
Mesmo com a limitação do roteiro (no quesito ambientes e possibilidades, por tratar-se de uma perseguição na estrada), o filme sabe como inserir fatos novos na hora certa para que outras situações sejam geradas. A inserção de Venna, já na segunda metade do filme, é uma sacada simples e previsível do roteiro, mas muito eficaz. Se Rusty Nail já se mostrava criativamente sádico sabendo que a bordo do Playmouth estavam somente os irmãos Thomas, imaginem o que passou pela sua cabeça ao saber da presença de uma bela moça no veículo? Dahl tem completa noção do material que tem em mãos e vai, gradativamente, aumentando o nível de tensão e das investidas de Rusty - que se mostra não só um homem vingativo, mas um verdadeiro psicopata.
Joy Ride funciona tanto como um bom filme de suspense como também uma homenagem aos filmes que toma como referência. O mais escancarado de todos é, com certeza, o clássico telefilme de Steven Spielberg Encurralado (Duel, 1971), onde um motorista é perseguido por um misterioso caminhoneiro em uma auto-estrada. Bem como na passagem pelo motel onde o assassinato cometido Rusty acontece. Toda essa passagem remete à dois clássicos absolutos do mestre Alfred Hitchcock. Toda a decoração e o clima do motel remete de forma imediata à Psicose (Psycho, 1960). Já a ótima cena onde Rusty comete o assassinato, com os irmãos Thomas ouvindo tudo do outro lado da parede, faz menção direta à Janela Indiscreta (Rear Window, 1954). Além, é claro, das claras referências a A Morte Pede Carona (The Hitcher, 1986) e Rota 66.
Esse é um dos principais trunfos de Joy Ride: a falta de violência física explícita. O próprio assassinato em si não é mostrado na tela, apenas ouvimos tudo como os dois protagonistas. Excelente sacada do roteiro. Até mesmo a perseguição no milharal - ao melhor estilo slasher - é muito bem executada, sem confronto físico mas esbanjando tensão. John Dahl utiliza de forma brilhante todos os recursos sensoriais disponíveis como luz e sombra, som e bons truques de câmeras. Mas talvez nada disso talvez tivesse o mesmo efeito se não fosse o bom trabalho de Marco Beltrami (13:10 To Yunma, Hurt Locked, The Thing 2011, Knowing), que realiza aqui um ótimo trabalho, alternando os temas mais tensos, com outros mais descontraídos.
O elenco é bem representativo, com destaque para Steve Zahn (The Wonders – O Sonho Não Acabou), que é reconhecidamente o melhor ator do filme. Paul Walker (Velozes e Furiosos) até surpreende, mas acabou por entregar-se por completo ao filme de Rob Cohen e sua franquia. Já Leelee Sobieski (Hércules 2005) é dona de curvas desnorteantes e belíssimos olhos azuis, mas na hora de interpretar.... Ted Levine (O Silêncio dos Inocentes) não dá as caras, mas empresta o vozeirão grave para fazer de Rusty Nail um ser ainda mais temível. Ainda contamos com Jim Beaver (o Bob Singer do seriado Supernatural) como o Xerife Ritter e Jay Hernández (O Albergue, Quarentena) como um dos fuzileiros.
Joy Ride é isso: uma belíssima homenagem às suas referências e um ótimo exercício de amadurecimento para seus principais envolvidos (Paul Walker, J.J. Abrams e John Dahl). Além de ser um ótimo filme que mescla suspense e humor negro com um timming perfeito capaz de segurar o espectador e causar alguns calafrios. Recomendadíssimo
Eu acho a Leelee Sobieski um tesão e o Steve Zahn parece não ter tido muita sorte na carreira... Interessante ver o Abrams envolvido no roteiro do projeto, eu preciso ver esse, texto muito coeso caro Cristian, parabéns!
Leelee Sobieski = tesão total
Steve Zahn = injustiçado
Paul Walker = rabo virado pra lua
Joy Ride = um filmaço que merece ser visto
Valeu pela generosidade de novo, Lucas!
Haha "Paul Walker = rabo virado pra lua"... Hahaha...
Acho que nem é isso caro, Walker pelo ao menos tem carisma, do contrário do Vin Diesel, de toda forma uma pena ele ter falecido de uma forma tão trágica...