Falhando praticamente em tudo o que poderia propor, Piranha 3D não serve como terror nem como comédia.
Filmes como estes devem ser encarados de duas maneiras: como filme que nos traz a sádica diversão de uma caça humana e/ou do domínio de um monstro ou então como uma brincadeira meio tonta que tenta fazer rir pelo seu exagero. Tanto assim é que alguns filmes de terror fazem rir só pela sua proposta. Que o digam, por exemplo, A Camisinha Assassina, Jack Frost e O Biscoito Assassino. Todavia, a premissa de Piranha 3D não é tão fantasiosa como a destes “terrires”. Assim sendo, é muito mais terror do que comédia. O problema é que não é nenhum dos dois. Porquê? Bem, é uma longa história. Comecemos pelo princípio: a típica imagem do vovô simpático pesca no seu barco num lago. A certa altura, as piranhas libertam-se, o que provoca um redemoinho na água. Ora, acontece que o vovô, no início, não é ameaçado pelas piranhas; antes pelo redemoinho. É então que o vemos tentar desesperadamente fazer o barco fugir dali, para evitar uma horrível morte por afogamento. O nosso pobre vovô simpático está prestes a morrer vítima de uma perversidade da Natureza que o deixa numa luta (em vão) pela sobrevivência. Isso não é assustador nem divertido; é triste. Por que razão foi um velho inofensivo (ou não, sabe-se lá...) a primeira vítima da onda de mortes do filme? É que muitos filmes de terror, em especial os da década 2000-2010 (ou 2009, whatever...) têm a vantagem – por vezes, desvantagem – de ter como personagens pessoas desprezíveis e desprovidas de cérebro. Assim, se algumas delas morrerem no filme, não sentimos pena. Até sentimos alívio! Não é o que aqui acontece; a ameaça à vida do vovô não só não é sadicamente agradável como pode ser desagradável! Não obstante, esta cena inicial termina com um dos momentos mais inspirados do longa (o que não é grande elogio...). Pouco depois de o vovô desaparecer nas águas, apanhamos um susto tipo “Boo!” quando nos é apresentada uma imagem arrepiante e até que bem bolada, que seria muito boa como poster – chega mesmo a lembrar o poster do filme Embalsamado.
Após esta cena “sui generis”, o filme passa a apresentar-nos as personagens principais. Mal a gente sabe que o show de horrores vai começar...é que a partir daí, as piranhas perdem o protagonismo que deviam ter e pouco mais vemos do que uma história tediosa com personagens rasos, cenas de nudez, lesbianismo fácil e ambiente errado de dar dó! E o mais impressionante é a importância que o roteirista parece dar a esta intriga secundária! É assim, os filmes de terror, geralmente, têm uma pequena história de fundo além das famosas cenas assustadoras. Mas a história de fundo deste longa é inacreditável; ganha imenso destaque em relação a essas famosas cenas! E as personagens desta historinha fraca têm direito a bem mais cenas que as piranhas! Além de, por vezes, ela tentar agradar com cenas de gosto duvidoso. Por exemplo...acontece que, neste filme, um personagem, o director de um filme pornográfico (ou erótico, sei lá...) é atacado pelas piranhas. Coberto de sangue, ele grita: “Comeram o meu pénis!”. Isso é para rir? Mais facilmente faz chorar! Se a táctica do filme é esta do riso fácil...
E, infelizmente, as piranhas não aproveitam muito melhor as cenas a que têm direito. As cenas de ataque das piranhas são realmente muito fracas, além de serem poucas. Para piorar, algumas delas são também marcadas por mortes não provocadas por elas! Este é um velho jogo dos filmes de terror que é sempre muito perigoso de jogar. Neste caso concreto, há um barco a motor que, por ir muito depressa em direcção a uma pessoa que está na água, lhe arranca a cabeça. A ligação desta morte com as piranhas é nula. O que pretendiam mostrar com esta morte eu não sei (não sou bruxo), mas a impressão que dá é que o filme se está a assumir como um simples mata-tudo no qual o importante é haver muito sangue ou cenas fortes. Então, pergunto eu, para quê as piranhas? Para esse efeito, mais valia colocar em cena um homem com uma faca. Além disso, o mais patético é, sem dúvida, a ridícula parte em que uma piranha, antes de atacar, deixa de seguir o seu grupo para olhar para a câmara e abrir a boca! Meu Deus, que patético! Como podemos levar a sério uma ameaça que vem dizer “Alô!” para a câmara?!
Aqui, a única coisa que vale é o final. Como já sabemos, muitos filmes de terror gostam de terminar com finais-surpresa. Na maior parte dos casos, os roteiristas nem usam a imaginação para os criar, optando por lugares-comuns que os cinéfilos bem conhecem. Este Piranha 3D, porém, sempre é original. Quer dizer, o final acaba por ser muito parecido com o de muitos terrores que conheço, mas o diferencial aqui é a explicação! Enquanto nesses terrores a explicação para o final-surpresa é preguiçosa ou simplesmente não existe, este terrir vai por um caminho diferente, dando uma explicação fora do comum e com um bom resultado! E, no seguimento desta, ainda apanhamos um susto razoável. Pena que este final não compensa o tempo perdido com o resto do longa...
É assim: o filme é uma grande chateação praticamente redundante.
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