Parece que Hollywood gosta de dar a Jodie Foster papéis que envolvam claustrofobia. Em O Silêncio dos Inocentes, ela enfrentava o macabro Hannibal Lecter e seus embates mais marcantes davam-se em locais fechados, como a prisão. Já em Nell, sua personagem é uma eremita e vive fechada em si mesma. O Quarto do Pânico colocou Foster em um ambiente inexpugnável, junto de sua filha, enfrentando assaltantes. Em 2005, Jodie destacava-se mais uma vez em uma trama claustrofóbica, agora dentro de uma aeronave em pleno ar, no filme Plano de Voo.
O enredo é bastante simples: Kyle Pratt, engenheira, que trabalhava projetando aviões, está em Berlim, onde inicia o traslado do corpo de seu marido - morto após cair do telhado de um prédio - para os Estados Unidos. Nessa viagem ela leva a filha. Dentro do avião que ruma para os EUA, ela e sua filha adormecem. Quando Kyle acorda, não encontra a filha. Ela então inicia uma grande jornada na procura da criança, mas não existem evidências, nem testemunhos de que outra pessoa teria embarcado com ela. Assim, ela tenta provar a todos que não está louca, enquanto procura sua filha.
Dois pontos merecem destaque: primeiramente, o ambiente fechado do avião permite uma trama claustrofóbica, em especial se levarmos em conta que 90% da projeção ocorre nesse cenário. O roteiro aproveita muito bem essa limitação de espaço e arma a tensão de maneira eficiente. Da mesma forma, sobram informações sobre a aeronave, seu funcionamento e seus limitados compartimentos, que não permitiriam que uma criança se escondesse.
O segundo ponto é a opção que o roteiro faz ao apontar diversos rumos para a história, assim evitando uma solução óbvia. O filme pode muito bem ser uma trama sobrenatural, uma vez que chega-se a levantar o fato de que a filha de Kyle estaria morta. Pode ser também uma trama de insanidade, já que o abalo emocional causado pelo impacto da morte do marido faria Kyle entrar em parafuso e assim, imaginar que sua filha estaria consigo naquele avião. E pode ser até mesmo uma trama de terrorismo, já que passageiros de origem árabe estão no bólido aéreo e o preconceito pós-11 de Setembro acaba por irromper em determinado momento. O roteiro cria estas possibilidades e até sugere outras através de pequenas situações que pipocam ao longo do filme.
O personagem de Foster é bem construído e transita com segurança entre a presumida loucura e a sanidade. Sua atuação é muito boa, como de costume, principalmente quando entra em conflito com o Capitão Rich (Sean Bean). Quanto aos coadjuvantes, o filme ressente-se da falta de algum talento. Bean está seguro em seu papel, onde seu capitão é cético quanto a Kyle mas ao mesmo tempo tenta acreditar no que ela diz. Peter Sarsgaard interpreta Carson, um agente federal presente no voo e pouco acrescenta com seu trabalho de atuação. Ele também é cético mas quer acreditar em Kyle. Os demais coadjuvantes são frios e nada somam ao filme.
Robert Schwentke faz direção segura e que não se perde no meio do caminho. Ao contrário, seu trabalho vai melhorando ao longo da película. Plano de Voo é bem fotografado, aproveitando a variação luminosa do avião, tem montagem que torna as sequências de ação mais emocionantes e a trilha sonora é de ótima qualidade. A recriação da aeronave é ótima e todos os seus distintos espaços são bem feitos.
Na meia hora final, o filme toma um rumo interessante. É surpreendente para muitos espectadores, mas pode-se presumir tal solução se juntarmos algumas peças soltas. De certa forma me agradou a solução, já que não cai no convencional. É um bom filme de ação, muito bem feito e realmente claustrofóbico, mas que apenas ressente-se ao ficar sustentado pela imagem de Jodie Foster.
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