“Boys will be boys”.
No fim do século passado apareceu um filme que virou uma das maiores febres cinematográficas da história: Usando uma técnica de filmagem que mesmo já existente nunca tinha atingido o grande público por causa de sua limitação narrativa, A Bruxa de Blair era mais do que um filme repleto de suspense e com uma história instigante, ele conseguia prender a platéia roendo as unhas por boatos que circularam ao redor da produção, levando o espectador a acreditar de que estava assistindo fatos reais. E, por fazer muito dinheiro, esse foi o longa que deu o pontapé inicial dentro do gênero, dando inspiração para vários outros cineastas á usarem esse estilo tão ‘sufocante’. O problema é que com a superpopulação de filmes mockumentary deixou o subgênero do terror gasto e cada vez mais cansativo, e a chegada de Apollo 18 e A Filha do Mal demonstram a incrível falta de capacidade criativa dentro do meio da indústria da sétima arte.
Então, chegamos ao ano de 2012 onde duas produções marcam uma nova era da tal “filmagem encontrada”, ambos usam a técnica de forma orgânica, se tornando – aos poucos – necessária á narrativa. Uma delas é o divertidíssimo Projeto X, que usava o método para incluir o espectador dentro da festa mais épica já vista. O segundo é Poder sem Limites que conseguiu o que todos falharam: Dar novas dimensões ao mockumentary.
Os momentos iniciais se preocupam em apresentar o protagonista Andrew, um garoto que sofre abusos físicos, mentais e verbais do pai, tem uma mãe doente e á beira da morte e ainda sofre bullying no colégio. O adolescente compra uma câmera e começa a filmar todos os momentos de seu dia, usando-a como um escape das dificuldades da realidade. Até que o dia em que Andrew vai á uma festa com o primo Matt (seu único amigo), os dois e o popular Steve resolvem entrar em um buraco perfeitamente circulado feito no meio de um campo, lá os três recebem o poder de mover objetos com a mente, e conforme eles usam esse poder mais ele cresce.
Pra começar, Chronicle tem uma ideia originalíssima: Ao unir dois gêneros (Drama e Ação) com a ajuda da câmera na ‘mão’ e ainda acrescentar elementos misteriosos que jamais se esclarecem completamente, o filme monta uma narrativa absolutamente impecável usando a primeira metade para desenvolver a ideia “O que adolescente reais fariam com super poderes?” (além do drama pessoal de Andrew, é claro) e resultando em cenas muito divertidas e inconfundíveis, moldando os personagens para fortificar a identificação do espectador. E esse último aspecto é usado de forma hábil e vantajosa no segundo meio da projeção, que se encarrega de dar uma noção do quão catastrófico pode se tornar ao dar ao adolescente algum poder sem limites (algo que gera uma série de metáforas). E por isso, o clímax acaba surpreendendo pelo impacto que tem ao ser visto pela platéia, que fica de boca entreaberta com surpresas e acontecimentos inesperados que são construídas satisfatoriamente pelo roteiro.
Além disso, o script consegue criar figuras indescritivelmente normais e ainda assim envolventes: Steve é o mais apagado e surge mais como um coadjuvante no meio do drama envolvendo Andrew e Matt. O segundo serve como uma âncora para o primeiro, estabelecendo-se como uma das poucas conexões emocionais presentes na conturbada vida do primeiro, e é triste assistir o desgaste dessa relação que vem junto com o ato final. Surgindo como uma das surpresas do filme, Andrew é criado de maneira espetacular pela construção cuidadosa da trama, evoluindo uma daquelas limitações clássicos ao filme em primeira pessoa: Os personagens rasos. E com isso, aos diálogos do protagonista soam como naturais e ‘possíveis’ e suas ações descontroladas são convincentes por causa da importância que é dada aos acontecimentos que a antecederam, que ficam cada vez mais graves.
E o fato de os personagens conseguirem mover coisas com o pensamento, expande mais uma barreira do mockumentary, dando liberdade para Andrew movimentar a câmera por onde quiser, dando ângulos e visões curiosas sobre as cenas. Além disso, e mesmo que em um ou outro momento a presença da câmera seja absolutamente forçada, o diretor Josh Trank consegue manter um porque de tudo estar sendo filmado (um problema decorrente em filmes que usam dessa técnica) criando situações que usam essa ‘limitação’ para ajudar no desenvolvimento narrativo – e as ideias implantadas no clímax são ótimas.
Utilizando, ainda, várias questões críticas sobre a juventude atual, Poder sem Limites é um dos melhores filmes do ano, por usar bem estilos datados e ultrapassados á seu favor ao criar uma história que se aproxima demais do espectador, se tornando incrivelmente impactante. Além disso, é bom ver um bom filme sendo contado em primeira pessoa que não tenta dar sustos baratos na platéia.
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