"Ponto de Vista" é daquele tipo de filme que tinha tudo para ser lembrado pelos amantes do cinema. Um elenco recheado de estrelas, uma forma interessante e um roteiro até certo ponto inteligente. No entanto, uma série de erros fazem com que o longa seja apenas bom e se torne esquecível na mente dos cinéfilos. A história gira basicamente em torno de uma conferência mundial antiterrorismo na cidade de Salamanca, Espanha. Lá, dois agentes secretos americanos têm o dever de proteger o presidente dos Estados Unidos de um possível ataque. Obviamente, o que já era temido acontece: o presidente Ashton é baleado, e, após isso, se inicia uma busca incessante atrás dos terroristas que atingiram o americano.
O primeiro grande erro do diretor Pete Travis e do roteirista Barry Levy é na ideologia de seu filme. Por que? É simples; como na maioria dos longas hollywoodianos, Travis pinta o presidente americano como bonzinho e pacificador, como se ele quisesse a paz e fosse completamente contrário às políticas agressivas do seu próprio país. No mesmo barco, ganha um doce quem advinhar de onde vêm os terroristas. Sim, de um país de terceiro mundo; nada de franceses, italianos ou irlandeses – eles vêm do Marrocos. Embora o roteiro seja absurdo pela extrema quantidade de esteriótipos e por partir de um pressuposto determinista, quem conseguir ignorar esses ‘pequenos’ deslizes será recompensado, eu garanto!
Como vocês, leitores, já puderam perceber, falei bem e mal do roteiro; como assim? Pois é, sem dúvidas há muitos pontos falhos na história em si, no entanto, ao optar por contar os 20 minutos anteriores e posteriores ao atentado terrorista sob pontos de vista distintos, Barry Levy acertou em cheio, pois conseguiu criar uma trama original (apesar de ser diretamente inspirada em obras clássicas como o japonês "Rashomon"). A ‘falsa’ originalidade faz com que o espectador fique apreensivo durante a uma hora e meia de filme; para ser sincero, é raro ver um longa deste gênero que prenda tanto o público; "Ponto de Vista" acerta e muito nesse quesito. A cada nova história que é contada o espectador fica com a pulga atrás da orelha acerca de quem é o terrorista, aliás, palmas merecidas para a montagem do filme, que é simplesmente sensacional (deve ter dado um baita trabalho!). Isso torna a trama interessante, pois o diretor cria uma espécie de jogo de advinha com o público, que se deixa entrar na brincadeira e até arrisca os seus palpites. Da última história em diante, já na parte final, "Ponto de Vista" flui de maneira natural; toda a cena trabalhosamente construída em torno do atentado ao presidente vai deslanchando, deslanchando, deslanchando; sorte de quem está assistindo, que é brindado com uma das sequências mais emocionantes que eu vi nos últimos anos.
Grande parte do sucesso do longa se deve ao bom elenco escalado por Pete Travis. Salta aos olhos o nome de Matthew Fox, o Jack, da premiada série "Lost". Aqui, ele repete alguns dos trejeitos de seu personagem ’salvador do universo’ da série. Mesmo assim, é muito legal vê-lo atuando com competência também nas telonas. Além dele, figuram algumas estrelas já consagradas do cinema norte-americano, como Forest Whitaker, oscar de melhor ator por "O Último Rei da Escócia" e que no final proporciona uma das cenas mais bonitas do filme, e Dennis Quaid, conhecido pela regularidade em seus trabalhos.
"Ponto de Vista" passa longe de ser brilhante, tampouco é um trabalho memorável. Ainda assim, recomendo para quem gosta do gênero, especialmente para aqueles que buscam no cinema um filme que seja pura adrenalina do início ao fim. Para os que torcem o nariz só de pensar em tiros e batidas de carro, só digo que vale a pena ao menos dar uma olhada no resultado final da obra de Pete Travis, que aliás, é estreante em hollywood. Para ser sincero, gostei do que vi, e, ainda mais por ser um primeiro trabalho, é bom ficar de olho nesse diretor. Quem sabe ele consiga aprender com os erros e nos brinde mais para frente com uma trama ainda melhor. Nos resta esperar.
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