"Onde a vida já não tinha mais valor, a morte às vezes tinha o seu preço. Eis que surgiram os caçadores de recompensas"
Após concretizar seus conceitos em seu filme antecessor, Sergio Leone começa a respirar ares mais ambiociosos, trazendo roteiros soberbos e desbordando criatividade. Em 1965 o western-spaguetti ganha sua primeira obra-prima, Por Uns Dólares a Mais, regida cautelosamente para uma projeção do que viria no episódio seguinte da trilogia. Mas de todos os filmes de Leone, o que viria a ter o estilo mais copiado pelos seus conterrâneos seria a segunda parte da trilogia, designada a perpetuar a figura do forasteiro em busca de vingança, onde Leone converteria tal figura num formato de perfeição em Era Uma Vez No Oeste (C'era Una Volta il West, 1968) com Charles Bronson.
Mas toda a emblemática figura do homem em busca de vingança teria sua origem nos westerns italianos com Lee Van Cleef. Reforçado nessa tese, o gênero criaria histórias basicamente com o mesmo argumento, que viria a acarretar em um desgaste na forma como isso seria utilizado em inumeros outros filmes do gênero, tornando-os exaustivamente repetitivos. Mas o estilo individual de Leone em explorar tais aspectos, caracterizam os seus anti-heróis vingativos desiguais de qualquer outro personagem do tipo. Van Cleef divide tela com a mesma relevância que Clint Eastwood, assim como viria ocorrer em Três Homens em Conflito (Il Buono, il Brutto, il Cattivo, 1966), com Eastwood e Eli Wallach. Desse modo Leone estima o peso de um co-protagonista no seu ambicioso último da trilogia, sem perdas para a trama e sem perder o foco em Por Uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro in Più, 1965), Leone consegue esquematizar tudo o que seria realizado em Três Homens em Conflito.
El Índio (Gian Maria Volonté) é um perigoso bandido e assaltante que é liberto pelo seu grupo em um plano de fuga bem sucedido. Desse modo a recompensa pela “cabeça” de cada um do bando aumenta, despertando o interesse do “homem sem nome” de Clint Eastwood, exímio caçador de recompensas, disposto a infiltrar-se no bando para alcançar seu objetivo, com isso ele alia-se a outro caçador de recompensas, Coronel Douglas Mortimer (Lee Van Cleef). Juntos os dois tentarão concretizar seus planos, com muita inteligência e, especialmente, com balas.
Os poucos deslizes do roteiro passam quase que imperceptíveis aos olhos do público, sendo condizente em todos os seus fatos. Luciano Vincenzoni e Sergio Leone eliminam todas as possibilidades de entrenimento barato e violência gratuita, enfatizando a criatividade narrativa enriquecida detalhisticamente com o prenuncio de que tudo aquilo seria puro cinema. Técnicamente mais aprimorado do que em Por Um Punhado de Dólares (Per Um Pugno Di Dollari, 1964), Leone consegue um excelente resultado em seus zooms e closes, e tendo seus conceitos de filmagens cada vez mais alinhados. Os seus planos sequencias amplos enriquecem ao som vibrante de Ennio Morricone, sendo o encaixe para um visual esteticamente brilhante.
Considerada por alguma minoria como o melhor da trilogia, Por Uns Dólares a Mais consegue ser extremamente eficiente em todos os seus aspectos. Em nenhum momento torna-se monótono ou cansativo, aprofundando-se em personagens com personalidades fertéis e abrangentes para uma concepção técnica invariável de Sergio Leone, que entrega uma obra majestosa e que, apesar de não superar a terceira parte da trilogia, consegue manter sua vitalidade e estar entre os melhores westerns já feitos, tendo o visual mais copiado no western spaguetti.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário