“Emmet Ray é o segundo maior violonista de jazz do mundo. Ele só é suplantado em talento por um belga de origem cigana chamado Djando Reinhardt, o qual ele não pode escutar sem ser levado as lágrimas. Também não o pode ver sem sofrer um delíquio. Ray também é fantástico, um gênio, só que não consegue se adaptar dentro do mundo real. Ele também é um jogador de bilhar, um cafetão e cleptomaníaco. Ele conhece uma jovem lavadeira muda que despreza em um primeiro momento, mas pela qual cai amoroso. Não aceitando se quedar a tal sentimento ele a abandona e acaba casando com uma jornalista que leva uma vida tão mundana como ele. Essa união está condenada ao fracasso desde o princípio. Com o fim do relacionamento ele busca a antiga amada e a encontra já comprometida. O filme termina com uma cena em que cada um dos que a narram tem uma versão distinta. Emmet Ray desaparece do cenário artístico lentamente, logo após destruir seu violão em um momento de angústia maior...”
Não é de hoje que Allen nos presenteia com uma obra por ano. Também é sabido por todos que seguem a sua carreira a predileção que ele tem pelos documentários (ou falso documentários) pontuados pela opinião de entendidos pela época e pelo retratado. Foi assim em “Um assaltante bem trapalhão”, “Noivo neurótico, noiva nervosa”, “A Era do Rádio” e “Zelig”. Ainda que esse filme não nos leve a gargalhada como em “Um assaltante bem trapalhão”, nem atinja a genialidade de “Zelig”, não deixa de ser uma obra desprovida de encantos. É um filme que cresce muito, à medida que o recordamos. Não nos laça de imediato.
O filme recebeu indicações aos oscar pelas atuações realmente competentes de Sean Penn que constrói um violonista que cativa pelo que tem de inapto e de Samanta Morton que cria uma Hattie (uma lavadeira muda) que lembra muito as performances das atrizes do cinema mudo.
A questão que me desperta seria: Quem é o retratado no filme. Ora, sabemos que Emmet Ray é uma criação da mente de Allen, levada as telas num desempenho correto de Sean Penn. Mesmo assim essa figura fictícia pode nos levar a crer (ou ver) que o verdadeiro retratado é Django Reinhardt, o cigano belga que se deixou influenciar pelo jazz e se imortalizou. O que Allen em suma fez foi refletir Django em solo americano (o qual fora por sua vez um reflexo do jazz em solo europeu). Aqui é necessário postar algo a respeito do jazz. Esse estilo musical (antes da chegada do rock) aglutinou a canção tradicional o legado cultural dos negros e ganhou o mundo. Em solo americano foram os judeus os primeiros a se apresentar perante o grande público já que era possível aceitar assim, em uma sociedade tão racista, a arte superior dos negros. No caso tupiniquim foi o chorinho (a forma é originalmente brasileira, mas o fenômeno possui semelhanças com o jazz) executado pelos negros e mestiços em cidades como Porto Alegre e Rio de Janeiro principalmente. O filme retrata com fidelidade a década de trinta nos EUA. A fotografia de Fei Zhao contribui muito para tornar tudo tão crível, além da presença de atores negros que dão sustentáculo ao retratado por Allen. Porém Allen não é tão simples para se findar de maneira tão rápida. Pode-se pensar também, sem medo de errar, que o próprio retratado é o diretor. Allen colocaria nas telas um de seus medos. Django Reinhardt representaria aqui Bergman ou Fellini( Emmet Ray seria o próprio diretor). É sabido que Allen tem uma autocrítica muito desenvolvida, além de sempre demonstrar admiração pelos diretores citados, que o fazem sempre sentir um diretor que fica a sombra daqueles. É a forma de se exorcizar aquela sensação de se saber incompleto.
Já afirmei em vários outros comentários que Allen mesmo nos dias de hoje permanece buscando novas formas de apreender o mundo e de mostrar novas vertentes de seu talento. Não é um diretor em decadência. É um gênio que busca novas formas de se expressar. E tal já se deu em várias épocas de sua carreira. Em suma uma obra que merece destaque e sobre a qual qualquer impressão longe esta de ser a definitiva
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