Logo na introdução, ao mostrar McCabe cavalgando sob uma forte chuva com a música de Leonard Cohen tocando ao fundo, Robert Altman já deixa claro que seu filme não é um western convencional. O diretor foge de alguns clichês do gênero e cria uma hipnotizante atmosfera de melancolia que se sustenta até o final, reforçada excelentemente pelo tom da fotografia e pela trilha sonora composta pelo já citado Leonard Cohen.
Warren Beatty além de interpretar de forma excelente John McCabe, também teria contribuído com o ótimo roteiro, sem ser creditado. Seu personagem é um misterioso jogador que chega a um vilarejo onde tem a fama de ter assassinado um perigoso homem, lá ele monta um bordel em sociedade com Constance Miller, uma cafetina interpretada por Julie Christie. O negócio prospera, mas quando uma grande companhia aparece querendo comprar as propriedades de McCabe, tudo começa a se complicar. É aí que ele tem que mostrar o homem que realmente é.
McCabe está longe de ser um procurado fora da lei, mas o filme me lembra “Pat Garrett & Billy the Kid”, de Sam Peckinpah, que seria lançado dois anos depois. Não só pela trilha sonora que ajuda a compor todo o clima de ambas as obras e que no filme de Peckinpah foi composta por Bob Dylan, que se assemelha ao ritmo de Cohen. Mas, principalmente, pela época retrata nas duas obras. Peckinpah mostra o começo da decadência do Velho Oeste e Altman ambienta seu filme poucos anos após esse período. Uma época onde não há mais lugar para pistoleiros e foras da lei, que estão sendo engolidos pela ascensão do capitalismo e as promessas de desenvolvimento trazidas pelo mesmo, assim tendo todos que se adaptar a essas mudanças.
Ironicamente, o gênero western que entraria em decadência anos depois. E poucas cenas mais de tensão entre pistoleiros seriam tão bem filmadas como Altman fez na perseguição na nave. Mas assim como o gênero, esse trabalho de Altman também serviria de influência para as próximas gerações de cineastas, basta assistir a “Sangue Negro”, do brilhante Paul Thomas Anderson, para perceber a influência do trabalho de Robert Altman.
Mesmo Altman sendo cerca de 20 anos mais velho que alguns cineastas como, por exemplo, Steven Spielberg e George Lucas, ele conseguiu ser um dos grandes representantes da Nova Hollywood, com “M.A.S.H.”, lançado um ano antes, e com este filme, que, mesmo não sendo um sucesso de público e crítica na época, serviu para comprovar o talento e a capacidade do diretor que ainda viria a entregar grandes obras para o cinema.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário