Um péssimo filme, mas extraordinário.
Confesso que esse filme, desde o começo, me causou mal estar. Os personagens são delicadamente chatos, a patroa com toda a sua superioridade, a Val com toda a sua inferioridade, o patrão, com toda a sua tristeza e submissão diante da sua mulher, mesmo ele sendo dono da maior parte do dinheiro da casa, tendo a sua origem de uma herança do pai. O menino usando drogas dentro de casa, "sem lá nem cá", e tendo em prática a Val como mãe. Ninguém nessa casa era feliz, se observar bem, nem mesmo a Val, que automaticamente entra no sistema "de como deve ser feito". E chega a Jéssica, com toda a sua inteligência e vivacidade, meio que surreal, porque também mostra o extremo, ela é uma folgada e manipuladora. Vamos lá, ela também não é um RATO, mas se pegar a fundo o psicológico de cada personagem, a Jéssica é a única que pode trazer traços de falha no caráter. Todos os personagens são chatos, tristes, mas reais, inteiramente reais. O filme "Que horas ela volta?" permite diversos olhares críticos, em vários prismas. A diretora Anna Muylaert conseguiu me surpreender com essa obra, desde "Durval discos".No jogo psicológico e nas poucas falhas técnicas, ela conseguiu extrair o que precisava de cada interpretação, fazendo isso com uma certa maestria, entretanto, ela errou em tentar caracterizar alguns personagens e também na coesão estrutural da obra, aliás, isso é um pouco peculiar dela. Mas, as atuações salvaram esses pequenos erros, principalmente da Regina Casé, que me deu um "tapa na cara", pois fiz uma imagem negativa da atriz em decorrência do seu programa supostamente de gosto duvidoso. E como eu estava enganado...A atriz deu vida ao seu personagem, colocou alma, aliás, muita alma para o seu pequeno limite físico humano. A película consegue gerir inúmeras interpretações e críticas dentro da nossa sociedade, não se prendendo a um formato apenas de avaliação. Por isso adoro cinema! Uma obra prima não é aquela que a maioria ama, e uma minoria odeia. É, na verdade, o que uma boa parte ama, e uma boa parte odeia, e a média a torna grande. Fazer crítica de cinema não é somente olhar o lado técnico da coisa, é sentir, é olhar com os olhos da emoção, senão deixa de ser arte. O filme "Pi.", de Bergman, me causa uma tensão, um nervoso, que não consigo assistir ele por completo. Acho esse filme horrível, e nem por esse motivo individual meu que ele deixa de ser uma grande obra. Essa película tanto pode ser um extraordinário filme, como pode ser péssimo, de acordo com o nosso estado de espírito, das nossas razões e gostos particulares. Essa também é uma causa que torna o filme "Que horas ela volta?" com os melhores adjetivos possíveis, na minha opinião o filme é belíssimo, mas outros podem não compartilhar da mesma percepção positiva. O olhar da emoção é essencial para todo tipo de arte, e a sétima arte não fica de fora. Não é somente ver o lado científico, estrutura e técnico, o cinema pede muito mais do que isso. E a sétima arte agradece.
Minhas humildes desculpas, Regina Casé!
Bela crítica; Concordo quando diz que pera analisar uma obra de arte é preciso, além de conhecimento, emoção.