Talvez o sucesso de Rain Man (Estados Unidos, 1988) possa ser explicado pela sutileza e simplicidade, tanto na direção - extraordinariamente acertada por Barry Levinson - como no roteiro. O até então desconhecido Tom Cruise era lançado ao mundo, e o filme contava com Dustin Hoffmann para aquela que seria uma das melhores atuações que o cinema já viu, em minha opinião.
O filme trata do reencontro - alguns podem não ver desta forma - entre dois irmãos, onde o jovem ambicioso Charlie (Cruise) volta a Cincinatti (sua cidade de origem) após a morte de seu pai, para tratar de questões de herança. Após alguns "imprevistos" no testamento, ele se depara com o autista Raymond (Hoffmann), e por motivos quase óbvios, Charlie o leva para uma intensa jornada pelo território americano, sob a perfeita trilha sonora articulada pelo mestre Hans Zimmer.
O ritmo do filme é bom, e as revelações do passado são trazidas à tona nos momentos certos. Mesmo tendo em mãos um tema delicado, que dá margens para sentimentalismos excessivos, Levinson não se deixa cair nessa armadilha. Pelo contrário, cenas mais fortes são entrelaçadas com outras de aventura e comédia, mais engraçadas que muitos besteiróis americanos, diga-se de passagem - como a cena em que Ray precisa comprar sua cueca. Tudo é tratado de maneira realmente verídica e natural, de modo que diferentes pessoas que assistam ao filme tenham emoções diferentes em momentos diferentes.
Impossível não destacar, também, a química entre os dois personagens. Cruise está seguro em sua atuação diante de Hoffmann, o que, com certeza, foi um grande desafio em sua carreira. Anos depois, ocasião semelhante aconteceria em Perfume de Mulher (Scent of a Woman, Estados Unidos, 1992) com a dupla Frank Slade e Charlie Simms, , vividos por Al Pacino e Chris O'Donnell, respectivamente. Outro acerto no roteiro é a transição do arrogante Charlie para um Charlie mais humano, lenta e despretensiosa - como mencionado na crítica de Daniel Dalpizzolo - dando a impressão que não haveria como ser diferente, principalmente diante de uma figura chamada Raymond Babbit.
Enfim, para quem quer um filme para pensar e refletir, e ao mesmo tempo divertir, não há melhor indicação. Vencedor dos 3 principais Oscar em 1989 - melhor filme, melhor roteiro e melhor direção, além de melhor ator para Dustin Hoffman - impossível ser diferente -, poderia ainda ter levado o de melhor fotografia - vencido pelo também ótimo "Mississipi em Chamas".
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