O cinema de suspense hollywoodiano tem o costume de recolher muitas estrelas e nomes reconhecidos, um roteiro satisfatório e um clima de tensão numa só obra em busca de um ótimo filme que seja prestigiado, mas principalmente, retribua o lucro investido. Obras como “Silêncio dos inocentes” e “Seven”, suspense cerebrais excelentemente conduzidos, estão em verdadeira escassez desde o começo da década de noventa, com uma avalanche de filmes falhos com alguns poucos que se destacam pela qualidade. Em 2000, Robert Zemeckis tentou fazer um novo exemplar de suspense cerebral, mas não foi muito feliz em sua escolha, produzindo uma obra muito fria e excessivamente monótona, prejudicada principalmente por sua trama fraquíssima.
A história tem início quando Claire (Pfeiffer), uma mulher que ainda se recupera da traição de seu marido, começa a ver vultos e aparições de uma jovem em sua casa, alegando que ouve vozes que chamam o seu nome e dizem coisas perturbadoras. Assustada, ela recorre para tratamento psicológico e para a ajuda de seu esposo Norman para tentar parar com as alucinações dela. Mas algo parece mais forte do que ela, tentando informá-la de algo desesperadamente antes que seja tarde demais.
Tentando a todo momento fazer momentos de suspense surpreendentes, mas falhando na maioria que tem chances de realmente conseguir, seja por insistir em sempre ficar guardando as surpresas do final ou ficar fazendo uma balança de cenas chatas e que conseguem alguma porção de tensão que acaba por irritar quem assiste. Surpreendentemente monótono, o filme só engrena no final, onde cai no lugar comum dos filmes de suspense, com muita correria e protagonistas imortais, mas consegue dar uma empolgada na história entediante. Para se ter uma idéia da precariedade da trama, a película fica em toda sua projeção “articulando” o mistério de que se existe um fantasma mesmo e o que ele quer com Claire, mas no desfecho joga tudo a perder com uma aparição ridícula e prova que não há resquícios de ousadia naquilo tudo. Enquanto algumas cenas são toscas, como aquelas em que a protagonista vira uma nadadora profissional e acaba descobrindo coisas no fundo de um lago perto de sua casa, outras poucas conseguem capturar o suspense desejado desde o início do filme, mesmo de forma momentânea, como por exemplo a melhor da película: a cena da banheira.
Tenho certeza absoluta que Robert Zemeckis faz filmes muito melhores quando adentra em gêneros como aventura e dramas, visto o estrondoso sucesso da trilogia “De volta para o futuro” e o oscarizado “Forrest Gump”, dando uma boa escorregada em tentar fazer um filme de suspense que realmente funcione. Mesmo que tenha arriscado em outro gênero, o diretor parece que dirigiu tudo aquilo pelo cachê e não por prazer pessoal, fazendo uma direção simples e convencional que diminui o potencial dele em fazer obras admiráveis.
Os atores são bons e bastante conhecidos pelo público em geral, sendo eles os principais responsáveis por dar uma faceta ilusoriamente séria e assustadora ao filme. Michelle Pfeiffer está muito bem e linda como sempre, transmitindo uma segurança naquilo que está fazendo, refletindo estar confortável num gênero ao qual já tem alguma experiência considerável, ajudando e muito na construção de um bom clima de suspense. Harrison Ford não enfrenta grandes problemas para seu desempenho, apenas continua uma boa atuação de um bom ator que escolhia bem melhor seus filmes antigamente.
A fotografia do filme é bastante gélida, com um aspecto frio nas imagens e cenários que abusam de nevoeiros quando ao ar livre, abusando de fumaças, espelhos e reflexos pra tampar o buraco que devia ser preenchido com uma inexistente tensão do roteiro pobre. A obra usa diversos outros artifícios visuais para aumentar aquela sensação de mistério incômodo, mas são poucos os que fluem naturalmente, prejudicando a obra por fazer forçado aquilo que deveria ser construído com cautela.
Um filme que sobrevive de nomes, se o elenco e o diretor não fossem conhecidos, cairia no esquecimento facilmente com suas passagens clichês e sua história tão básica que se torna algo chato de acompanhar. Um suspense convencional em excesso, que cumpre sua meta de diversão fria e passageira, mas nunca vai além disso. Serve mais pra promover Michelle Pfeiffer, visto que ela é um dos maiores destaques do longa, e para aquelas noites de sábado quando o “Supercine” não tem mais nada de bom pra passar, se não vai ser mais uma experiência insatisfatória e vazia vinda novamente da mediocridade de Hollywood.
“E sempre que olho para você, me lembro dela”- Norman
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