Roma(idem, 1972) é o testemunho de Fellini sobre a capital italiana que entre contrastes de sua época e a época da realização do filme(anos 70) se confunde dentre outras coisas semelhanças não explícitas, como teatros do seu tempo e travestis, prostitutas de agora que tornam as ruas em um verdadeiro teatro. Mas fora esse acaso, principalmente do que Fellini tenta traduzir é que principalmente a banalização dentre tantas coisas como o amor chegou a um ponto extremo onde não se há uma essência que seja fundamental para a vida, e segundo Samuel Fuller a definição do cinema: emoção.
Júlio César, Loba, Coliseu, mulheres, religião e uma narrativa convidativa e rápida de Fellini sobre o seu falso documentário bordam fases e visões pessoais que em diferentes ângulos de câmera e o seu toque extravagante tornam não só monumentos históricos em pedaços esquecidos de terra mas também monumentos aquele que remetem a uma década que Fellini supervaloriza e traz assim um jovem que nos acompanha pouco pela história, somos quase infiltrados olhando toda a macarronada que voa pelas mesas, os personagens estranhamente simpáticos.
Talvez seja dessa questão da decência que Fellini critique tanto que ajude a não colaborar com um retrato mais sólido, mas é graças a isso, dessa originalidade que as lentes de seu diretor não passem despercebidas pelo público quando se voltam desde a Greta Garbo rapidamente até o romantismo e o bordel de cada época. Se hoje, o fácil acesso a tais meios proporcionem para todos a felicidade e o prazer, para Fellini se trata como superficial, e valoriza poeticamente as beldades ou musas quando raramente se tem a chance de fazer o sexo com um desejo mais voraz e verdadeiro que tanto valoriza a raridade do ato.
Quando o trânsito de Roma aparece acentuadamente, a um Fellini que sobre tudo não discute apenas assuntos específicos de forma original mas também reclama aquele desconhecimento e identidade anônima de todos e de si mesmo, pois não é atoa que seu retrato seja impressionista. Muitas vezes injusto, sua visão pessimista traz a tona algo sincero e comparativo em sua filmografia. Se em Amarcord(idem, 1973), ele mostra essa vida ideal para ele, conservadora e aventureira, por que mesmo que em um pequeno vilarejo o tédio ainda é vencido, em Roma(idem, 1972), Fellini descaracteriza essa vida tão sem graça que vive na mesmice transparecendo a mais um tempo em que o italiano sobreviveu para experimentar o gosto amargo do colapso da sociedade perfeita.
E sobre sociedade, estranho ou não, aqui é tratada em quase uma utopia que critica o ideal de outros jovens que provavelmente muitos também tinham essa utopia necessária de modo certamente pessimista principalmente em relação a evolução. Se antes os travestis, cabarés arruinados e casas de tolerância ficavam escondidos, e guardavam a magia que tanto Fellini discute em seu filme, aqui nessa Roma que ele vê, que se assemelha em certos pontos com a São Paulo de Luís Sergio Person.
Dentre tantos fatores que envolvem a mente, embora se limitem muito em suas longas horas, dão um charme especial ao filme, dentre tantas conversas que Fellini tem em suas películas, a comparação feliz dessa divina(ou não) sociedade, resta apenas voltar para a mesmice e banalizar até o que era mais divertido e emotivo justamente por que era “raro”. Por isso a senhora que assiste ao desfile de moda da igreja se pergunta tanto aonde está essa Roma, ou esse sonho, como que tudo aconteceu. Certamente foi o tempo que devorou e transformou tudo, mas é dessa ironia e falta de vergonha que rasparam e sujaram tanto a sociedade que beira a pura decadência. Para onde vai tudo? Nem Fellini nem o cinema sabem ao certo dizer para onde está destinada o futuro ou o pingo de amor puro e verdadeiro, romântico, enfim. Em outras palavras: “Alea jacta est”.
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