"Me mostre como luta"
O boxeador Vinny Pazienza é um sujeito corajoso, intenso, que encarava todo desafio como algo derradeiro em sua vida e por isso indigno de sua desistência. Já diretor Ben Younger é um cagão. A maneira como o cineasta desperdiça a história de seu protagonista, que no auge da carreira fratura o pescoço em um acidente de carro e, contrariando os médicos e todos à sua volta, volta aos ringues quando não esperavam nem que voltasse a caminhar por aí, deveria ser considerada crime.
Miles Teller, que sempre repito, é, provavelmente, o maior de sua geração - e o que ele faz em Whiplash não me deixa mentir -, até tenta conferir algum coração a Sangue Pela Glória, encarnando o protagonista com um olhar decidido que comove em diversos momentos, mas tudo fica difícil quando o diretor parece não saber nem ao menos o que faz comandando o filme. Filmes de boxe, desde os primórdios do cinema sempre foram mais sobre o que acontece fora dos ringues do que dentro, mas é inegável que quando o clímax canaliza os dramas de longe das quadras para uma luta, ela precisa representar a catarse para os personagens e para o espectador, que tanto dedicou aos envolvidos nela. O que Younger faz, então? Ele foge. Não, não recuar à espera do momento de nos dar aquele golpe certeiro. Ele foge. Ele pula as cordas e sai chorando.
Nunca o boxe, um dos esportes mais bonitos - nunca foi só violência e se você acha isso, o problema é seu -, foi tão mal filmado. Younger e o diretor de fotografia Larkin Seiple mantém a câmera constantemente na mão, o que ao lado dos cortes exagerados de Zachary Stuart-Pontier, nos impedem de entender o que acontece durante os combates. Prova disso é que, ao fim do filme, quando o resultado da luta derradeira é anunciado, não conseguimos entender o que levou a ele, já que não pudemos assistir a luta, porque o filme fugiu dela - o que também nos impede de saber se Teller convence como boxeador, o que torna sua mudança física quase desnecessária. Não que Younger se saia muito melhor fora dos ringues, já que, talvez buscando não exagerar no sentimentalismo, filma todo o drama do protagonista com uma distância assustadora, como se uma conversa importante com seu treinador (defendido com dignidade por Aaron Eckhart) ou uma importante consulta médica tivessem o mesmo peso de uma briga com um namorada que nunca mais é lembrada quando sai de cena.
Younger até então só havia dirigido filmes sem expressão e se esperava que esse Sangue Pela Glória fosse uma virada em sua carreira, mas, levando-se em conta que até decepções como Nocaute possuem seus momentos empolgantes, esse filme só pode ser o jab que faltava para jogá-lo no esquecimento.
Belo texto. Já não estava empolgado a ver. Vou dedicar o tempo a outro.
dedique comigo, condão da massa