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Intrigas de oportunismos, negócios, vigarices e mal entendidos, «O Apartamento» é um dos melhores filmes de Billy Wilder, e sem dúvida, uma das suas obras mais refinadamente elaboradas. Foi o seu único trabalho a vencer nos Oscares (faltou apenas atribuir estatuetas ao fabuloso par de protagonistas, Jack Lemmon e Shirley MacLaine), e se à época constituiu um exemplo tanto de "choque" cultural nos EUA como de inovação no Cinema Americano. E essa controvérsia está muito bem expressa num pequeno momento de um dos primeiros episódios de «Mad Men», onde há uma pequena conversa entre duas ou três personagens sobre as suas opiniões do filme e o que este lhes faz refletir nas suas próprias vidas. O criador, Matthew Weiner, assume a grande influência que a obra de Wilder provocou nesta sua trama de publicidade, e ainda hoje (e tal como o espírito Wilderiano de outros títulos consagradíssimos nos nossos dias) continua perfeitamente provocador, esclarecedor e divertido de se ver. Tal como «Double Indemnity», ou «Sunset Boulevard» ou até mesmo «Stalag 17», «O Apartamento» consegue explorar e abordar temas tabu que a sociedade americana tende a esconder, mas que apesar de tudo nunca deixam de declarar a sua existência na vida quotidiana. O humor sarcástico e satírico de Billy Wilder nunca foi tão feroz como neste filme, que faz uma crítica incisiva, mordaz e construtiva aos americanos que difere muito daquilo que os espectadores se habituaram a ver no cineasta. E ainda bem, porque «O Apartamento» torna-se quase um épico das relações humanas para o nosso olhar, e um retrato da Humanidade que sempre se mantém igual nas pequenas coisinhas que tanto nos incomodam, como nos causam fascínio ao mesmo tempo. Com uma bonita banda sonora de Adolph Deutsch, no filme acompanhamos a história de C.C. Baxter (Lemmon), um trabalhador de uma das maiores companhias de seguros dos EUA insatisfeito com a sua condição, mas contente pelas "negociatas" que consegue arranjar com os seus superiores.
Baxter é matreiro e ganha uns trocos graças ao seu apartamento, onde os "big bosses" da companhia vão passar a noite com as suas amantes. E se formos a ver, a tradução brasileira do título do filme («Se Meu Apartamento Falasse») diz muito de tudo o que envolve a pequena casa de Baxter, e tudo o que ela poderia contar se tivesse esse dom humano. Muitas situações criadas por este esquema lucrativo irão causar-lhe alguns enormes sarilhos, e são elas que nos propiciam um fabuloso filme, tal como o conservadorismo "disfarçado" das personagens, a importância do "status" e a acusação das falhas do trabalho massificado e da abundância de "igualdades" nas funções que cada indivíduo desta empresa tem de cumprir. Baxter utiliza o seu apartamento para garantir a sua estabilidade, como também poder subir profissionalmente e aproveitar qualquer oportunidade dada por esta "oferta" feita aos chefes da empresa. Esperando por cunhas ou apreciações empresariais, Baxter acabará por se apaixonar por uma das suas colegas (a maravilhosa Shirley MacClaine), que tem algo a esconder. E não revelando mais nada da história, pode-se dizer que Lemon faz um trabalho genial, aproveitando a espantosa energia utilizada para os melhores gags de «Quanto Mais Quente Melhor» para dar corpo a este homem auto-depreciativo e auto-confuso. No meio das máscaras e dos segredos das pessoas, que as conseguem tornar demasiado frágeis quando revelados, «O Apartamento» é um filme de cariz insensível que fala sobre as sensibilidades e a obscuridade que a formalidade do género humano não consegue cobrir, graças à genial construção dos elementos narrativos e das piadas que polvilham até as mais pequenas e insignificantes cenas, e há tanto para rir e refletir em «O Apartamento» que é normal que se nos escapem, a um primeiro visionamento, grande parte dos apontamentos humorísticos de Billy Wilder. Humor esse que se conjuga com um drama inspirado e provocador, repleto de intensidade, acompanhado pela personagem carismática e igualmente triste de C. C. Baxter, onde Lemmon esteve mais versátil do que alguma vez foi - ele não é só o "bobo da corte", mas também um ser humano profundo e que está aflito com os que o influenciam.
«O Apartamento» filma os "desgracadinhos" da vida, que não se distinguem pelos rendimentos económicos ou pela intelectualidade da sua essência, mas pela deprimência com que levam o seu dia a dia, deixando-se ir pelas tendências ou pelas influências, reclamando depois daquilo que poderiam ter feito, mas que não quiseram levar a cabo. Mas nem tudo são interesses, e as intrigas românticas quebram as fortalezas pessoais das personagens, que se iludem por várias vezes com as suas próprias ilusões. É uma história amarga e comicamente entusiasmante sobre as tragédias humanas e as opções de vida que tomamos, que trazem uma série de consequências que, na sua maioria, não esperamos que aconteçam. E mesmo que alguns se considerem fortes dentro de um coletivo, nunca deixarão de se sentir sozinhos na sua própria solidão, como acontece com Baxter, que resiste a mudar a sua atitude para seu próprio benefício, e até mesmo com os seus "bosses" prepotentes. Um dos filmes mais complexos de Billy Wilder, que por sua vez, é um dos realizadores mais inteligentes, irónicos e filosóficos da História do Cinema, sem dar a entender que há uma grande componente de filosofia nas histórias que a sua câmara conta. Uma peça lindíssima de Cinema que merece não só Oscares, mas honras e glórias até ao fim dos tempos.
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