Um dos diretores japoneses mais aclamados da atualidade, Kiyoshi Kurosawa resolveu simplificar uma ideia e a transpor em 60 minutos. Com uma bagagem respeitável nas costas, o diretor pareceu querer se reservar aqui e realizar um ''pequeno filme'', sem grandes pretensões; em contrapartida, o resultado saiu muito acima do esperado, inclusive pelo próprio Kurosawa. A simplicidade em contar a trama é a chave para o bom andamento deste média; alinhada à um constante clima de suspense, que nos deixa esperançosos à todo momento.
A película narra a ida de uma viajante chinesa à Rússia; esta encontra-se à procura de um japonês que conheceu em um jantar. Aliás, não é bem uma ''procura'' e sim uma caça ao indivíduo. Partindo deste ponto, imagina-se que a garota estrangeira está apaixonada pelo homem; uma paixão desesperadora que contrareia qualquer dúvida à respeito disto. Ao andar da carruagem, fazemos diversas descobertas em torno desta suposta ''obsessão platônica''. E este acaba sendo o maior trunfo da narrativa, pois à cada minuto que se passa de projeção é um enganamento a mais que vem à tona; somos pegos de surpresa com revelações imprevisíveis; e que nos fazem sentir cada vez mais vontade de desbravar os segredos que ainda restam na trama. É uma capacidade incrível que Kurosawa possui aqui: de nos entreter em um tempo reduzido com uma história maravilhosamente reviravoltesca.
Conhecendo devidamente os problemas políticos que a nação russa enfrenta, Kurosawa dá a ideia de que o seu filme se passa em uma terra de leis extraviadas. Um terreno onde pode-se facilmente realizar encontros criminosos sem que o Governo imponha seu poder contra as milícias espalhadas por seu vasto território. Além disso, retrata também a dificuldade que as famílias russas têm de se desprenderem dos antigos costumes socialistas; evidencia o preço alto que custa para abrir uma empresa e fazer com que o negócio renda. Ainda mais em uma região tão distópica do centro comercial global como é Vladivostok. A ambientação climática fria da cidade parece estar igualmente presente na personalidade de seus cidadãos, tachados aqui como rudes; embora em certos momentos o diretor nos passe a ideia de que o povo russo possui na verdade uma atitude interesseira, como visto na cena final.
Mais do que as passagens reveladoras, este média-metragem ainda apresenta argumentos sobre o ambicionismo capitalista. Em algumas cenas, Kurosawa escreve diálogos que nos levam à refletir sobre as ambições que possuímos na vida; e até aonde elas podem nos ajudar a nos libertarmos financeiramente e nos tornarmos totalmente independentes do dinheiro de pessoas próximas. Contrastando sempre a falta de competitividade dos russos ante à rapidez e agilidade dos japoneses. Afinal, quem nunca teve a audácia de querer ser milionário? Esta felicidade proporcionada pela possessão de dinheiro consequentemente nos dá poder. E a última frase é simplificada de forma bela no filme através de uma canção cantada pela própria protagonista.
Uma rápida porém muito satisfatória história contada por um veterano do cenário oriental, ''Seventh Code'' é um trabalho que merecia um abraço maior tanto da crítica quanto do público em geral, pois não é qualquer filme que consegue ser tão direto e encantador em tão pouco tempo. Arrisco dizer que está entre as 10 melhores obras audiovisuais produzidas em 2013; e, depois desta magnífica experiência, já estou à espera de novos trabalhos de Kurosawa, um grande realizador que consegue manter sua regularidade apesar de já estar há um bom tempo na indústria cinematográfica.
Discordo de bastante coisa. E não consegui ver tudo isso que vc elogiou. No entanto, seu parágrafo no meio ficou ótimo, deve ser a parte que mais concordo. 😉
filmaço!