"Mais quente que Bond
Mais descolado que Bullit"
Essa frase está impressa em alguns dos pôsteres de divulgação de "Shaft", filme de 1971 dirigido por Gordon Parks, e estrelado por Richard Roundtree.
Apesar de sua aparente simplicidade, essa frase deixa bem claro qual é o diferencial desse filme no Cinema Americano dos anos 70: Shaft é um anti-herói negro, mais precisamente um detetive particular, que não recebe ordens, nem abaixa a cabeça perante as autoridades brancas, pelo contrário: é ele quem dita o ritmo do jogo.
Uma prova dessa superioridade de Shaft, tornando o personagem até mesmo arrogante, é a comparação que essa frase faz com o espião James Bond, na época interpretado por Sean Connery, e com o policial durão Bullit, interpretado por Steve McQueen.
E o que esses dois personagens, também icônicos, guardam em comum? Os dois são brancos, assim como todos os detetives particulares do cinema que vieram antes de Shaft (a exceção é o grande ator Sidney Poitier, interpretando o oficial de polícia negro Virgil Tibbs, no filme "No Calor da Noite", de 1967).
Se Bullit dirigia pelas subidas e descidas de São Francicso, Shaft anda, a pé e de táxi, pelas ruas sujas e cinzentas de Nova York, mais precisamente no bairro do Harlem, um bairro tipicamente negro, atrás de informantes e informações.
Se James Bond estava a serviço da Rainha, Shaft ora estava a serviço de um mafioso negro, uma espécie de Dom Corleone negro, que o contrata na esperança de que ele resgate sua filha, sequestrada por mafiosos italianos, ora estava prestando contas de suas atividades ao policial branco Vic Androzzi (Charles Cioffi).
Shaft se interage com mafiosos, jornaleiros, barmans homossexuais, panteras negras, vendedores de amêndoas, engraxates, informantes, mulheres brancas, policiais brancos, drogados, com a mesma naturalidade que lhe é típica, sem nenhuma distinção de cor, opção sexual ou gênero.
Todas essas interações são embaladas pelo som do soul man Isaac Hayes. O soul e o funk, gêneros genuinamente negros, dão o tom do filme: ora ela é sensual, como na cena em Shaft tem uma noite de amor com sua esposa, ora ela é malandra, com muito "groove", como na cena de abertura do filme, que apresenta o personagem andando pelas da Big Apple.
Resumindo: assista o filme para ver para ver esse personagem fantástico e a trilha sonora igualmente fantástica, porque além desses dois detalhes, o filme é bem mediano e previsível.
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