A surpresa quando assistimos a “Sob a pele” não está simplesmente na nudez (frontal) de Scarlett Johansson, mas, e sobretudo, na condução cinematográfica do seu diretor. No entanto, o resultado não foi da grandiosidade do nu exposto da bela protagonista. Carregado de soturnidade e vagareza, o filme de Glazer até que enche os olhos e ouvidos pelo cenário de uma fria Escócia e pela trilha sonora que lembra o lado leve do post-rock do Mogwai (coincidentemente, escocesa?).
Mas, porque um filme não é só trilha e cenário, a limitação no enredo que nos faz assistir um pouco mais de 45 minutos com praticamente os mesmos acontecimentos (Laura vagando com a vã pelas ruas, encontrando e capturando alguns rapazes) acaba fazendo com que nem tenhamos muito o que nos perguntar (ou ao filme?). A mudança na sequência de eventos – o garoto desfigurado que escapa do “abatedouro” de Laura (realmente libertado por ela?) –, o dilema existencial da protagonista, não parece ter sido bem amarrado. Afinal, já soa um tanto clichê a imagem de um assassino frio que passa a se despertar sua sensibilidade e questionar seus atos (ainda bem que não colocaram o “se apaixonar por uma vítima”), creio que isso vale até para uma alienígena, no caso de Laura.
De fato “Under the Skin” é um filme alternativo, sua lentidão e elipses o faz (ou fará) ser rechaçado por muitos e estimado por poucos. Como não me parece aceitável que um dos grandes méritos do filme seja a exposição da beleza de Scarlet – afinal essa seria a base da opinião dos “muitos” –, nem o clima sombrio do drama existencial e seu desfecho, atípicos para a ficção sobre alienígena – argumentos dos “poucos” –, seria demasiado infundado considerar “Sob a pele” “a obra-prima de 2014”, como alguém disse, e não só porque ele é de 2013.
Muito mais preso a uma exploração sensorial (ouso comparar “Sob a pele” com a música do Sigur Rós, mesmo sem a compreensão do idioma islandês, podemos sentir o clima etéreo de suas canções), primeiramente da protagonista, depois, na interação com ela, do espectador. Sentimos, o tempo todo, imersos nas ambivalências pele/frio, olhos/cenário, ouvidos/som das ruas, experenciadas pela protagonista.
Na verdade, mais do que elíptico, o filme de Glazer está longe de ser fastidioso. O olhar diferente para a vida alienígena em meio aos humanos, é, de fato, um bom atrativo do filme. A pouca, ou nenhuma explicação dentro da trama só incomoda no momento em que prejudica à própria trama, e não ao espectador. Quando terminamos de assistir a “Sob a pele”, ficamos com a sensação de que o diretor acertou bastante, porém, por mais paradoxal que pareça, foi aos seus acertos que ele negligenciou e a ninguém mais.
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