CONVENCIONISMO X IDEALISMO
Cinema é arte, certo? Certo. Poesia também, certo? Certo. Então como arte não é só técnica, mas também sentimento, espírito e inspiração, é aí que reside a força de Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, 1989).
O filme Peter Weir (A Testemunha, O Show de Truman e O Mestre dos Mares - O Lado Mais Distante Do Mundo) parece chato e tedioso a maior parte do tempo, o que não deixa de ser verdade. Ver um bando de adolescentes de famílias rígidas e tradicionais, em um colégio interno só para meninos, instigados por um professor que diverge do sistema tradicionalista da instituição à ler poesia escondidos em uma gruta à noite, não parece o melhor dos roteiros pra se vender.
Mas o que faz o filme atrair tanto a nossa atenção é justamente uma frase dita pelo irreverente professor John Keating, interpretado tão maravilhosamente bem por Robin Williams: "poesia é paixão. E é por isso que lemos poesia. Por que somos humanos, repletos de paixão". Sociedade dos Poetas Mortos é parar e refletir sobre nosso autodescobrimento, liberdade e nossos anseios.
Situado em 1959, o filme conta com toda aquela inoscência inerente à época, como apaixonar-se por uma bela jovem e tentar conquistar seu coração atravéz de versos apaixonados em poemas inspirador por este sentimento; sair escondido à noite para reuniões secretas à la clube do bolinha; abdicar de uma vida inteira de sonhos e desejos para seguir o caminho escolhido pelos pais, etc. Coisas impensáveis hoje em dia.
A escolha de Robin Williams para o papel do professor/mestre motivador, que incentiva seus pupilos a pensarem com suas próprias mentes, sentirem com seus próprios corações e viverem suas próprias vidas, foi excelente, pois além de seu inquestionável talento, o ator conta com um carisma absurdo, e um cuidado e um carinho todo especiais para com seus personagens, fazendo de Keating um instigador, um questionador, sem ser um desafiador. Uma atuação monstruosa. Digna de aplausos.
Os iniciantes Eathan Hawke (Dia de Treinamento; Roubando Vidas) e Robert Sean Leonard (o Dr. James Wilson da série Dr. House) se saem muito bem, mas têm seus personagens muito mau trabalhados pelo roteiro e pela direção convencional e pouco inspirada (que ironia...) de Weir. Todd Anderson (Hawke) é o mais introspectivo e reprimido dos alunos, vivendo à sombra do irmão, ex-aluno exemplar da mesma escola. Por vezes, temos a impressão que Todd foi abandonado e esquecido pelo filme, retornado de tempos em tempos para nada dizer. Uma pena, pois Hawke é bom ator e aqui parecia ter muito mais à mostrar e dizer. Já Neil Perry (Sean Leonard) é um personagem riquíssimo. Ator talentoso, aluno brilhante e líder nato, Neil sofre constante repressão do pai autoritário e controlador, que decide todos os passos da vida do garoto. Porém, essa relação e os sentimentos reprimidos de Neil jamais são explorados profundamende, para compreendermos o que levou ao desfecho apresentado para o personagem. Pontos fracos da obra, mas que não a empobrecem.
O que fica, além das indacações ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Dirção, Melhor Ator (Robin Williams) e Roteiro Original (vencedor), é a lição deixada em cada diálogo do professor Keatong para com seus alunos (embora em alguns momentos pareça forçar a barra). Um belo exemplar do cinema singelo e sensível, que parece cada vez mais raro hoje em dia.
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