O filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, dirigido por Peter Weir e protasgonizados por Robin Williams, conta a história de um ex-aluno da tradicionalíssima escola preparatória Welton Academy chamado John Keating que retorna à instituição para ser o novo professor de literatura. Chegando lá, ele descobre que não vai ser nada mais que um reprodutor das ideias conservadoras e tradicionais imposta pela escola, onde os alunos apenas absorvem aquilo que lhes é imposto e não criam nada.
A história do filme acontece no final da década de 1950 e início dos anos 1960. Nessa época, os jovens da elite norte-americana não tinham opções de escolha para a vida. Os pais já determinavam o que eles seriam no futuro (geralmente profissões como médico ou advogado). Esse anseio que os pais tinham com relação aos seus filhos refletiam no padrão escolar vigente. Cercados de imposições por todos os lados, os jovens acabavam não tendo muito o que fazer senão aceita-las e jogar os seus sonhos fora.
A escola representada no filme, Welton Academy, representa muito bem esse modelo educacional. O fato de a escola ser somente para homens já é um indicativo da sua rigidez. Logo no início do ano letivo, quando o corpo acadêmico da escola é apresentado, são ditos os princípios que regem aquela academia: Honra, Tradição, Disciplina e Mérito. Ocorre uma analogia interessante nesse momento: é apresentado uma vela como símbolo do saber e do conhecimento. A ideia pode parecer bem intencionada a princípio. Os estudantes iram ser guiados na escuridão pela escola. Mas isso também demonstra que, na verdade, eles são guiados cegamente pela Welton Academy, sem sequer parar para conferir o que está nas sombras, fora da luz da escola. Pode-se fazer uma analogia ao mito da caverna de Platão. Os estudantes estão acorrentados dentro da caverna (a própria escola) enxergando apenas as sombras das coisas que estão lá fora.
É interessante notar as funções de cada sujeito dentro deste sistema, em especial dentro do sistema hierárquico da escola. O diretor é o todo-poderoso, todos os outros são inteiramente submissos à ele, inclusive os professores, que são obrigados a seguir o tradicional currículo escolar da escola, seguindo os quatro princípios da escola. A posição do diretor é legitimada pelos pais dos alunos, que querem que seus filhos sigam os seus projetos de vida, olhando a escola somente como uma preparação para a faculdade. O relacionamento entre pais e filhos não poderia ser mais frio. Eles são completamente submissos às vontades dos pais. A concordância dos pais com os atos do diretor é tamanha que ele tem poder para punir severamente os alunos que fogem da dura disciplina da escola. Os alunos, como já foi dito, são obrigados a seguir à risca, sem questionar os métodos ou criar algo novo fora dele.
Quando John Keating chega, ele deseja mudar tudo na escola, desde o relacionamento entre professor e aluno até os métodos de ensino. É curioso o fato dele ser ex-aluno da escola e ter uma visão negativa de seus métodos, procurando aplicar meios que lhe são completamente opostos, mudando a monótona rotina dos estudantes. Logo de cara, ele pede aos seus alunos que o chamem de “capitão” e não de “professor” ou “mestre”. Isso já demonstra a diferença da relação entre ele e os alunos. Entre as suas aulas, vale a pena destacar aqui alguns de seus ensinamentos. Um deles é o “carpem diem”. Ele tentou passar para os seus alunos que o dia é precioso demais para gastar com algo que não vale a pena. Se eles ficam a maior parte do dia na escola, esse tempo gasto deve valer a pena, e não ser visto como tempo perdido. Ele também instruiu os seu alunos a compreenderem melhor a poesia e as obras de Shakespeare. A poesia era ensinada naquela escola como uma ciência exata e extremamente técnica. Keating diz para os estudantes esquecerem isso, dizendo que a poesia deve ser livre, espontânea, sentida, sonhada e vislumbrada. Ele também os guia para uma nova interpretação das obras de Shakespeare, tirando deles a ideia de que a literatura é algo sempre enfadonho. Keating, no seu tempo de aluno, frequentava a chamada Sociedade dos Poetas Mortos, um grupo de alunos que, fora da escola, reproduziam poesias de poetas que a Welton Academy considerava inapropiradas.
Esse filme soa como um soco na boca do estômago se for comparado com a atual situação da educação no Brasil. A educação brasileira vive por um momento parecido com esse. As escolas servem apenas para preparar os jovens para fazer uma prova para entrar na universidade que, por sua vez, também só serve para abastecer o mercado de trabalho. A busca inovadora pelo conhecimento ficou para trás...
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