A superprodução “Spartacus” nasceu de uma excentricidade do ator Kirk Douglas. Após fazer campanha para conseguir o papel-título do épico “Ben-Hur” e perder a vaga para Charlton Heston o ator decidiu ele mesmo produzir um filme semelhante. Comprou os direitos do romance histórico de Howard Fast, que funcionalizava a história real do escravo que liderou uma rebelião na época do Império Romano, e deu partida na produção. Não sabia, mas estava criando o épico definitivo do subgênero “saia-e-sandália”, um melodrama de alta qualidade que influenciaria inúmeras produções futuras, como “Gladiador” (2000) e “Tróia” (2004). Ditos por alguns como uma película a parte da carreira de Kubrick já que o mesmo na época não tinha o prestigio suficiente para ter toda a liberdade para mexer na obra toda, Spartacus é talvez o maior sucesso comercial do Diretor...
Um escravo chamado Spartacus (Kirk Douglas), condenado à morte por morder um guarda, é comprado por um agente de gladiadores e levado para ser treinado como tal. Ao ser colocado na arena para servir de espetáculo para dois casais romanos e ser poupado por seu oponente, Spartacus vê crescer dentro de si a fúria contra o império romano, que explode de vez quando sua amada Varinia (Jean Simmons) é vendida e levada para Roma. Sua revolta rapidamente se transforma numa verdadeira rebelião contra Roma, que tomará proporções épicas e terminará de forma trágica para a maioria dos envolvidos...
Como podemos perceber, o bom roteiro de Dalton Trumbo (baseado em livro de Howard Fast) é repleto de momentos extremamente marcantes, como a emocionante frase repetida por todos os prisioneiros (“Eu sou Spartacus!”), após a sangrenta batalha entre romanos e escravos. Além disso, é dono de uma coragem ímpar para sua época, como podemos notar no diálogo entre Crassus (Laurence Olivier) e Antoninus (Tony Curtis) sobre ostras e caracóis, claramente contendo um subtexto homossexual (lembre-se, o filme é de 1960). O jogo de interesses pelo poder também é muito bem retratado no longa, reforçando a qualidade do roteiro de Trumbo. O bom trabalho de montagem de Robert Lawrence alterna com consistência entre as sequências de ação (treinamento, guerra), romance (Spartacus e Varinia) e até mesmo as sutilezas políticas nos bastidores do senado romano. A perfeita ambientação à época do império romano se consolida através da boa direção de arte de Eric Orbom e dos belos figurinos da dupla Valles e Bill Thomas, tornando aquele universo bastante crível. A bela trilha sonora de Alex North completa o ótimo trabalho técnico, alternando entre momentos leves e sentimentalistas e acordes rápidos e fortes...
Mas "Spartacus" não vive só de primor técnico. As atuações não ficam para trás. Douglas é competente o bastante para transpor nas telas uma firmeza e vigor que foram capazes de conduzir milhares de pessoas pelo escravo/gladiador. Kirk ainda mostra estrema química com Jean Simmons alternando entre a sensibilidade e a sensualidade até mesmo porque o romance entre Spartacus e Varinia é o estopim para a rebelião dos escravos. Charles McGraw, Peter Ustinov e Charles Laughton estão fantásticos e a cereja do bolo fica com o sempre ótimo Laurence Olivier na pele do implacável Marcus Crassus.
A Universal na época temia pelo sucesso do filme, já que Jesus Cristo não era citado em nenhum momento e o clima nos bastidores não era nada agradável. Por sei lá que cargas d'agua Anthony Mann, grande diretor de obras fantásticas como "O Homem do Oeste" e "O Preço de um Homem" foi demitido durante as filmagens, irritando demais equipe técnica e o elenco. O homem que mais tarde dirigia a obra prima "2001: Uma Odisseia no Espaço" Stanley Kubrick na época ainda 'engatinhava' em Hollywood. Contava já com dois filmes ótimos como "O Grande Golpe" e "Glória Feita de Sangue" mas não possuía notoriedade e influencia no meio para angariar aliados e total liberdade artística para conduzir a obra. Cortou um prego danado para manter a cabaça nos trilhos e se tornaram notáveis suas discussões com o fotografo Russel Metty, profissional renomado que reclamava insistentemente das intromissões de Kubrick no seu trabalho de posicionamento de câmera e iluminação nos set's. Fotógrafo premiado e estilista de carteirinha, Kubrick fez um trabalho excepcional na parte visual do filme, equilibrando luz (as planícies tórridas do deserto italiano) e sombra (as escuras e úmidas paredes das masmorras onde vivem os gladiadores) em iguais proporções.
“Spartacus” não é o grande trabalho da vida de Stanley Kubrick, que faria depois pelo menos mais dois trabalhos irretocáveis. Por bem ou para o mal tudo valeu a pena no final e contando ainda com excelentes atuações, o longa garante a diversão e prova que as grandes produções podem sim oferecer bom entretenimento, sem ofender a inteligência do espectador...
Das mais belas e significativas cenas finais de todos os tempos. Um dos que mais gosto de Kubrick.
Das mais belas e significativas cenas finais de todos os tempos. Um dos que mais gosto de Kubrick. [2]
Que momento, hein Lucas?
Pô galera fico constrangido haha...
Muito obrigado!
Spartacus é obra prima!