O SUPRA-SUMO DA MARRA CARICATA OITENTISTA
A placa do seu carro é CALIFORNIA ALSOM 50. A fala é arrastada. Óculos Ray Ban escuro. Palito de fósforo no canto da boca. Sapatos e luvas de couro. Calça jeans e sobretudo. Duas pistolas e um lema: “com louco eu não negocio, eu mato!”. Esse é Marion Cobretti, ou simplesmente Cobra, um dos personagens mais marcantes, caricatos e famosos de Sylvester Stallone. Tão famoso que o nome do astro foi incorporado ao título do filme aqui no Brasil.
Sinceramente, não sei nada a respeito de “Fair Game”, obra literária de Paula Gosling que deu origem ao filme roteirizado pelo próprio Sly, mas duvido que seja tão cômico e fanfarrão como o acabou ficando este Stallone Cobra. Acredito que tanto Sly quanto o diretor George P. Cosmatos (Rambo II – A Missão) não tinham em mente produzir um filme de ação verossímil, de trama coesa, com reviravoltas surpreendentes ou mesmo de imagens e/ou cenas impactantes, mas sim um filme de um personagem marcante. E partindo deste ponto, Stallone Cobra cumpre muito bem o seu papel, pois seu protagonista é que há de mais bizarro e exagerado dentro de um molde que só a década de 80 foi capaz de proporcionar. Assistir Stallone Cobra é como presenciar um bando de marmanjos crescidos brincando de ‘Polícia e Bandido’, como fazíamos na minha infância, onde quem era o policial era sempre fodão e marrento e quem era o bandido era simplesmente mau e grotesco.
E como não poderia deixar de ser, para que esta panca badass de Cobra fosse completa, as frases de efeito típicas do gênero estão presentes em 100% dos diálogos envolvendo o protagonista. E é notável que todas as falas dos demais personagens não passam de uma preparação para que Cobra encerre a conversa com um dizer impactante e, na grande maioria das vezes, canastrão. Frases como “vá em frente, eu não compro aqui” (quando um bandido ameaça explodir um super-mercado com reféns dentro), “é aqui que a lei termina e eu começo”, “você tem o direito de permanecer morto”, a clássica “você é uma doença e eu sou a cura” e a minha favorita, muito por conta da tosca dublagem, “você é um cocô e eu vou matar você”, além da associação ao peçonhento réptil – estampado nas pistolas usadas pelo protagonista – e toda aquela bisonha descrição lá do início somados a expressão única de Stallone compõem um protagonista tão ímpar que mais parece um personagem desbloqueável de jogos como Resident Evil do que de um filme de ação adulto.
Mas os problemas de Stallone Cobra são muito maiores e visíveis – bem como graves – do que toda a parte mais relevável do filme. O pior de todos eles é, sem dúvidas, o surpreendentemente fraquíssimo roteiro de Sylvester Stallone, a quem considero um bom profissional desta área. As contradições e incoerências presentes nele não podem ser ignoradas, mesmo que tentemos. O modo de agir estúpido, tanto dos bandidos, quanto das vítimas e também da polícia chegam a ser irritantes. Por exemplo, na cena inicial, aquela do supermercado, inúmeras viaturas da polícia cercam o estabelecimento onde um único bandido armado com uma escopeta (arma de curto alcance, mas que aqui mais parece um rifle de precisão) mantém algumas pessoas como reféns. Porém, eles sequer tentar qualquer coisa, qualquer estratégia (nem atiradores nos telhados ou negociadores eles têm!!) e já saem dizendo “a situação está feia, chamem o Cobra”. Como assim??!! E aliás, por que diabos chamaram ele, se ele nada fez além de entrar atirando pela porta da frente sem qualquer estratégia ou plano aparente? Pelo menos esta cena veio acompanhada de algumas das frases citadas acima, embora contenha uma das cenas merchandising mais ridiculamente descaradas que me lembro – e creio ter sido plagiada em Guerra Mundial Z. Os vilões são um caso a parte. Mais de uma vez é dito que eles atacam suas vítimas com armas brancas (machados, martelos, facas e cutelos são mencionados) em suas residências enquanto estas dormem – tanto que antes de saber tratar-se de uma seita, acreditava-se ser um assassino em série denominado Assassino Noturno. Porém, só os vemos atacando a céu aberto e quando a coisa aperta, eles surgem armados com escopetas e metralhadoras conseguidas sabe-se lá onde e atirando sabe-se lá em quem. E esta seita do Mundo Novo (o nome consegue ser mais estúpido do que a própria seita) diz estar preparando um mundo onde só os fortes sobrevivam. Mas como eles sabem quem é forte e quem é fraco, se eles matam qualquer um que surge em seu caminho? Sua origem e seus membros, bem como sua organização e como ela se mantém, não recebem uma única menção sequer até o final. O próprio protagonista é contraditório, pois condena os demais personagens por seus hábitos alimentares nada saudáveis, mas lá no começo aparece comendo uma pizza (a qual ele corta com uma tesoura!!).
Em alguns aspectos, Stallone Cobra lembra muito Mad Max, não só por sua temática semelhante, mas também pelo mau trato dado aos vilões do filme, o que enfraquece muito a sensação de perigo oferecido ao protagonista. Tantos os motoqueiros arruaceiros do filme de George Miller, quanto os fanáticos do filme do seu xará Cosmatos carecem de empatia, de background e, acima de tudo, de um líder para ser um antagonista de peso para o herói da estória. Cabe a Brian Thompson (Jasão e os Argonautas) não fazer muito mais do que estufar os músculos e fazer cara de louco e Brigitte Nielsen (com quem Stallone foi casado) apenas berra pra lá e pra cá e fazer algumas boquinhas ao som da cafona e mal mixada trilha sonora.
Bombardeado lá fora na época de seu lançamento, por ser considerado gratuitamente violento e cinematograficamente pobre, Stallone Cobra atingiu um bom contingente de fãs, principalmente pelo momento da carreira de Sly, que nesta época emplacava um sucesso atrás do outro e imortalizava personagem sobre personagem (Rocky Balboa, John Rambo, Ray Tango, Falcão, tudo na mesma época). Gostar ou não de Stallone Cobra e divertir-se ou não com ele depende exclusivamente de você. Se você é do tipo exigente até com filmes de ação e deles espera trama bem amarradinha, boas cenas de ação, boa estrutura narrativa e um pouco de verossimilhança, esqueça. Stallone Cobra definitivamente não é para você. Agora, se você pega leve com filmes deste tipo e curte personagens enfadonhos ao melhor estilo Os Mercenários, é bem provável que uma considerável dose de bons momentos o aguardam. Por mais ridículos que eles sejam.
Essas comparações são muito comuns no cinema de ação, mas nunca gostei delas - para muitos, Statham era o novo Willis, mas enfim...
Não dá pra levar a sério mesmo todas essas toscas frases de efeito...
Ah, se for pra falar só de "Ação", aí é outra coisa, cheia de outros critérios. Jet Li é um dos melhores pra Bater, mas Jackie Chan é o melhor pra Apanhar. Eh eh
Statham, pelo que eu já tenha visto, é quase um ator pornô. Mas eu não vi muita coisa com ele.
Willis é um ator, Ator.
He he.,.. Definição melhor, Jules, impossível!!!!