Star Wars é uma franquia fascinante em todos os sentidos. Consegue permear facilmente nuances variadas de modo leve, por vezes didático, mas sempre com emoção aflorada. São, basicamente, duas sagas. A de Luke, contada na trilogia original, e a de Anakin, narrada nas prequels. Aqui em Star Wars I - A Ameaça Fantasma, George Lucas idealiza o lado político de maneira mais incisiva, fato que talvez tenha prejudicado muito o filme. Não apenas por isso, o longa é marcado negativamente no quesito atuação. O intérprete de Anakin, Jake Lloyd, parece muito inseguro, deslocado. Além do que, sua dramaticidade é irritante, não tem o mesmo brilho que a de outros jovens atores. Outro fator, não preciso nem comentar, é a presença de Jar Jar Binks. Tudo bem, vá lá, um alívio cômico tudo bem, mas um que abuse da nossa inteligência já é demais.
A trilha sonora, novamente de Johns Williams, ganha poucos retoques, mantendo o clássico tema de abertura. A estrutura do bolo é a mesma dos capítulos IV, V e VI, porém Lucas resolveu afetar um pouco mais a receita, salpicando a mitologia, acrescentando coisa demais em pouco espaço. A nova Tatooine, por exemplo, apesar de mais realista, é lotada de personagens, muitas vezes apenas para preencher espaço, que nada acrescentam ao filme em si. Qui-Gon e Obi-Wan mantém feições razoáveis. Liam Neeson me agrada bastante, enquanto Ewan McGregor parece inexpressivo. A rainha Amidala, pilar da problemática no filme, interpretada pela bela Natalie Portman, parece mais uma boneca, carregada de maquiagem e meio sem sal. Outro exagero são as naves coloridas, de laranja vibrante a amarelo grifa texto. Lucas, nesse ponto, deixou a criatividade transbordar demais. Sua única boa concepção de veículo foi no tocante aos pods. A sequência da corrida é muito divertida, remetendo a Speed Racer, com toda a sacanagem de uma corrida maluca.
A República, em crise, é o cerne do filme. Tanto que líderes, como o senador Palpatine, tem de enviar dois cavaleiros Jedi para apaziguarem as relações com a temida Federação do Comércio, a qual toma controle de Naboo, planeta governado pela rainha Padmé. Os detratores da República detém planos secretos com Darth Maul, encenado por Ray Park. Darth é o grande vilão do filme, tanto que estampa violentamente o poster de The Phantom Menace. Porém, sinceramente, vejo nele um personagem pouco relevante e significativo na obra. Não causa medo. Não que precisasse ser tão sombrio, mas sua aparição, no fim do filme é mais explosiva do que realmente assustadora. O que vale mesmo é o duelo entre ele e Qui-Gon, com direito até à sabre de luz duplo.
De um modo geral, o longa conquista certo apelo do espectador. Os carismáticos e adoráveis R2-D2 e C-3PO conquistam o coração, assim como o bem reconstruído digitalmente Mestre Yoda. A questão da Força é mais intimamente explorada, não sendo mais um mero dom, mas sim um elemento simbiótico de toda a galáxia. Sem ela, sem a crença, pouco se efetua. Aliás, Star Wars sempre sustentou a ideia de união, cooperação em torno do bem. Os grandes mentores no filme, homens que elencam o conselho Jedi, são uma novidade. A presença de Samuel L. Jackson é bacana, como Mace Windu, sua presença em tela é segura, firme e sisuda. Outra personalidade que merece destaque é Sofia Coppola, pouco aparente, mas que vive a personagem Saché.
A película, mais um vez contemplativa, de jornada, remonta o universo com mais veracidade. Cidades incríveis, como Coruscant, simbolizam que o filme de Lucas se tornou muito mais crível que os de dezesseis anos anteriores a 1999. Há mais vida, seres, como os gungans e o universo se expande exponencialmente. Apesar da pirotecnia e do colorido abusivo, Lucas fez em A Ameaça Fantasma um palco muito mais atrativo, menos surrado, porém mais abobado, parecendo um Sessão da Tarde da vida. São esses prós e contras que fizeram o episódio I ficar na mesmice. Diverte ao mesmo tempo que chateia por minar expectativas. Poxa, com tanta inovação tecnológica, um leque de possibilidades poderia ser aberto. Tudo bem que o filme mostra a ascensão de Anakin de maneira dosada e progressiva, porém o porquê de tantas brigas políticas e conceituais fica no ar, sem resposta. Se ficasse apenas no plano da ascendência, busca de identidade, como ocorreu em Uma Nova Esperança, o episódio I colheria muito mais frutos.
No plano emocional, a obra é muito bonita. O amor, as composições, os sentimentos. A amizade, que muitas vezes surge por coincidência, é exceção. Qui-Gon teve de pousar em Tatooine, mas não porque queria, e sim devido a um acidente. Mas para os que creem na Força sabem que muitas vezes tais ''coincidências'' são induzidas a acontecer para formar um predestinado. É esse o jogo de ideias do primeiro capítulo. Uma antítese que nem sempre gera a mesma consequência para um mesmo fato. Às vezes, as situações se moldam, os midi-chlorians se agitam nas células de uma maneira diferente. Sim, midi-chlorians! Lucas invetou isso para justificar ou para elucidar como um professor todo o conceito da Força, mas é só mais uma das bobeirinhas do episódio. Apesar desses devaneios, o filme consegue amarram bem seus atos e encerrar num final feliz. Talvez os gugans não precisassem ajudar o povo de Naboo. Mas essa união no fim, esse sentimento intrínseco de ajuda mútua tem que estar presente em Star Wars.
No plano das reflexões, o filme perde, e muito por causa do roteiro. O letreiro inicial lança a questão do filme, abordando os conflitos nos postos comerciais e cobrança de impostos. Tudo bem, até o ponto que começa o tiroteio e as explosões contra os droidekas e se perdemos, sem saber quem é quem. Esse início de filme merece atenção, pois muitas situações são corridas e mal explicadas. Nesse ponto, o filme cresce e muito no terço final, com muito mais ação, Anakin pilotando, dentre outros eventos interessantes que devem ser descobertos assistindo ao filme.
Não tem muito o que falar de A Ameaça Fantasma além disso. A trilho sonora continua perfeita, algumas surpresas no elenco, outras decepções e um clima familiar que exala em todo Guerra nas Estrelas. Infantilizado, mal resolvido e inflamado, o longa conseguiu se sustentar graças ao ambiente e ao belo visual, porque de resto sobrou pouca coisa interessante. Acompanhar o filme não é difícil, difícil mesmo é aguentar Jar Jar Binks e suas piadas infames. Não uma obra-prima, mas um honrável início de prequel, que viria a evoluir muito até o agitado, cheio de revide e raiva (além de muito bom) A Vingança dos Sith.
Sério, Luiz? Tem certeza? O Yoda de A Ameaça Fantasma parece muito ser feito no computador. O Yoda boneco não é da trilogia antiga? Obrigado pelo elogio.
Certeza Marcelo, o Yoda digital só apareceu a partir do Ataque dos Clones.
Obrigado pela informação, não sabia mesmo.
Ouvi dizer que o blu-ray, lançado em 2011, tinha o Yoda em CGI no The Phantom Menace.