Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança
O FILME QUE SEPULTOU O CINEMA MARGINAL DOS ANOS 70, REVOLUCIONOU A INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA, DITOU AS REGRAS DE FICÇÃO CIENTÍFICA POR MAIS DE DUAS DÉCADAS E SEGUE SENDO UMA FORTE REFERÊNCIA ATÉ HOJE.
Não foram apenas os efeitos especiais revolucionários. Nem somente as questões políticas ou armamentistas levantadas em pleno período da guerra fria. Muito menos somente o cunho religioso e filosófico adotado em torno da Força e dos Jedis. Não. O sucesso de Star Wars passa pela junção de todos esses fatores, somados a outro elemento primordial na série: a diversão. Ao final dos anos 70, o cinema estava saturado (em momento algum deve se confundir com cansado) de filmes oriundos do cinema marginal, de clássicos incontestáveis, filmes inteligentes e outras tantas vertentes que fizeram desta a década mais rica e importante para o cinema. Eis que um jovem cineasta resolveu pôr em prática seu objetivo maior de vida: tornar-se rico antes dos 30 anos. E para alcançar tal feito ele foi longe. Criou não só um filme, mas um mundo. Um universo completo, com geografia própria, religião, cultura e política. Esse jovem cineasta chamava-se George Lucas.
Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança (Star Wars: Episode IV - A New Hope, 1977) deu início a maior franquia que o cinema já conheceu. E o filme quebrou todas as barreiras já vistas até então na indústria cinematográfica. Por exemplo, todo o conceito místico em torno dos Jedis e da existência da Força deu origem a vários cultos religiosos (é sério) espalhados pelo mundo, onde seus seguidores vivem de acordo com a filosofia dos Jedis e estudam a essência da Força e sua influência no mundo em que vivemos. É mole? Não me lembro de outro filme ter atingido tal feito até então.
Dotado de um forte embasamento político e religioso (alvos de estudo ferrenho por parte de seus fãs), Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança vai muito além de uma simples experiência de diversão de qualidade, embora esta se faça presente o tempo inteiro. Star Wars é o sonho insano de um diretor tão insano quanto, que tomou forma e ganhou força, contra todas as adversidades possíveis e imagináveis. E grande parte desse apego que sentimos pelo filme é mérito do diretor George Lucas. Primeiro, pela inteligência e coragem em lançar a série por um capítulo do meio, mais precisamente o quarto de seis episódios. Não havia recursos suficientes para adaptar os primeiros capítulos da saga. Então, o que Lucas fez foi inserir uma pequena sinopse no início do filme, deixando o público à parte de tudo o que está acontecendo na história. Lucas não subestima o espectador e não entrega tudo mastigadinho e nem faz questão de explicar o que aconteceu nos anos anteriores da história para que a situação chegasse até aquele ponto. Os personagens falam em Guerras Clônicas e República, mas nunca de forma didática ou explicativa demais. E, por incrível que pareça, nunca nos sentimos perdidos em meio a toda aquela história recheada de mitologia, misticismo, golpes de estado, traições, guerras e heróis lendários.
No filme, que é o quarto capítulo em ordem cronológica (mas isso todo mundo já sabe), a resistência rebelde luta com todas as forças para destruir a estação bélica do Império Galáctico chamada de Estrela da Morte, com poder suficiente para destruir um planeta inteiro, se preciso. Liderados pela sagaz Princesa Leia (Carrie Fisher), os rebeldes apoderam-se dos planos de construção da Estrela da Morte e pretendem usá-los para atacá-la. Porém, a princesa acaba capturada pelo impiedoso Drth Vader (interpretado por David Prowse, mas imortalizado pela voz inconfundível de James Earl Jones), mas não sem antes enviar os dados roubados junto a dois dróides, RD-D e C-3PO para o planeta Tatooine, onde acredita viver um antigo mestre Jedi chamado Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness). Lá, os dois dróides acabam na posse do jovem inquieto e sonhador Luke Skywalker (Mark Hamill) que decide ir ao encontro deste tal Obi-Wan. Na tentativa de interceptar os dróides antes que caíssem em mãos rebeldes, o Império ataca a vila onde Luke morava e mata seus tios que o criaram como um filho. Sedento por justiça e conhecimento de suas origens, Luke parte com Obi-wan para o resgate da princesa Leia, a bordo da nave Milenium Falcon, pilotada pelos contrabandistas Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca. Obi Wan revela a Luke ele ser filho de um dos maiores Jedis que já viveu, Anakin Skywalker, e inicia seu treinamento como Jedi.
A parte técnica do filme é impecável. Além dos já citados efeitos visuais revolucionários, John Williams - responsável por trilhas clássicas do cinema como os temas de Indiana Jones, ET, Tubarão, Contatos Imediatos do Terceiro Grau e Super-Homem, só pra citar os mais famosos – fez aqui um dos trabalhos mais memoráveis do cinema de todos os tempos. Já nos primeiros acordes, o tema de Star Wars mexe conosco de forma única. Aliás, acompanhar as introduções dos filmes da série, com a sinopse desfilando nas no espaço sideral ao som da trilha inconfundível é um dos momentos mais divertidos que o cinema já nos proporcionou. O filme foi ainda indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção, Ator Coadjuvante (Alec Guiness) e Roteiro Original e venceu nas categorias Direção de Arte, Edição de Som, Trilha Sonora, Efeitos Visuais, Montagem e Figurino. Neste último quesito, a composição de todos os personagens está perfeita, cada um dentro de seu contexto. Mas não há como negar, Darth Vader é o ápice do filme. Maligno, soberano, emblemático, imponente e poderoso. Com certeza, o maior vilão da história do cinema em seu traje negro como seu coração e com aquele som de seu respirador mecânico que causa arrepios na espinha em qualquer um que cruze seu caminho. Há também os enigmáticos sabres de luz, armas sagradas dos antigos guerreiros Jedis. Não há como não ficarmos boquiabertos quando são usados em combate. É uma sensação inexplicável. Um item clássico da cultura pop. Além dos sabres de luz, do visual de Vader e da Estrela da Morte, outra grande contribuição de Star Wars: Episódio IV para a cultura pop foi o modo em que as naves entram na velocidade da luz, com a tomada por trás da cabine de comando, com os personagens acompanhando a distorção das estrelas. Marca registrada.
Mesmo em meio a uma guerra intergaláctica, o bom-humor prevalece do início ao fim, sempre com a mais alta qualidade. Os responsáveis diretos por essas cenas são as duplas R2-D2 e C-3PO e Han Solo e Chewbacca. Os dois primeiros, donos de um humor mais inocente, possuem uma interação fantástica, com o determinado e arrojado R2 sempre se metendo em confusões que deixam o medroso C-3PO de circuitos em pé. Já a dupla de trambiqueiros mais amada do cinema discute, briga e luta como dois irmãos pré-adolescentes, arrancando boas gargalhadas. Certos detalhes do filme o deixam meio bobo, como o fato de Obi-Wan comentar sobre a precisão única das tropas imperiais na pontaria, mas em batalha eles não acertam quase nenhum tiro!! Mas, curiosamente, isso se virou a favor da série. Há uma cena também, em que um bando de soldados imperiais foge de um único soldado armado apenas com uma pistola, no caso Han Solo. Além da facilidade em se transitar dentro da Estrela da Morte sem que nenhum soldado esbarre com você no caminho e do final mal conduzido de Darth Vader. Mas, como eu disse, inexplicavelmente isso jogou a favor da série. Que bom.
Mesmo que no começo o filme pareça apressado em colocar Luke em ação, e mais ao final falte uma preparação maior para a apoteótica batalha na Estrela da Morte (sensacional), a direção de Lucas está ótima, com um ritmo que n ao acelera muito, nem se torna lento, fazendo do filme uma experiência prazerosa até o último segundo. Além de um roteiro que não deixa NUNHUMA brecha. Absolutamente NENHUMA!
Lucas expandiu tanto seu universo e trabalhou tanto em função de sua criação, que fica difícil imaginar limites para a série. Cada cena, cada planeta visitado, cada ambiente explorado, situação imposta ou ação de um personagem abre um background interminável para uma história paralela. Nenhum elemento no filme está ali apenas por estar. Nada é gratuito. Tudo tem sua função, seu papel, sua história. Todo esse cuidado e carinho, com tamanha riqueza de detalhes, só foi vista e equiparado (mas não superado) 24 anos depois, na adaptação de Peter Jackson do clássico de Tolkien, O Senhor Dos Anéis: A Sociedade do Anel (The Lord Of The Rings: The Fellowship of the Ring, 2001). E, embora muitos prefiram (como eu) a saga de Tolkien/Jackson, é preciso reconhecer os limites com Lucas trabalhou. Primeiro, ele criou TUDO em Star Wars, diferentemente de Jackson, que adaptou a criação de Tolkien. Não que não seja um trabalho árduo adaptar uma história tão densa como a de Senhor dos Anéis, mas os universos trabalhados são bem diferentes. Na fantasia medieval, a maior parte dos conceitos já estão estabelecidos: elfos, magos, dragões, guerreiros, orcs, hobbits, todos são criaturas que já fazem parte deste universo. Na ficção científica, na maioria das vezes, tudo precisa ser criado do zero. Todos os personagens, todas as situações, a mitologia, a história, a geografia e tudo mais em Star Wars, saíram da mente de George Lucas. A segunda limitação enfrentada por Lucas foi da mídia de trabalho. Tolkien tinha a sua disposição um número ilimitado de páginas para apresentar seu mundo aos leitores. Poderia escrever o quanto quisesse acerca de sua história sem estabelecer barreira alguma. Já Lucas escreveu um roteiro, destinado a se tornar um filme. Portanto, deveria apresentar todo seu contexto de forma que se enquadrasse na estrutura de um roteiro e que pudesse ser adaptado em pouco mais de duas horas e meia nas telas. Isso sim é difícil pra caramba. Quantos filmes nós vemos por aí que não conseguem lidar com essa questão e acabam desperdiçando idéias ótimas em roteiros pessimamente adaptados e confusos?
Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança é um dos maiores clássicos da história do cinema e doutrinou mais de três gerações ao longo de seus 37 anos de existência. Obra-prima obrigatória na prateleira de qualquer amante de ficção científica. Ou melhor: obra-prima obrigatória para todo amante de cinema.
Poxa eu tava com medo de falar isso aqui, mas...
Annie Hall pra mim é um dos mais fracos do Allen... Só vale mesmo pela atuação da Keaton, essa sim digna da estatueta... Achão que os dinossauros da academia são tão conservadores e ficaram com medo de premiar Star Wars Episode IV...
Revi esta semana. E como continua divertido e relevante. O mais envolvente e nostálgico da trilogia original, além do mais importante, visto ser o responsável pelos alicerces da rica mitologia da saga. R2-D2 e C3PO roubam a cena com seu humor inocente e inteligente ao mesmo tempo. Tudo esta perfeito, salvo raros momentos já citados na crítica, ótima por sinal.
Além de ser constituída por dinossauros conservadores (e covardes), a Academia também é muito política. Ou melhor, faz muita politicagem, tipo a FIFA querendo agradar meio mundo, mesmo às custas de algumas injustiças. Valeu Lucas.
Nunca vi um personagem que não fala, não possui expressão nem nenhuma interação com o restante do filme além de andar, que roubasse a cena como R2 faz, meu caro Luiz. Unindo isso ao humor inocente e inteligente, como você bem salientou, de C3, temos uma das melhores duplas do cinema. Muito obrigado pelos elogios.