A magnitude do lançamento de Star Wars IV - Uma Nova Esperança foi baixa. O filme, em sua estreia, foi exibido em apenas 30 salas nos EUA. Fato que não viria a abalar o sucesso estrondoso que a franquia tem hoje, tudo graças ao carisma de suas personagens. De andróides a humanos, a saga estelar, a verdadeira ópera espacial, brindou o espectador com a ascensão brilhante do jovem Luke Skywalker, um jovem sonhador, habitante do desértico planeta Tatooine. Sua saga começa quando recebe na oficina de seu tio um robozinho e um humanóide, são eles R2-D2 e C-3PO. Ambos trazem uma mensagem direto da Estrela da Morte, onde a princesa Leia endereçou-a, requerendo a ajuda de Obi-Wan Kenobi, um grande e experiente mestre Jedi, afastado há muito tempo de suas atividades. Quando escuta o recado, Luke relembra o sobrenome Kenobi. O primeiro nome que vem a sua mente é o de Ben Kenobi, conhecido de seu tio, Owen. Até ai, só vemos belas paisagens, filmadas por George Lucas, passeando por planetas como Alderaan e luas como as de Yavin 4. A Estrela da Morte, principal arma do Império contra a Aliança Rebelde, é monumental. Todo o cenário do filme é grandioso e várias tomadas valorizam a profundidade e imensidão do espaço, da galáxia distante, muito acentuada nos letreiros iniciais.
No quesito visual, o filme de 1977 perde muito. Mesmo com as remasterizações e relançamentos, a obra fica obsoleta em diversos quesitos, como nas lutas com sabre de luz, algumas até mal coreografadas, e também nos efeitos de tiro, lembrando o aspecto feio e monolítico de games antigos. Apesar disso, o foco de George Lucas é maior na apresentação dos participantes da história. Os embates são em bem menor número do que os da trilogia recente, dos episódios I, II e III, o que é louvável para o diretor, o qual conseguiu fazer um filme que, embora parado e arrastado no seu início, deslancha na etapa final com as investidas da base de Yavin em vingança pela destruição do pacífico planeta de Aldeeran, muito defendido pelas ações diplomáticas de Leia. O primeiro ato valoriza o tom poético, muitas vezes explorado em Star Wars, apresentando o Povo da Areia e os Jawas, tudo como forma de expressar a riqueza do universo, valorizando o embrião de toda a franquia, exaltando o promissor início de tudo. A direção aposta todas as fichas para transmitir a grandeza e a fauna dos ambientes. Cada planeta é guiado por um satélite. Porém, o que se percebe de mais magnético e marcante, é a presença da Força e de como sua filosofia liga os sentimentos alheios de forma a unificar os pensamentos divergentes.
Não à toa, Luke é seduzido para seguir os caminhos de seu pai, grande piloto nas Guerras Clônicas, através dos ensinamentos de Ben Kenobi. Após a morte de seus tios, o iniciante Jedi sai em busca de redenção. É a velha história do jovem que sai atrás de seus sonhos após uma grande frustração. Tudo, porém, não fica clichê, graças ao diferencial, que é a energia, a Força, a qual flui igualmente para aqueles que nela acreditam. Luke, então, parte para Mos Eisley, de onde buscará um piloto que o leve, juntamente com seus três companheiros, para o planeta Alderaan.
A história começa então, de fato, a colocar as mangas de fora. Han Solo e Chewbacca são apresentados, meio que como incógnitas, sem ficarmos sabendo qual a função deles na história, pelo menos de início. A partir daí, George Lucas cria um elo entre aquele que assiste e aquele que atua. Apesar de muita coisa mal explicada, o humor é leve e temperado, afinal, quanto mais novos personagens forem aparecendo, mais aguçado ficará o nosso gosto por continuar assistindo. E o episódio IV é um dos melhores por isso, ele nos leva para um passeio despretensioso, mesclado com uma aventura leve, porém essencialmente marcada pelo coração, podendo até ignorar uma bizarrice ou outra do visual defasado. Se envelheceu mal, por outro lado trouxe quem está do outro da película, a querer também se tornar um Jedi, pois como diz Obi-Wan, basta acreditar. Permitir-se estar no sonho é a brincadeira proposta por Lucas. Aos poucos, o psicológico de cada um vai se aflorando, também vai afunilando o passado dos mesmos. Sabe-se, com um pouco de percepção, que Han tem ligações como mercenários perigosos, como Jabba. Um fato que desperta muito curiosidade é o passado de muitos em tela, o que dificulta um pouco a compreensão de quem está tendo o primeiro contato com o universo tão vasto de Star Wars. Podemos dizer que o episódio IV é o mais nostálgico para quem está revendo a série, como eu. Há muito o que ser apresentado, é como o abrir de cortinas no teatro, mas não um teatro qualquer, e sim um de ópera, valorizando o som. Som esse que ecoa no espaço, onde há vácuo, evidenciando uma contradicão. Não que isso seja ruim, pois se trata de fantasia, com facetas de ficção. A dualidade existe, como em vários universos fantásticos, mas o que predomina é a hipérbole no discurso ideológico da Força.
A distância entre o palpável e o abstrato é pequena em Star Wars. Você pode muito bem se deparar com uma cena, cujo céu possui mais do que um sol, mas desde o início um sentimento apenas não é minimizado, o da amizade. Vários filmes da trilogia inicial abordaram a temática política. Sim, ela é muito importante, mas não para um filme introdutório, como Uma Nova Esperança, e graças aos acertos, ela não aparece aqui como único recurso. Lucas dosou seu universo, para distribuir o peso nos outros filmes, deixando para este ser um filme de viagem, um filme contemplativo, embora haja uma certa contestação contra a ordem vigente, seus Sentinelas e Senado truculentos, dispostos a varrer terras inocentes, como a de Dantooine. São elementos sutis, muito bem realçados, e da maneira correta, pela épica trilha sonora, tão lembrada pela música tema.
Entre erros e acertos, Lucas apostou no lado intimista de cada um de seus personagens imaginados no papel, para dar vida a cada um deles da forma mais hermética possível. O roteiro é muito bom, as atuações merecem destaque, apesar do visual fraco para os dias de hoje. É um dos filmes menos exagerados da saga e com maior apelo emocional, por tratar de temas como dominação, dualidade oprimido versus opressor, de uma forma alegórica, não intelectual, mas ao mesmo tempo delicada para jovens e adultos. Um filme para a família desfrutar, de despertar a criança dentro de cada um de nós. Cada vez que revejo Uma Nova Esperança pauso as cenas da música na cantina de Mos Eisley para ficar me imaginando lá, fazendo bagunça, como uma criança desobediente. Fico abismado, por horas, com as aparições da Millenium Falcon. A nave com ponto cinco a mais de força que as demais.. Destruir a Death Star? Deixa isso com Luke e companhia, e que a força esteja com eles. E com você. Se ainda não viu, assista.
O que eu mais odeio é o primeiro. Tentei rever hoje, tive que me contextualizar politicamente com aquela história política e todo o blablabla chato. Só vale pelo Darth Maul.
A primeira vista de quem não conhece Star Wars, esse é o de história mais interessante, que chama mais a atenção para quem lê os resumos dos filmes na Wikipedia. A história é boa e consegue divertir a maioria das pessoas, o problema é mesmo o visual datado, as lutas mal coreografas e as cenas de ação as vezes deixando a desejar. Passada a época em que foi feito, em que tudo isso era top, era de última linha do fascínio das pessoas, com os filmes atuais com cenas de ação melhores e efeitos especiais melhores, exige um pouco de boa vontade de quem assiste para ignorar o visual datado, o que é especialmente difícil para os jovens, e não os culpo. Mas, uma vez superado esse problema, é uma história que ainda tem seu charme e carisma, é uma história que ainda pode divertir a maioria das pessoas, embora não tão excepcional hoje quanto na época. Acho que o episódio V é o melhor de longe, justamente porque o visual envelheceu bem melhor e porque a própria história é mais profunda e emocional.
Escrevi esse texto justamente porque é meu episódio preferido. Sim, talvez seja difícil para as gerações atuais acompanhar Uma Nova Esperança, justamente por não ser atrativo visualmente, porém se a pessoa tiver o mínimo de bom senso, deixando-se levar pela emoção (o filme é encantador), vai naturalmente. Não são tantas pessoas jovens que não gostam do filme, são alguns, que não curtem filmes antigos por preconceito bobo e por, muitas vezes, serem leigas no assunto e quererem pagar de ignorantes. Tipo: "eu não gosto dessa velharia".
Concordo plenamente com você Marcelo!