‘A história não contada por trás do milagre no Rio Hudson’.
1 - AFINAL, QUEM É SULLY? Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Chesley Sullenberger, um piloto de avião que se tornou herói nacional após conseguir aterrissar um avião cheio de passageiros em pleno Rio Hudson, após uma forte colisão com vários pássaros no céu.
2 – O PROJETO: A direção é do mestre Clint Eastwood, que dispensa apresentações, vencedor de quatro Oscars e indicado a mais sete. O roteiro foi adaptado por Todd Komarnicki, baseado no livro ‘Highest Duty’, co-escrito entre o próprio capitão Sullenberg e Jeffrey Zaslow.
3 - SENDO UMA BIOGRAFIA, DEVE SER BEM LONGO NÃO É MESMO? Na verdade, não é uma biografia da vida do capitão Sully, apenas conta a história do fatídico acidente sob ângulos diferentes. É o filme mais curto da carreira de Clint como diretor, com apenas 1 hora e 36 minutos de duração.
4 – NOVAS E VELHAS PARCERIAS: Será a primeira colaboração do diretor com o premiado ator Tom Hanks, que interpreta o papel principal. Por outro lado, Clint já dirigiu Laura Linney – que interpreta Lorraine, esposa do capitão - em ‘Poder Absoluto’ (1997). O acidente aconteceu no dia 15 de Janeiro de 2009, curiosamente poucos meses antes do navio do capitão Phillips (outro personagem interpretado por Tom Hanks) ter sido sequestrado.
5 - ALÉM DO ACIDENTE, SOBRE O QUE O FILME FALA? Assim como em outras profissões, ser piloto de avião é um cargo de responsabilidade sobre muitas vidas. Portanto, qualquer erro ou decisão que vá contra os procedimentos recomendados acarreta muitos problemas e investigações. Em cima disso, o filme questiona se uma decisão momentânea e contra as regras pode ser suficiente para acabar com toda uma carreira, mesmo que na visão do povo e da mídia o responsável tenha agido corretamente. Mas, e do ponto de vista legal, é justo uma pessoa ser crucificada por um erro?
6 – JÁ CONHEÇO A HISTÓRIA, VALE A PENA ASSISTIR? Considerando a forma como a história é abordada – deixando o espectador em dúvidas se Sully é realmente um herói ou uma fraude - o filme tinha tudo para se tornar desinteressante, já que qualquer pessoa que acompanhou o caso através da grande cobertura televisiva na época conhece o resultado final. Mas não é isso o que acontece. Por que então o filme funciona?
6b – Acredito que ‘Sully’ é um drama sólido e interessante basicamente por dois motivos: a reconstrução do acidente sob novas perspectivas e a grande atuação do elenco. Reconstruir o acidente do ponto de vista de alguns passageiros, do operador de voo que estava encarregado de se comunicar com o piloto durante o ocorrido e da própria tripulação, nos coloca ‘dentro’ do acidente, possibilitando criarmos empatia com aquelas pessoas e entendê-las melhor. Assim, podemos refletir como agiríamos na mesma situação, e essa é uma das grandes magias do cinema, nos fazer experimentar diversas sensações estando do lado seguro da tela.
6c – Por ser uma trama curta e objetiva, a atuação do elenco é fundamental para o sucesso de ‘Sully’, gerando muita credibilidade àqueles personagens. É verdade que apenas o protagonista possui camadas mais complexas na sua personalidade, mas os coadjuvantes funcionam como pessoas reais dentro da história mesmo com suas limitações, com destaque para o subestimado Aaron Eckhart, que interpreta o cínico e bem-humorado copiloto Jeff Skiles. Embora não contracene em nenhuma cena com Hanks (apesar de conversarem bastante por telefone), Laura Linney também é eficiente e convincente como a preocupada esposa do piloto. E Tom Hanks mais uma vez entrega grande atuação, expressando perfeitamente a postura íntegra e resoluta de Sullenberg.
7 – ROTEIRO, DIREÇÃO E ATRIBUTOS TÉCNICOS: O roteiro de Komarnicki é extremamente conciso e objetivo. Praticamente não há espaço para tramas paralelas à investigação da conduta de Sully e a reconstrução do acidente – como mencionei, sequer o casal tem uma cena juntos. Se por um lado isso pode deixar o filme um tanto ‘frio’, por outro, em momento algum é desviado o foco principal da história, o que é um ponto muito positivo. Para gerar suspense, as pistas sobre a elucidação do caso vão sendo soltas aos poucos, trabalhando em conjunto com a montagem que alterna a investigação com momentos que sugerem que Sully pode realmente ser uma fraude.
7b – A direção de Clint também é muito inteligente, pois o filme vai manipulando a expectativa do espectador nos fazendo questionar em certos momentos o que achamos do protagonista e se o que ele fez foi correto ou não. Mas nada disso faria sentido se a reconstrução do acidente não parecesse fiel na tela. E aí está outro grande trunfo do filme. As cenas foram filmadas no mesmo local do Rio Hudson onde os eventos reais aconteceram, com a utilização da nova câmera ALEXA IMAX, que possibilita um maior senso de imagem em movimento e aproxima o filme muito mais da realidade. Os efeitos visuais e a impecável qualidade sonora do filme também ajudam na imersão do espectador, comprovando o esmero que foi dedicado a produção. Seríssimo candidato ao Oscar em todas as categorias técnicas.
8 – CONSIDERAÇÕES FINAIS: É verdade que após o 11/09 os norte-americanos precisavam de uma história de sucesso e um ato de heroísmo vindo dos céus. Diferentemente de ‘O Voo’, por exemplo, que trata de um tema parecido, mas com a transformação de um personagem dúbio, ‘Sully’ resgata exatamente o heroísmo de um homem comum, que estava no lugar certo, na hora certa para fazer o seu trabalho. A montagem é muito inteligente, alternando fatos para agregar suspense e não deixar o ritmo monótono. ‘Sully’ é visualmente impressionante, mas tem capacidade de emocionar com as rotinas de voo e histórias de passageiros – inclusive, alguns sobreviventes aparecem dando depoimentos no final do filme. Se pode parecer desmotivador já saber o desfecho da história antes mesmo de assistir, o grande sucesso do filme foi tornar tudo tão plausível.
9 - UM MOMENTO APIMENTADO: O resgate na água, com as balsas e a equipe de mergulhadores é bastante realista e emocionante.
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Belo texto Danilo,profundo,correto e muito bem escrito.