“OI, MEU NOME É LEONARD. OS MÉDICOS DISSERAM QUE EU ESTIVE AUSENTE POR MUITO TEMPO. MAS AGORA EU VOLTEI.”
Poucas coisas, no mundo do cinema, se equiparam ao prazer de assistir atores talentosos dividirem a tela em um filme. Um grande elenco facilita o trabalho do diretor e também a nossa apreciação daquilo que estamos acompanhando. Porém, existem fatores em um filme que não dependem dos atores, que pouco podem fazer em situações como estas para corrigir, salvar ou mesmo disfarçar certos detalhes da narrativa. Desta forma, assim com aconteceu em Entrevista Com O Vampiro (Interview With The Vampire: The Vampire Chronicles, 1994) e Sleepers – A Vingança Adormecida (Sleepers, 1996), Tempo de Despertar (Awakenigs, 1990) conta com um elenco de peso e uma belíssima história, mas possui uma execução falha um comando fraquíssimo por de trás das câmeras.
Em 1969, o Dr. Malcolm Sayer (Robin Williams) é um neurologista que, devido à sua inaptidão em lidar com as pessoas, jamais havia tratado nenhum paciente antes, dedicando-se às pesquisas laboratoriais. Incorporado ao corpo clínico de um grande hospital psiquiátrico, Dr. Sayer é designado para tratar de 16 pacientes catatônicos em aparente estado irreversível. Completamente desnorteado e desambientado, Dr. Sayer encontra inúmeras dificuldades em se adaptar à sua nova rotina naquele lugar até que Lucy (Alice Drummond), uma paciente recentemente chegada ao hospital, mostra sinais de interação. Intrigado, Dr. Sayer começa a interessar-se pelos demais pacientes, sendo que todos responder da mesma maneira que Lucy. Porém, um paciente em especial chama a atenção do perplexo doutor. Leonard Lowe (Robert De Niro) permanece no mesmo estado catatônico há 30 anos e embora sua mãe (Ruth Nelson) continue a tratá-lo como o bebê que era antes de ser dominado pela doença (um estágio avançadíssimo de Mal de Parkinson), parece estar tentando comunicar-se com o mundo ao seu redor. Agora, Dr. Sayer tentará de todas as maneiras despertar não só Leonard, mas todos os pacientes de seu sono involuntário e quase letárgico.
Com uma interpretação monstruosa de Robert De Niro (só não levou o Oscar por que Jeremy Irons está irrepreensível em O Reverso da Fortuna), fica difícil não se emocionar e até lacrimejar em cenas como Leonard caminhando em direção à sua mãe, com os braços abertos depois de 30 anos, ou Leonard e Paula (Penelope Ann Miller, de O Pagamento Final) dançando no refeitório do hospital ou ainda quando Leonard percebe não ser mais uma criança. De Niro realmente é o maior ator ainda vivo. Confesso que estremeci quando, em meio a uma crise de fortes espasmos, ele diz ao Dr. Sayer: “Não desista de mim!”. De arrepiar.....
Do mesmo modo, Robin Williams tem em Malcolm Sayer o típico personagem que se acostumou a interpretar e que o consagrou: o altruísta simpático e gente boa. Mas isso não é nenhum demérito, como pode ter soado. De sorriso fácil e cativante (já repeti algumas vezes que considero Robin Williams o ator mais carismático que já vi até hoje), Williams consegue conduzir muito bem o processo de ‘despertar’ de seu co-protagonista. Sim, ao meu ver, o “despertar” do título (tanto nacional quanto no original) se refere também ao comportamento recluso do Dr. Sayer. É chegada a hora de parar de fugir da sociedade, escondendo-se atrás de livros e pesquisas e começar a conviver e interagir com as pessoas ao seu redor, por mais difícil que possa parecer – ou realmente ser. Com paciência e dedicação monstruosas, Williams sai do estado de espírito inicial tímido e introspectivo de Sayer, ao determinado e obstinado, capaz de ir até as últimas conseqüências e enfrentar todos os seus medos e a incredulidade de todos ao seu redor. Um trabalho perigoso em mãos inapropriadas e/ou despreparadas, mas algo que o ator tira de letra.
Ainda temos o bom John Heard (O Dossiê Pelicano; Olhos de Serpente), a dubladora de Marge Simpson Julie Kavner (Click; Hannah e Suas Irmãs), Peter Stormare (Constantine; O Mundo Perdido – Jurrassic Park), Vin Diesel (Velozes e Furiosos; A Batalha de Riddick) - em sua primeira ponta no cinema - e o excelente Max Von Sydow (O Exorcista; O Sétimo Selo) completando o elenco extremamente competente.
Mesmo com todo este material humano e artístico em mãos, a diretora Penny Marshall (Quero Ser Grande) não consegue conduzir o drama de maneira segura e concisa, impondo um ritmo irregular ao filme. A mesma cautela mostrada no tratamento dos efeitos colaterais que tratamento traz a Leonard, não é mostrada, por exemplo, no tratamento inicial da doença, onde o controle da dosagem da medicação e seus resultados parecem apressados demais (30 anos catatônico e, de repente, Leonard sai andando e escrevendo quase que do nada). Marshall é a grande responsável pela maior parte dos problemas da narrativa, pois a história é linda e comovente, as interpretações são ótimas, a trilha acompanha bem cada estágio do processo de desenvolvimento de maneira muito eficiente e Tempo de Despertar é mais dramático e menos meloso do que outros tantos filmes do gênero. Portanto, desta vez a direção foi a grande vilã, e não o roteiro, como de costume. Aliás, Steven Zaillian, que já levou uma estatueta por A Lista De Schindler (Schindler's List, 1993) e recebeu outras duas indicações com Gagues de Nova York (Gangs of New York, 2002) e O Homem Que Mudou O Jogo (Moneyball, 2011), fez aqui seu primeiro trabalho notável (baseado no livro de Oliver Sacks), recebendo sua primeira Indicação por parte da academia. Falando de indicações ao Oscar, Tempo de Despertar foi indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (De Niro) e Melhor Roteiro Adaptado, mas acabou não levando nenhuma estatueta para casa, sendo massacrado pelo grande vencedor daquela noite, Dança Com os Lobos (Dances With Wolves, 1990), de Kevin Costner, que acabou faturando nada menos do que sete Oscars das doze indicações que recebeu!
Comovente e tocante e, principalmente, muito bem interpretado, Tempo de Despertar é um termina com um certo tom de desesperança, pois ao acompanharmos a regressão dos pacientes e a impotência do Dr. Sayer diante deste quadro, não sabemos ao certo o que sentir: felicidade pelos momentos que seu tratamento proporcionou aos pacientes, mesmo que por tão pouco tempo, ou tristeza por terem chegado tão perto da cura e não alcançado.
E a frase mais impactante do filme foi:
Dr. Sayer – “Seu filho está lutando.”
Sra. Lowe –“E ele está perdendo....”
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