O primeiro trabalho do mais misterioso cineasta estadunidense é algo a primeira vista incompreensível, desconfortavelmente incitante e bastante sensitivo. Organizar, justamente, em palavras tudo o que o filme tem a dizer não é tarefa tão fácil, e por isso estou sujeito a decorrer algo aqui e acabar não dizendo nada, mas a tentativa nunca deixa de ser válida.
Para situar as coisas, o ponto de partida. Kit (Martin Sheen), um jovem desorientado, nutre um estranho sentimento, porém verdadeiro e recíproco, por Holly (Sissy Spacek), uma garota com dez anos a menos que ele. Mas o pai da garota (o coadjuvante de luxo, Warren Oates) não aprova a relação da filha com aquele estranho rapaz. Impulsivamente Kit, então, o assassina, numa das sequências mais fundamentais do filme. Antes de disparar contra o pai da namorada, ele transparece que nunca mataria alguém, mas acaba fazendo-o com uma tranquilidade reveladora, a importância daquele momento se aplica também a Holly, sendo que nada lhe ocorre vendo o pai morto, no máximo um choque e uma indecisão momentânea. Estabelece-se então duas personalidades incomuns, Kit como um jovem sem remorsos, e claramente com problemas mentais, que age naturalmente quando mata um ser humano e Holly como uma adolescente que quer mais do que o lar a oferecia e tinha no pai algo que a sufocava e a prendia em meio às regras pré-estabelecidas da sociedade.
O ato já apresentado culmina na fuga do casal pelas estradas do país. Até que pouco a pouco vão se desprendendo do que a vida comum lhes proporcionava, e se adaptam ao ambiente, coisas como casa na arvore, esconderijos improvisados, a busca de alimentos na natureza e outros costumes que vão adquirindo com aquela experiência única. A metáfora do desapego de Malick é poderosa, remetendo também radicalmente à libertação dos moldes sociais, quando Kit passa a matar inconseqüentemente, é preciso maturidade e frieza para não levar isso ao extremo e erroneamente colocar o diretor como alguém com intenções distorcidas, obviamente.
A jornada dos dois é de uma natureza incerta, aparentemente um casal apaixonado procurando o lugar ideal para compartilharem até o fim da vida, é muito mais, bem mais subjetivo e sensitivo. Isto se explica quando Kit e Holly passam a se distanciar e inesperadamente o romance sem limites não surge ali, o que há é uma falta de paixão curiosa, todo o sentido que Malick deseja dar a historia é definido assim, o afastamento psicológico dos dois é como eles sempre estiveram em relação ao mundo, só presenciavam tudo fisicamente quando na verdade precisavam se libertar. A natureza é fundamental nesta experiência e Malick a domina em cena, a paisagem, a contemplação, ele a coloca como integrante da história, não apenas como algo a se apreciar, a dança dos jovens no meio do deserto é um momento terno, mas estão apenas sob a luz dos faróis do carro e são acompanhados pela incerteza da escuridão.
Aos poucos Holly se percebe num ambiente ao qual não pertence, Kit, o rapaz que amava, foi apenas um meio para experimentar a liberdade, mas eles não são iguais, ele tinha um futuro incerto, já ela não se adaptaria aquela vida, não era seu lugar, decide então deixá-lo. Por fim, ele se rende as autoridades facilitando sua prisão, mas, antes de o capturarem amontoa algumas pedras, pois não tiveram a libertação sonhada, mas fizeram, mesmo que por alguns dias o sonho virar realidade.
Gostei do primeiro parágrafo, o resto ficou meio descritivo de mais..