"Vamos festejar até engravidar!"
Não vou negar que é possível dar umas boas risadas ao longo desse Tirando o Atraso. Óbvio que humor é bem relativo e blá, blá, blá, mas se você consegue curtir um pouco (ou muita) de escatologia, dá pra encarar o filme comandado por Dan Mazer, que também assina o roteiro (e para você ter uma ideia do que encontra aqui, pense que Mazer participou dos roteiros de Borat e Brüno e deve ter sido responsável pelas piadas mais fracas em cada um deles - ou seja, não escreveu nada para Borat e quase todo Brüno). Porém, o filme mais deprime que diverte por nos obrigar a ver Zac Efron, um ator que consegue ser interessante quando quer, mesmo investindo sua carreira em filmes genéricos após o estouro como galã juvenil Disney em HIgh School Musical, e claro, a lenda Robert De Niro em um papel que, se não chega a constranger no nível daquele em Entrando Numa Fria Maior Ainda com A Família, ainda obriga o ator a encenar uma cena em que coloca o pênis na cara do personagem de Efron e, bem, a gente sabe que De Niro pode mais que isso mesmo no quase buraco em que anda sua carreira nos últimos anos.
O fiapo de trama que "sustenta" as piadas é o seguinte: o personagem de De Niro, Dick (sim, a intenção é justamente essa que você pensou), acabou de perder a esposa e arranja uma desculpa para fazer uma viagem com seu neto, personagem de Efron, Jason. O objetivo da viagem: se reaproximar do rapaz - o que nem é tão importante, na real -, fazê-lo deixar o jeito certinho de lado e cair na farra para descobrir que se casar com uma mulher controladora (Julianne Hough) com quem trabalha na empresa de advocacia do seu pai (papel de Dermot Mulroney) é uma má ideia, e claro, transar loucamente agora que é solteiro novamente. Logo os personagens encontram uma ex-colega (Zoey Deutch) de Jason, que está acompanhada por uma amiga (Aubrey Plaza) que deixa claro o desejo de transar com o "vovô", o que vai desencadear as "esquetes" cada vez mais improváveis que compõe o longa - sim, porque o filme não se preocupa em assumir essa postura e tratar cada cena como uma possibilidade individual de comédia, muitas sem nada a acrescentar a narrativa.
Daí vamos ver Efron acordando seminu na praia após usar sem saber uma quantidade absurda de crack; ele e De Niro disputando uma competição de músculos; e uma noite de karaokê com Dick bancando o rapper. E, sim, nós rimos dessas cenas - até porque De Niro desperdiçando seu talento ainda é um puta ator desperdiçando talento e sua performance de "It Was a Good Day" de Ice Cube, com todo cuidado ao pronunciar a palavra "niggaz" em um recinto cheio de negros é hilário -, mas se importar com os personagens, seus dilemas e a interação entre eles jamais. Aí precisamos aguentar entre as esquetes que divertem e as que não divertem (nem De Niro torna engraçados os xingamentos gratuitos ao amigo homossexual das garotas interpretado por Jeffrey Bowyer-Chapman) um draminha bobo sobre a ausência de Dick na criação do pai de Jason e sua tentativa de compensar isso com o neto ou o romancezinho que jamais parece se justificar entre o personagem de Efron e a da gracinha Deutch, já que os dois não tem química alguma.
Ou seja, no fim, Tirando o Atraso acaba sendo um amontoado de risadas descartáveis, porque não existe nada ali que possa tornar alguma piada memorável e duradoura - você pode rir demais em alguma cena, mas daqui alguns anos experimente tentar lembrar se alguma delas estará lá ao lado da briga de pelados em Borat, por exemplo -, não existe sentimento algum na coisa toda entre obra e espectador. Assim, o final acaba sendo aquela coisa óbvia e com lição de moral de sempre, e mesmo que um suspiro de comédia surja numa última piada, não nos importamos nada com a "jornada" dos protagonistas. E aí não há Zac Efron sem camisa ou Robert De Niro pronunciando "fucks" que mudem isso.
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