Woody Allen realiza mais uma obra em que roteiro e artistas estão sensacionais. Nesta comédia ele aborda a questão de que uma pessoa nasce ou não com talento. Você pode ser jogador de futebol e ter um talento enorme para desenvolver roteiros ou ser jogador de futebol e não saber jogar muito... (isso acontece tanto). O talento não se adquire. Você nasce ou não com ele. Essa é a tese de nosso diretor que divide os créditos do roteiro com Douglas McGrath.
David (John Cusack) é um escritor da Broadway nos anos 20 que após escrever algumas peças quer dirigir seu próprio material. Então seu agente Julian (Jack Warden) consegue que financiem seu projeto, porém David vem a descobrir que o produtor é na verdade um gângster chamado Nick Valenti (Joe Viterelli) e que ele quer sua namorada Olive Neal (Jennifer Tilly) em um dos papéis da peça. Além disso, ele ainda terá que admitir um dos capangas do gângster chamado Cheech (Chazz Palminteri) que irá acompanhar os ensaios da peça para tomar conta das possíveis aproximações amorosas que podem acontecer no decorrer dos ensaios à namorada de seu chefe.
Logo no início Woody Allen consegue em três cenas diferentes introduzir o filme de maneira brilhante. Na montagem, primeiro temos o artista que quer dirigir seu roteiro, segundo o capanga do gângster que diz não gostar da namorada do chefe e em terceiro o chefe que tenta agradar de todas as maneiras a namorada que não tem um pingo de veia artística. Brilhante, pois temos o filme pronto para tudo que será desenvolvido. O roteiro é sensacional e logo na primeira cena do filme nosso protagonista diz como uma auto-afirmação que ele é um artista. Ele precisa dizer e colocar para fora porque nem ele deve acreditar. Uma cena que ratifica a ausência de um artista em David é quando ele ganha uma carteira de imitação de couro, ou seja, um presente que representa algo que não é. Ao final do filme, repare qual é a penúltima fala (o que considero a última). Eu diria que é uma rima sensacional em relação ao começo.
Outro tema abordado no filme é a questão de nos identificarmos com o artista ou pelo homem. Essa questão levantada de maneira sutil no filme acaba nos fazendo refletir sobre a adoração histérica que há de algumas pessoas em relação a artistas. Será que esses fãs na hora de ver o artista sejam pelos seus atrativos de beleza ou atrativos profissionais vejam somente o artista e não procuram ver a verdadeira essência, que é na verdade o homem/mulher que está ali. Isso até se encaixa da maneira que enxergamos o próprio artista Woody Allen e o homem Woody Allen. Muitos não conseguem distinguir. Vêem nele tanto na vida quanto na tela a mesma pessoa, e então acabamos nos apaixonando, neste caso, pelo artista. Esse tema em minha opinião é abordado com a namorada de David e com ele próprio, pois os dois ficam divididos entre o artista e o homem.
Os atores com Woody Allen dificilmente apresentam uma atuação ruim. Neste filme parece que o grupo todo está maravilhosamente representado. Helen Sinclair (Dianne Wiest) é uma Norma Desmond. Dianne Wiest fez um excelente trabalho em que é um estereotipo de uma grande atriz, porém em decadência. Warner Purcell (Jim Broadbent) é implacável com seus ataques as comidas durante os intervalos. Cada um deu sua contribuição para que seja mais uma obra apaixonante do diretor.
Com todos esses atributos é difícil não gostar desse filme. Assim temos mais um filme de quem sabe fazer como ninguém o que o cinema é: arte.
http://embriagadospelocinema.blogspot.com.br/2013/06/critica-tiros-na-broadway.html
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário