SIM, A ESTRÉIA DE WALLY PFEISTER NA DIREÇÃO CARECE DE INSPIRAÇÃO E DESPERDIÇA UM ELENCO GALÁCTICO, MAS ZERO É DEMAIS, CARBONE...
Quando li a crítica do Carbone sobre Transcendence - A Revolução (Transcendence, 2014), assim como muitos, fiquei perplexo com o texto e, principalmente, a nota. Decepções nós temos todo ano, mas pra tirar um zero a coisa tem que ser feia mesmo. Longe de mim colocar-me no mesmo pedestal de alguém que é profissional na área e, muito provavelmente, estudou e tem muito mais conhecimento de cinema do que eu. Afinal, Carbone é crítico de cinema e editor de um dos maiores - se não o maior - site do gênero do país. Mas sinto-me no direito de contra-argumentar com alguns pontos que ele escreveu, exceto por um em especial: Transcendence - A Revolução é sim, um filme muito ruim.
Munido de um elenco magnífico (Johnny Depp, Rebecdca Hall, Morgan Freeman, Paul Bettany, Cilian Murphy, Cole Hauser e Clifton Collins Jr. são alguns dos nomes envolvidos), produzido pelo ovacionado (e controverso) Christopher Nolan (Interestelar) e contando com uma trama bastante interessante, que levanta questões morais, científicas e filosóficas complexas, o filme de estréia de Wally Pfeister (premiado diretor de fotografia e parceiro habitual de Nolan) falha praticamente em todos os aspectos aos quais se propunha destacar-se. As questões abordadas no filme, quase que em sua totalidade, são tratadas de forma bastante simplista e rasa. Como viveria o mundo de hoje sem a internet? Homem e máquina podem coexistir em uma fusão perfeita? Seria possível atribuir uma consciência humana à um computador? A nanotecnologia e as células tronco são a salvação da humanidade ou o próximo passo de uma evolução induzida? Essas e muitas outras questões são levantadas, mas são deixadas no ar não deliberadamente para que o espectador tire suas próprias conclusões, mas sim por que o roteiro de Jack Paglen é incapaz de respondê-las, ou mesmo teorizá-las.
Embora toda a campanha de maketing do filme traga Johnny Depp como o protagonista do longa, isso está longe de ser verdade. Depp tem uma função um pouco mais importante do que os demais coadjuvantes, possuindo o mesmo tempo em cena de Paul Bettany, por exemplo. Rebecca Hall, um oásis de interpretação em meio à toda aquela imensidão de apatia na qual o elenco se encontra, é quem protagoniza (e muito bem, diga-se de passagem) Transcendence. Pra ser sincero, os recorrentes companheiros de Nolan Cilian, Murphy e Morgan Freeman, assim como Cole Hauser e Clifton Collins Jr. estão no elenco apenas para aumentar o prestígio e a expectativa em torno do filme, pois tanto seus personagens, quanto a função dos mesmos na trama (e suas interpretações) são nulas, desnecessárias e apenas contribuem para aumentar o peso das críticas devido aos nomes dos envolvidos. Dentre os coadjuvantes, apenas os personagens de Paul Bettany e Kate Mara são úteis à trama, embora muito mal trabalhados - principalmente o da moça. Até mesmo por isso, fica difícil avaliar as atuações já que todos os personagens são unilaterais e muito mal desenvolvidos, fazendo com que uma simples atuação no piloto-automático seja o máximo que os atores possam nos oferecer em Transcendence.
O sonho do Dr. Will Carter (Depp) e de sua esposa Dra. Evelyn Carter (Hall) em conceber uma inteligência artificial tão desenvolvida que seja capaz de possuir consciência própria evoluir e expandir-se tal qual uma mente humana parecia ter ruído quando o personagem de Johnny Depp, após palestrar sobre o assunto em uma convenção para arrecadar fundos para o projeto, sofre um atentado contra sua vida e, mesmo tendo escapado do tiro disparado contra ele, não tem mais do que quatro semanas de vida devido a uma toxina radioativa inserida no projétil. Em uma tentativa desesperada de salvar seu marido, Evelyn, mesmo contra a vontade do Dr. Max Watters (Bettany) – melhor amigo do casal – resolve levar adiante o ousado projeto e transfere a consciência de Will para o computador do seu laboratório de pesquisas. Mesmo com o aparente sucesso do processo, Max não acredita que aquela visualização digital seja realmente seu bom e velho amigo, mas sim uma projeção da inteligência artificial que ACREDITA SER Will. Contra tudo e contra todos, Evelyn parte em direção a uma cidadezinha em ruínas para dar seguimento ao plano inicial de seu marido: conectar sua I.A. à internet e ter acesso e controlar tudo ao redor do mundo para, inclusive, ajudar as pessoas.
Embora meio tediosa, essa primeira parte do filme é a principal em termos de estória. É aqui que entendemos as diferenças entre as visões de Will e Evelyn sobre seu papel no mundo: ele queria compreendê-lo, ela, melhorá-lo. Há um problema grave aqui na concepção de tempo do filme. Do momento em que Evelyn parte com Will para o meio do deserto, até o início do terceiro ato, passa-se cinco anos. Não sabemos NADA do que aconteceu nesse meio-tempo. Não sabemos, por exemplo, porque o agente Buchman (Murphy) parece ter abandonado a perseguição à Evelyn. Esse buraco na estória deixa uma falsa sensação de que perdemos ou deixamos passar algo, mas na verdade, foi Pfeister quem se perdeu completamente na diegese. A segunda metade do filme serviria, em tese, para nos apresentar o quão capacitada havia se tornado a ‘’mente’’ de Will, mas não consegue avançar na narrativa e faz o filme andar em círculos, trazendo os personagens abandonados na primeira parte de volta à cena para, mais uma vez, nada acrescentarem à ela. E, por fim, a terceira e última fração do filme é onde Pfeister se perde de vez, numa fracassada tentativa de transformar Transcendence em uma aventura-ação-ficção ao melhor estilo Rebeldes x Skynet, com direito a chuva transportando nano-dados (isso mesmo) e um exército de humanos controlados feito ciborgues por Will. O filme ainda ensaia um vergonhoso esboço de religiosidade ao tratar de Will como uma espécie de Jesus Cristo do terceiro milênio ao mostrá-lo curando e aperfeiçoando (!!!) os trabalhadores do centro de pesquisa.
Sem saber a que veio, o filme de Pfeister é narrativamente um desastre, mas apresenta bons efeitos especiais e uma música razoavelmente decente, além da já citada boa performance de Rebecca Hall e um contido e burocrático, porém competente Paul Bettany. Transcendence - A Revolução deveria ter sido dirigido por Nolan e fotografado por Pfeister, pois a premissa é interessante, o elenco formidável e o potencial era enorme. Não chega à ser o desastre mencionado em todas as críticas, mas a estréia de Wally Pfeister na direção não transcendeu em nada as barreiras do comodismo do cinema de verão norte-americano. Só foi um pouco mais megalomaníaco.
Cara as críticas foram tão negativas que nem tive coragem de assistir ainda...
Dá pra ver até o fim sem problemas, Lucas. Mas é decepcionante....