DAVID O. RUSSELL RECORE À VELHOS CONHECIDOS PARA SUPORTAR UM HEIST MOVIE CHEIO DE COMÉDIA E COM UM RITMO BASTANTE AGRADÁVEL, APESAR DA FALTA DE OUSADIA
Geralmente, quando um diretor entra no projeto de um filme sobre máfia e golpistas, cheio de personagens, reviravoltas e sub-tramas, este diretor acaba recorrendo a atores com quem já trabalhou anteriormente para que estes, dada a confiabilidade que seu comandante deposita em sua capacidade, possam suportar sozinhos a carga que seus personagens exigem, deixando para a direção tempo e espaço maior para concentrar-se exclusivamente no desenrolar da trama e em sua execução. Pois bem, David O. Russell (O Vencedor) seguiu à risca a cartilha de segurança hollywoodiana e chamou Christian Bale e Amy Adams, com quem havia trabalhado em O Vencedor (2010), para viveram os protagonistas de Trapaça (American Hustler, 2013), uma bem-humorada trama policial cheia reviravoltas.
A trama mostra como o casal de vigaristas Irving Rosenfeld (Bale) e Sidney Prosser (Adams) ajudaram o investigador do FBI Richard "Richie" Damasio (Cooper) à prender dezenas de políticos corruptos, incluindo o prefeito Carmine Polito (Renner) - que na verdade não era tão corrupto e acabou sendo induzido ao erro pelos pilantras - e acabaram se envolvendo com o poderoso matador da máfia Victor Tellegio (De Niro) para a (re) implantação de Athlantic City, paraíso dos cassinos. Em meio a tudo isso, um triângulo amoroso cheio de intrigas e cinismo surge entre Irving, Sidney e Richie, assim como a instável esposa do golpista, Rosalyn (Lawrence), que além de transformar a vida familiar num turbilhão de problemas, acaba por interferir nas operações em que o marido se envolve.
Se em um filme onde todo mundo é bandido um elenco talentoso e carismático se faz necessário para sustentar não só a trama, mas também a empatia do público, Trapaça acerta em cheio. Além de Bale e Adams, Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Jermy Renner e Robert De Niro compõem o galáctico elenco. Apesar do que li sobre as interpretações do filme, confesso que pra mim elas foram boas. Nenhuma em destaque, realmente. Mas também não há aquela que decepcione. Pra se ter uma idéia, gostei até do Cooper! Detesto o ator, mas acho que aqui o oceano de talento o beneficiou - e mesmo assim sua interpretação é a mais fraca de todas, cheia de maneirismos e tiques irritantes. Meu destaque dentro do filme fica com Jennifer Lawrence, em mais uma belíssima demonstração de talento. A jovem atriz (considerada "gordinha"[!!!] em Hollywood) ainda nos apresenta seu lado femme fatale com ar de pin-up exibindo suas belas curvas com uma personagem que é, ao mesmo tempo, sensual e destrambelhadamente cômica. Adams, Bale e Renner estão competentes, mas sem o destaque habitual - talvez por isso as críticas, pois ficamos mal acostumados com o bom nível deles. De Niro, na verdade, tem pouco mais de sete ou oito minutos em cena, mas é sempre um prazer vê-lo, mesmo que em aparições relâmpago.
Com a trama ambientada na década de 70, a produção é muito boa, com cenários exuberantes e decoração de luxo, em uma direção de arte digna de nota. O figurino, alvo de muitas críticas pelo exagero, me agradou, tendo em vista que considero o filme uma comédia. É claro, a caracterização é bastante extravagante, com os personagens ostentando acessórios de ouro, roupas coloridas, permanentes, a ausência de sutiãs, as camisas abertas exibindo o peito, penteados elaborados e vestidos decotados. O ritmo imposto pela direção de Russel, que desta vez abandona a câmera na mão e mantém seu filme mais "enquadrado", é bastante agradável, sem deixar o filme se tornar cansativo, muito graças ao tom ameno e até cômico empregado pelo diretor. Trapaça é um filme de máfia sem violência. Tem dois triângulos amorosos e não possui cena de sexo. Se passa na década de 70 e quase não se vê consumo de drogas (ninguém me tira da cabeça que esta mão muito leve tem a ver com a classificação etária mais baixa do filme, o que conseqüentemente garante maior bilheteria e renda), mas talvez o filme tenha se prolongado demais. Parece que Trapaça não acaba quando deveria.
Formatado para chegar como forte concorrente ao Oscar (o que não é nenhum crime, afinal todos trabalhamos esperando premiações e promoções), Trapaça foi indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator (Bale), Atriz (Amy Adams), Ator Coadjuvante (Cooper), Atriz Coadjuvante (Lawrence), Roteiro Original, Figurino, Montagem/Edição e Melhor Produção. Acabou não levando nenhuma estatueta, vendo os favoritos da noite, Clube de Compras Dallas, Gravidade e 12 Anos de Escravidão, levarem praticamente todos os prêmios.
Mesmo não sendo aquele filme que o roteiro e o elenco prometeram, Trapaça pode ser considerado o primeiro filme verdadeiramente grandioso de David O. Russell, mesmo que essa grandiosidade seja formulaica e vise premiações. Mas pra quem já nos entregou porcarias do nível de Procurando Encrenca (1996), Hackabees - A Vida é Uma Comédia (2004) e O Lado Bom Da Vida (2012), a evolução parece ter batido à porta.
Sou fá do Russel, mas acho esse seu pior trabalho... O filme não se decide entre vários gêneros e até hoje não entendi todo o chamariz em sima da Lawrence... Gostosa pra caralho, mas como atriz ainda não a vi como melhor de sua geração... 6,5...
Eu te confesso que esperava muito mais também, Lucas, mas ainda acho os três citados no final do comentário seus piores.
Lawrence demorou a cair nas minhas graças, mas confesso que hoje gosto bastante do seu trabalho e a vejo capaz de interpretar qualquer papel.
Valeu, meu caro.