Esse foi o primeiro filme da “sessão filmes do Oscar 2018” que eu vi e já quase me arrependi de tê-lo feito. Digamos que, com poucas palavras, os filmes de hoje em dia gostam de terminar com a droga do final em aberto. Simplesmente em algumas histórias isso não funciona. Aqui isso não leva a lugar nenhum. O tal do McDonagh resolveu não terminar de desenvolver a história e puf! Corta. Aplausos. É isso aí. Mais um filme na carreira.
Vocês sabem o que eu quero dizer com isso. O filme girou em torno de si mesmo, expos as feridas dos EUA e morreu por alí mesmo, inconcluso. Basicamente a função do filme é essa: “a gente fala mal do povo todo, mostra como a realidade é feia e acaba por aí porque eu não sei onde eu quero chegar com essa história” – disse McDonagh na reunião dos realizadores antes do filme ser filmado. Daí ele enfiou no filme um debate sobre homofobia, sobre racismo, sobre machismo, sobre violência doméstica, sobre abuso de poder policial e sobre censura (etc?).
Os personagens são desenvolvidos na base da porrada (todo mundo é meio explosivo nessas cidades pequenas dos EUA, incrível). O humor negro é dos poucos resquícios que se tem notícia do desaparecido McDonagh. Eu ainda estou na dúvida se o McDonagh desse filme é o mesmo cara do In Bruges e 7 Psichopaths.
Provavelmente houve um erro. O McDonagh de In Bruges é muito mais afiado. Suas críticas são sutis e seu humor negro reina para destruir os próprios personagens ou fazer-nos rir com certa dúvida se deveríamos estar rindo disso. Fora que o McDonagh de In Bruges dirige um filme muito bem, construindo as relações dos personagens calmamente.
Basicamente isso não existe em Three billboards. Eu gostaria de ter gostado mais dos personagens (menos do Jason Dixon, interpretado pelo cara do Pânico, Sam Rockwell). Todos são personagens afetados e exagerados, com atuações dignas de Oscar. O cara do Pânico que faz o policial racista, machista, abusivo (etc) é tão forçadamente um bosta que não tem como você levá-lo a sério: é um cara que é considerado meio “lento” por todo mundo mas do nada bola um plano que põe em cheque o insolúvel crime. Enquanto isso, os outros personagens, igualmente, não são ambíguos: os você odeia ou você gosta deles. É muito bem programado: Mildred Hayes, interpretada pela McDormand, é o que todo mundo quer ser como mulher, que não aceita uma palavra machista, o exemplo de mulher capaz, forte. Apesar de seus defeitos, ela é o ideal moderno de como lidar com o Estado. O Xerife lá interpretado pelo Harrelson é um pouco mais tridimensional, pois representa o outro lado: o mocinho taxado como bad guy que sofre com a falta de ajuda de um Estado ineficiente e um bando de inúteis em sua delegacia. Daí tem também o ex marido da Mildred que só aparece pra mostrar que a vida dela sempre foi bem ruim. Ele é o personagem feito para ser odiado e humilhado pela protagonista em algum momento. Entre outros menos marcantes (desculpa Dinklage, mas se nem o McDonagh te deu o devido destaque que você como ator merecia...).
Enfim, sem querer dissertar mais, o filme é um dos favoritos desse negócio e por mim pode até continuar sendo, mas sejamos sinceros: não é o mesmo McDonagh do In Brujes.
Jason Dixons linchados em praça pública: 5/10
Minha namorada dormiu em: 5 minutos
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